quarta-feira, 20 de abril de 2016

Um veleiro mostra a outra face do Brasil

Nos últimos tempos as notícias que nos chegam do Brasil são alarmantes, não só pela crise económica e social que se está a aprofundar, mas também pela tensão política que está a dividir o país. As cenas absolutamente condenáveis a que assistimos pela televisão são indignas de um qualquer país democrático e não se enquadram em nenhum quadro constitucional. Goste-se ou não de um Presidente da República, a Presidente da República Federativa do Brasil é um símbolo da nação brasileira e resultou da escolha do povo em eleições livres. No exercício das suas funções, pode ou não ter cometido ilegalidades, pode ou não ser destituida, mas a sua figura não pode ser julgada e insultada num ambiente em que os deputados, muitos deles acusados de corrupção e de enriquecimento ilícito, se comportaram como se pertencessem a uma vulgar torcida de futebol ou a um bando de malfeitores.
Nesse ambiente de grande tensão, a notícia que hoje nos chega de Porto Alegre através do diário ZH é bastante desanuviadora: o veleiro Cisne Branco, a que o jornal chama “embaixada flutuante” vai estar no cais de Porto Alegre e vai poder ser visitado pela população nos próximos dias. O navio pertence à Marinha do Brasil, foi construido nos estaleiros Damen Shipyard em Amesterdão e foi encomendado para as comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil, tendo entrado ao serviço no ano de 2000. Actualmente, representa o Brasil em eventos náuticos nacionais e internacionais, podendo ser utilizado como navio-escola. Se os deputados brasileiros pudessem visitar o Cisne Branco e inspirar-se no seu simbolismo histórico-cultural, certamente sentiriam um brutal arrepio pelo seu lamentável comportamento que envergonhou o Brasil e talvez aprendessem a tomar as suas legítimas decisões de forma ordeira e sem ofender a dignidade presidencial.

A espanholização da banca portuguesa

O diário económico espanhol Cinco Dias anunciou que a banca portuguesa está mais espanhola, antecipando já que a oferta pública de aquisição (OPA) do banco CaixaBank sobre o português BPI vai ser bem sucedida. A confirmar-se essa operação, depois do Banif ter sido engolido pelo Santander, teremos mais um passo no sentido da chamada espanholização da banca portuguesa.
Porém, o assunto é muito complexo e muito confuso para quem não acompanha as negociatas da finança, porque envolve muita gente. Tudo começou com o BCE a impor as regras da harmonização bancária da União Europeia e a exigir que os dois principais accionistas do BPI, respectivamente o espanhol CaixaBank (44,09%) e a angolana Santoro Finance, Prestação de Serviços (18,57%) se entendessem em relação ao exercício do poder no governo do banco, um problema que interessa à economia e ao sistema financeiro português. Tudo parecia correr bem. A Santoro Finance cedia a sua participação ao CaixaBank e a Santoro Finance ficava com a posição indirecta que o CaixaBank tem no banco angolano BFA. Era uma quase troca e as autoridades portuguesas festejaram o bom sucesso do entendimento e o fim da guerra pela disputa no BPI, mas foi sol de pouca duração. Poucos dias depois a Santoro Finance veio recusar o acordo, quando a imprensa angolana já anunciava que “Isabel dos Santos era maioritária no BFA” e a imprensa espanhola anunciava o domínio do BPI pelo Caixa Bank. Então, o CaixaBank arrancou com uma OPA sobre o BPI e começou a tratar de arranjar 1600 milhões de euros para o efeito, enquanto a Santoro Finance terá dado um passo atrás e já admitiu voltar à mesa das negociações. É preciso que o bom senso regresse, mas não há dúvidas que a “nossa” banca só nos dá dores de cabeça. E não deixa de ser curioso lembrar a arrogância com que essa mesma banca sempre nos tratou nos tempos das vacas gordas.