Uma das questões
que tem provocado mais ruido na discussão pré-eleitoral em que a política
portuguesa está envolvida é a de saber quem chamou a troika e quem assinou o Memorando de Entendimento. Se em relação
ao Memorando assinado no dia 17 de Maio de 2011 todos nos lembramos de ver
Eduardo Catroga a participar em reuniões acompanhado pelo actual Comissário
Moedas e a afirmar que o nosso problema eram apenas as “gorduras do Estado”, já
em relação à vinda da troika podia
haver dúvidas. Sabemos que a Comissão Europeia de Durão Barroso e o BCE de
Jean-Claude Trichet saudaram e apoiaram o PEC4, que teria permitido enfrentar
as dificuldades, evitar o resgate e a vinda da troika com o seu programa que nos humilhou, mas esse documento veio
a ser chumbado no Parlamento pela oposição. Sabemos que esse chumbo levou à
queda do governo no dia 23 de Março de 2011. Hoje, ficamos a saber, através de
uma carta divulgada pelo jornal Público que, no dia 31 de Março de 2011, Passos
Coelho se dirigiu ao então Primeiro-Ministro já demissionário e lhe afirmou que
o seu partido “não deixará de apoiar o
recurso aos mecanismos financeiros externos, nomeadamente em matéria de
facilidade de crédito para apoio à balança de pagamentos”. Para quem tem
repetidamente afirmado nada ter a ver com a vinda da troika, nem com o conteúdo do Memorando, esta carta e as imagens da
televisão de que nos recordamos, confirmam como este homem vive num mundo de
continuada mentira. Fica demonstrado que, depois de chumbar o PEC 4 e a
solução negociada que Barroso, Trichet e Merkel apoiavam, uma semana depois
já afirmava que não deixaria de apoiar a vinda da troika, quando o governo já demissionário ainda estava atordoado
pelo chumbo do PEC 4. Era seguramente o que ele queria. Parece, pois, que foi Passos quem primeiro falou do
auxílio externo ou da vinda da troika.
De resto, é evidente que a troika só
viria para Portugal se os dois grandes partidos estivessem de acordo e até nem
é importante saber qual foi o menino que primeiro levantou o dedo. O resto é
conversa.