quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

José Mourinho é um verdadeiro artista

A edição de hoje da France Football destaca uma grande reportagem com o treinador português José Mourinho. Trata-se de um acontecimento relevante no plano mediático porque aquela revista francesa tem uma enorme reputação no campo do futebol internacional, não só pela sua qualidade editorial, mas também porque em 1956 criou o Ballon d’Or que anualmente premiava o melhor futebolista do ano na Europa e que em 2010 se fundiu com o prémio atribuído pela FIFA para se transformar no FIFA Ballon d’Or. Não há muitos portugueses que, em qualquer domínio, tenham conseguido notoriedade internacional, mas o treinador Mourinho é um deles, tendo sido considerado pela FIFA como o melhor treinador do mundo em 2010. O seu palmarés desportivo como treinador é muito rico e inclui 20 títulos, dos quais duas Ligas dos Campeões e sete Campeonatos Nacionais  em Portugal (2), Inglaterra (2), Itália (2) e Espanha (1).
A revista classifica-o como “l’emmerdeur”, isto é, o homem que desafia, que incomoda, que cria encrencas. É, seguramente, um enorme elogio. De facto, só saem do anonimato e triunfam no competitivo mundo do futebol (como em outras actividades humanas) aqueles que desafiam os equilíbrios existentes, que são capazes de inovar e que têm a receita para mobilizar os seus públicos, quer sejam adeptos, leitores, consumidores ou eleitores. Mourinho tem sido exemplar nesse aspecto e, como diria o humorista, ele é mesmo um verdadeiro artista.

O estranho caso das contas no HSBC

Um grupo de jornalistas – o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação – com a colaboração de alguns informáticos, procederam a investigações e vieram agora revelar que o ramo suiço do banco britânico HSBC Private Bank, promovia a constituição e mantinha milhares de contas resultantes de práticas ilícitas, desde a mais usual fuga ao fisco, até ao branqueamento de capitais da mais duvidosa origem, como o tráfico de drogas e de armamento. Entre a clientela haveria empresários, políticos, desportistas e até suspeitos de ligações a actividades terroristas. O caso referia-se a 2008 e os montantes apurados superavam os 180 mil milhões de euros, o que correspondia aproximadamente ao PIB de Portugal! Já se chamou a este caso o SwissLeaks e também o HSBCLeaks, dizendo-se que se trata apenas da ponta de um iceberg.
Na clientela haveria 611 clientes portugueses ou residentes em Portugal, cujas contas ascenderiam a 856 milhões de euros, havendo uma cliente de Vila Real cuja conta ascendia a 227 milhões de euros. Hoje, o Jornal de Notícias informa sobre “três portugueses com 585 milhões em contas na Suiça”. Este caso vem demonstrar duas coisas importantes.
A primeira é que como se vê, uma vez mais, para a ganância do sistema bancário vale tudo. Porém, ainda havia quem pensasse que o sistema bancário suiço estava acima de qualquer suspeita, quando afinal se revela ainda mais ousado que os seus pares e se tornou um activo agente de práticas ilícitas.
A segunda é que foi anunciado que as autoridades nacionais já terão começado a actuar, mas o facto é que destes montantes, haverá uma parte que que terá sido regularizada através de amnistias fiscais. As autoridades não sabiam deste caso ou fizeram que não sabiam? Assim, parece ficar evidenciado que o Ministério Público dorme ou acorda quando lhe apetece.