quinta-feira, 27 de outubro de 2022

O presidente é um incontinente verbal

Expresso, 21 de Outubro de 2022
O cartoonista António, nome artístico de António Moreira Antunes é reconhecido como um talentoso caricaturista político português, cujo nome artístico é apenas António e que tem uma extensa obra publicada regularmente na nossa imprensa. Porém, em 2012 foi convidado para desenhar as caricaturas de mais de cinquenta personalidades da vida portuguesa destinadas à decoração da estação do Metropolitano de Lisboa no Aeroporto e esse trabalho é, porventura, a sua obra mais apreciada.
Na última edição do semanário Expresso foi publicado um cartoon com a sua assinatura e que se intitula “O incontinente”. Nesse cartoon, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa vomita letras e palavras, mostrando-se um incontinente que tudo comenta e a qualquer hora, tanto em Portugal como no estrangeiro. Comenta a política e o futebol, a meteorologia e os festivais, a economia e os casos judiciais, os acidentes e a política internacional. Tanta opinião cansa. Fala do que não devia. Viaja demais e nunca se esquece de levar consigo microfones e cornetas. Com tantas aparições, quase sempre diz vulgaridades ou banalidades, como “ninguém está acima da lei”, ou comenta taxas de juro, estratégia militar, incêndios florestais e orçamento do Estado, quando este ainda está em discussão no lugar próprio que é o Parlamento. É um exagero. É um protagonismo desproporcionado e até ilegítimo. Os seus serviços anunciam os locais e as horas onde Sua Excelência aparece e, ao ver microfones ou câmaras, não resiste. Se vê telemóveis aproveita para se expor ou para tirar as suas próprias selfies. Antigamente, era comentador num só canal televisivo, mas agora comenta em todos os canais, jornais e redes sociais. É um caso extremo de incontinência comunicacional como escreveu Eduardo Cintra Torres, ou como caricaturou António. Sem dúvida.