sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Os jornais, os jornalistas e a propaganda

Nas últimas semanas, uma enorme quantidade de jornalistas e de comentadores, uns assalariados e outros contratados, vestiram a farda de caceteiros e atiraram-se ao PS e ao seu secretário-geral, papagueando insultos e insinuações. 
Durante a campanha eleitoral essa gente nunca questionou o Passos nem o Portas, nem as desgraças económicas e sociais a que conduziram o país, que com eles se tornou mais pobre e mais dependente. Obcecados, só lhes interessou confrontar o Costa com o seu programa, com os seus objectivos e com as suas intenções. Todos os dias, essa gente repetia os mesmos argumentos, as mesmas perguntas, as mesmas palavras e fazia as mesmas insinuações. Espalharam o medo e a incerteza no eleitorado. Alguns deles, acantonados nas televisões, no Observador, no Sol e em outros pasquins semelhantes, encheram páginas de artigos cirúrgicos contra o Costa e contra a mudança.
Vieram as eleições e os resultados retiraram a maioria a quem nos governava. Assim, era exigível que tendo perdido a maioria, eles procurassem um compromisso para se manterem no poder, assumindo com humildade a sua nova condição. As partes não chegaram a acordo porque quem tinha que ceder não cedeu, mas o ambiente foi uma vez mais perturbado pelos mesmos jornalistas e comentadores que se voltaram a mobilizar para criar uma onda de dúvida e de temor na opinião pública e para continuar a difamar o PS e o seu secretário-geral. E tantas vezes repetem as mesmas mentiras, as mesmas inverdades ou as suas maliciosas opiniões, que toda essa manipulação passa a ser uma verdade quase absoluta para a opinião pública cansada e anestesiada. Tudo isto é feito de uma forma perversa, porque essa gente aprendeu que uma mentira mil vezes repetida se torna numa verdade inquestionável, como lhes ensinou Joseph Goebbels. É isto que se passa, com esta miserável gente a perder toda a honorabilidade e sujeitar-se a este papel de caluniadores sem escrúpulos. A política não pode ser assim. E agora temos o paradoxo de ver quem esteve na Alameda em 1975, ser considerado como um perigoso esquerdista e a pôr em causa os nossos compromissos internacionais. Força António Costa!

Cavaco e um discurso que nos envergonha

Ontem, o indivíduo que  exerce as funções de Presidente da República Portuguesa anunciou a indigitação do actual primeiro-ministro para formar governo, pois o seu partido foi o mais votado nas eleições de 4 de Outubro. Foi uma decisão esperada e legítima, apesar de haver muitas vozes a afirmar que “foi uma perda de tempo”. Poderia ter ficado por aí, mas o homem que veio de Boliqueime quis ir mais longe ao renunciar ao seu papel de árbitro e ao acrescentar à sua mensagem algumas verdadeiras barbaridades. Como se costuma dizer, em vez de pacificar a complexa situação que atravessamos, lançou muita gasolina para a fogueira da disputa partidária. Foi um péssimo e lamentável serviço ao país. Tirou a máscara da neutralidade e da imparcialidade e, nesta hora difícil, revelou estar ao serviço do seu partido e refém dos seus ódios, que aliás já revelara no seu famoso discurso de posse.
O que Cavaco disse revelou a pequenez de um homem e a sua definitiva incompreensão quanto ao papel de moderador que os portugueses lhe confiaram. Sem disfarçar a sua fúria, Cavaco espumou e fez afirmações de grande gravidade contra a esquerda portuguesa, que contabiliza agora 62% dos votos do eleitorado, quase lançando para a “clandestinidade” o PCP e o BE e, como escreveu um comentador, só faltando mandar avançar as canhoneiras contra a Soeiro Pereira Gomes e a Rua da Palma e, cercar o Largo do Rato para vergar o PS, acrescento eu. O indivíduo não se ficou por aí e desatou a mostrar a sua fúria contra o PS por não ter chegado a acordo com o PSD e a sua sanguessuga. No seu partido só esses génios da boçalidade que são Marco António Costa e Luís Montenegro tinham ido tão longe. Depois, de uma forma grosseira, antidemocrática e anticonstitucional, decidiu intervir com uma desapropriada pressão sobre o Parlamento no sentido de aliciar ou convencer alguns dos deputados do PS a aprovar o programa do do PSD e da sua sanguessuga e a votar contra o seu compromisso eleitoral.
Foi um discurso desapropriado e que nos envergonha. E ainda teremos Cavaco por mais 91 dias!