Ontem,
finalmente, a Primeira Ministra britânica falou sobre o Brexit e, segundo os
comentadores, foi um discurso destinado a sossegar aqueles que acusavam Theresa
May de não ter um plano para as negociações de saída da União Europeia e de não estar a cumprir o seu
mandato, mas eu acho que também foi um discurso para agradar a Donald Trump. Todos
os jornais ingleses destacaram a dureza do discurso de May, a lembrar os tempos de Margaret Thatcher.
O
facto é que os resultados do referendo ainda não foram “digeridos” pelos
britânicos e que muita gente pensa que o processo aberto com o referendo
realizado no dia 23 de Junho ainda poderá ser invertido. Nesse referendo que
ditou a saída do Reino Unido da União Europeia, houve 53,4 % dos eleitores que escolheram
o Leave e 46,6% que votaram no Remain. Porém, é preciso ter presente
que o Remain ganhou na Escócia com
62% e na Irlanda do Norte com 55,8%, isto é, o Leave ganhou na Inglaterra e no País de Gales, enquanto o Remain ganhou na Escócia e na Irlanda do
Norte. O Reino Unido mostrou-se muito desunido.
Assim,
como é sabido, o problema não se coloca apenas nas negociações com a União
Europeia que decorrerão depois do Reino Unido invocar o artigo 50º do Tratado de
Lisboa, mas são também um grande problema interno, sobretudo porque já se
adivinha um novo referendo na Escócia que pode desmembrar o Reino Unido.
Theresa
May falou com firmeza, mas não deixou de afirmar que “queremos comprar os vossos produtos e vender-vos os
nossos, num comércio tão livre quanto possível”. Curiosamente (ou não) falou com
voz grossa na véspera da tomada de posse de Donald Trump, o que também é um
sinal de que quer parcerias e as boas graças dos americanos e, obviamente, também é um sinal de insegurança.
O futuro dirá o que vai
acontecer, mas esta aliança Trump-May pode trazer muitos problemas à Europa.