O Coronel Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho faleceu esta manhã em Lisboa no Hospital das Forças Armadas. Tinha 84 anos de idade e não resistiu a uma crise cardíaca. Depois do curso liceal frequentou a
Academia Militar, tendo cumprido comissões de serviço durante a guerra colonial,
em Angola de 1961 a 1963 e de 1965 a 1967, seguindo-se uma comissão na Guiné entre 1970 e 1973. Porém, foi o seu
relevante papel na revolução de 25 de Abril de 1974 que o tornou uma destacada
figura da vida política portuguesa da segunda metade do século XX. Foi o
responsável pela estratégia militar e pelo sector operacional da Comissão
Coordenadora do MFA (Movimento das Forças Armadas), tendo planeado e dirigido
as operações que levaram à queda da ditadura do Estado Novo, a partir do posto
de comando instalado no Quartel da Pontinha, em Lisboa. Tornou-se, a par de Fernando Salgueiro Maia, um dos mais destacados símbolos da Revolução dos Cravos, que
restituiu a Liberdade e a Democracia aos portugueses, que pôs fim a 13 anos de guerra colonial e que nos abriu as portas da Europa.
As difíceis
circunstâncias que se seguiram à proclamação do MFA – democratizar,
descolonizar e desenvolver – deram origem a graves perturbações políticas e
sociais e Otelo Saraiva de Carvalho tornou-se uma figura muito polémica. Graduado
em brigadeiro, foi designado para comandar o COPCON (Comando Operacional do
Continente) e, depois de ter sido derrotado nos acontecimentos de 25 de
Novembro de 1975, foi conotado com movimentos radicais e organizações
terroristas, pelo que veio a ser condenado a 15 anos de prisão, mas em 1991
recebeu um indulto e, a pedido do Presidente Mário Soares, foi amnistiado em
1996. Antes, tinha sido candidato nas eleições para a Presidência da República em
1976 e em 1980.
Otelo serviu o país e não se serviu, como fizeram muitos dos que agora o evocam. O seu
relevante papel na queda do regime do Estado Novo tornam-no uma figura central
da vida política portuguesa da segunda metade do século XX. Entre 1971 e 1973
privei com Otelo na Guiné, sobretudo nas tertúlias de bridge em Bissau, em casa de um amigo comum, guardando dele uma boa
recordação. Por isso e pelo que fez naquela “madrugada que eu esperava”,
naquele “dia inicial inteiro e limpo”, como escreveu Sophia de Mello Breyner, aqui
lhe presto a minha homenagem.