quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

O protesto dos agricultores franceses

Provavelmente, a França é o país do mundo onde mais se protesta, muitas vezes de forma violenta, talvez porque o vírus revolucionário de 1789 ainda continua activo...
O protesto dos franceses pode ser mais ou menos justo, mas é sempre de grande intensidade mobilizadora para agricultores, operários metalúrgicos ou estudantes, com a marca do Maio de 1968 a permanecer viva nos espíritos, tanto pela sua origem e natureza, como pela sua repercussão mundial. 
Mais recentemente aconteceu o ”Mouvement des Gilets jaunes” a queixar-se da inflação e do custo de vida e, agora, surgiu o movimento dos agricultores franceses que, aos milhares, estão a marchar para Paris, entupindo a maioria das grandes estradas, ameaçando paralisar Paris e a própria França.
A França é o maior produtor agrícola da Europa e o actual protesto dos agricultores assenta em motivações internas relacionadas com os custos de produção e os efeitos inflacionistas, assim como com a quebra de rendimentos, as baixas pensões, o excesso de regulamentações e de burocracia, o fim dos benefícios fiscais para a compra do gasóleo agrícola e, em grande medida, com a concorrência estrangeira. Os agricultores franceses protestam contra as importações de bens agrícolas vindas da Ucrânia, um tema que também afecta os polacos e os romenos, que estão a deixá-los muito descontentes por considerarem tratar-se de protecionismo injustificado e concorrência desleal. Da mesma forma, as negociações da União Europeia com o Mercosur, a comunidade económica da América do Sul, também preocupam os agricultores franceses.
Embora de forma algo metafórica, o jornal Le Télegramme, que é o principal diário da Bretanha, destacava na sua edição de ontem que “Paris estava cercada”. Ainda não está, mas as movimentações dos agricultores franceses parecem já estar a contagiar outros países da União Europeia.

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

A independência do Texas? Já há o Texit...

Na sua última edição, a conceituada revista americana Newsweek dedica uma parte do seu conteúdo a um problema pouco conhecido, que é o movimento separatista texano encabeçado pelo Texas Nationalist Movement (TNM), um grupo que tem feito campanha para que o estado do Texas se separe dos Estados Unidos e se torne um país independente. Já está criada a abreviatura Texit, por semelhança com o Brexit.
O Texas é, depois do Alaska, o maior estado americano e, depois da Califórnia, o mais populoso dos 50 estados da União, com os seus 29 milhões de habitantes. Foi explorado e colonizado pela Espanha, passou a ser controlado pelo México quando este país se tornou independente e, em 1839, tornou-se uma república independente, embora em 1845 se tivesse tornado o vigésimo oitavo estado dos Estados Unidos. Desse tempo ficou-lhe a designação de Lone Star State ou Estado da Estrela Solitária, como memória da sua luta pela independência do México e da sua bandeira com uma só estrela.
No passado mês de dezembro, o TNM entregou uma petição com 139.456 assinaturas exigindo que fosse incluído nas eleições primárias de março de 2024 um referendo consultivo sobre a independência do Texas, mas essa petição foi rejeitada por ter sido apresentada com atraso e porque a grande maioria das assinaturas da petição eram inválidas. Escreveu-se então que “o plano de independência do Texas sofreu um grande golpe”.
Mais recentemente, o Supremo Tribunal Federal autorizou que “as autoridades federais removessem partes de uma barreira de arame farpado que o governo do Texas havia erguido ao longo da fronteira com o México”. O governo do Texas contestou essa decisão e considerou tratar-se de uma afronta à Texas National Guard, afirmando que o governo do Texas tem a autoridade constitucional para proteger a sua fronteira. A colisão entre a visão federal e a visão estadual tem-se acentuado.
Entretanto Daniel Miller, que é o líder do TNM, prevê "um referendo de independência bem-sucedido que conduza a um processo de negociação entre Austin e Washington, originando dois países independentes mas estreitamente ligados", embora também afirme que isso só venha a acontecer daqui a trinta anos.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

O SNS e a crise nos serviços de saúde

Nas sociedades democráticas como é a sociedade portuguesa desde 1974, os direitos dos cidadãos têm expressão constitucional e, entre outros, os direitos sindicais são respeitados. Utilizando esse direito e através dos seus sindicatos, as corporações profissionais dos médicos, dos enfermeiros, dos professores, dos polícias e de outras corporações com capacidade reivindicativa, procuram melhorar as suas condições salariais, mas o facto é que “as necessidades são ilimitadas mas os recursos são escassos”, isto é, nem sempre é possível satisfazer as reivindicações por mais justas que sejam. No caso dos médicos e dos outros profissionais de saúde, que são o sustentáculo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), o problema parece ser bem complexo devido ao aparecimento da concorrência dos hospitais privados, ao duplo emprego dos profissionais, ao aumento exponencial da procura dos serviços de urgência e a outros condicionamentos. Quando acontecem os picos de covid ou da gripe a situação torna-se bem mais grave. Porém, nunca o SNS teve tanto dinheiro como agora, o que parece indiciar que estamos perante um caso de má organização e de péssima gestão! Queixam-se muitos utentes que o SNS funciona mal e que obriga a largos tempos de espera nas urgências hospitalares, o que é logo aproveitado pelas televisões para fazer o seu trabalho de propagandear o que está mal e ignorar o que está bem, isto é, as televisões seguem a regra em que a notícia é ”o homem que morde o cão e não o cão que morde o homem”. Com a aproximação de eleições, porque o assunto é importante, é colocado no topo da agenda mediática, entrando-se no campo da demagogia e dos demagogos.
O problema existe e é preocupante, mas não é exclusivo de Portugal. Ontem, o jornal Le Parisien dedicou uma larga reportagem aos hospitais e ao “l’enfer aux urgences” francesas e, tudo o que lá está escrito, mostra que o nosso SNS compara para melhor com os serviços de saúde franceses e, como já era sabido, também com o National Health Service (NHS) inglês. Viva o SNS!

domingo, 28 de janeiro de 2024

Bens culturais e as releituras da História

As eleições parlamentares espanholas de 23 de julho deram a vitória ao PP de Alberto Núñez Feijóo, mas foi o PSOE de Pedro Sánchez que veio a ser investido como primeiro-ministro por ter conseguido formar uma coligação maioritária com a plataforma de esquerda Somar, a que se associaram os independentistas e os nacionalistas. Esta solução é muito controversa por incluir ou ter o apoio dos separatistas catalães, mas dela resultou um governo que tomou posse no dia 21 de novembro e tem sido muito criticado por juntar gente de bem diferentes ideologias.
Esse governo de 22 ministros inclui Ernest Urtasun, que é o ministro da Cultura e que foi indicado pela plataforma Somar, o qual se apresenta com um programa audacioso. Assim, já tratou de ordenar que os 17 museus nacionais que são tutelados pelo governo espanhol, revejam as suas colecções e adaptem a sua programação a uma narrativa que permita “superar um enquadramento colonial ou enraizado em hábitos etnocêntricos que tantas vezes prejudicaram a forma como se vê o património, a história e as heranças artísticas”. Porém, associado a esta “nova leitura” do património museológico espanhol, também está a questão da restituição de bens culturais às antigas colónias, que é um assunto sensível e que vem preocupando vários países europeus.
Na sua edição de Sevilha, o jornal ABC trata hoje deste assunto, designa-o como o “Plan de descolonización del Gobierno” e inclui vários depoimentos em defesa de uma das 17 instituições-alvo: o famoso e emblemático Archivo General de Indias. Este arquivo está instalado em Sevilha e foi criado em 1785 para centralizar e organizar a vasta quantidade de documentação relativa ao império colonial espanhol. Em 1987 o Archivo de Indias, a Catedral e o Alcazar de Sevilha foram inscritos na World Heritage List da Unesco e, segundo alguns especialistas, esta classificação não autoriza o ministro Ernest Urtasun a tomar quaisquer medidas em relação ao mais importante arquivo histórico espanhol.
Porém, este assunto vai ter desenvolvimentos e não deixará de chegar a Portugal.

sábado, 27 de janeiro de 2024

Israel foi obrigado a prevenir o genocídio

O Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) vinha apreciando uma queixa feita no passado mês de Dezembro pela República da África do Sul contra o Estado de Israel, por este estar a violar a Convenção das Nações Unidas sobre o Genocídio, assinada em 1948 na sequência do Holocausto.
O TIJ aprecia e resolve diferendos entre países, sendo as suas decisões juridicamente vinculativas e não passíveis de recurso, mas não tem quaisquer meios para impor o seu cumprimento.
No caso agora analisado, o colectivo de 17 juízes presidido pela americana Joan Donoghue, reuniu para se pronunciar sobre o pedido de medidas urgentes contra Israel, exigidas pelas autoridades de Pretoria, vindo a pronunciar-se no sentido de ser garantida a protecção dos palestinianos da Faixa de Gaza de possíveis violações da Convenção, decretando ainda que Israel tome medidas para “prevenir o genocídio” e permitir a prestação de serviços básicos e de assistência humanitária urgentes. Com esta decisão do TIJ os palestinianos viram reconhecidos os seus direitos, enquanto o Estado de Israel ficou obrigado a fazer tudo para prevenir o genocídio e permitir a ajuda humanitária “imediata e eficaz”.
Benjamin Netanyahu já declarou que não se sente obrigado a cumprir ordens do TIJ pois, segundo disse, "ninguém nos deterá, nem Haia, nem o Eixo do Mal, nem ninguém". Porém, a decisão do TIJ contra Israel vai esclarecer muita gente, incluindo os seus amigos falcões que tanto o apoiam, podendo aumentar a pressão política sobre o governo israelita e servir de pretexto para a imposição de sanções internacionais ao governo de Telavive. 
O jornal britânico The Guardian foi um dos muitos jornais internacionais que destacou a decisão do TIJ.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

O farol da Guia é um ícone a preservar

Há cerca de uma semana publicamos aqui uma informação relativa à aprovação do Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau, destinado a proteger o conjunto de edifícios e espaços urbanos macaenses que está classificado e inscrito na World Heritage List da Unesco. Esse plano tinha como principal objectivo a limitação de construções que possam afectar os “corredores visuais” entre o centro histórico e a paisagem marítima, dando uma maior importância ao farol da Guia, construído em 1865 no interior da fortaleza da Guia e que é o mais antigo farol da costa chinesa. Acontece que no ano de 2008, o governo de Macau com o apoio da Unesco, decidiu que um edifício a construir na calçada do Gaio, nas proximidades do farol, deveria ter 52,5 metros de altura, mas o facto é que atingiu 81 metros de altura, afectando os “corredores visuais” estabelecidos e atropelando as decisões do próprio governo.
O Grupo para a Salvaguarda do Farol da Guia está desapontado com a situação e tratou de reclamar junto do governo de Macau por ter cedido a interesses imobiliários e não ter cumprido a promessa de reduzir a altura do referido edifício inacabado. Além disso, aquele Grupo também repudia a atitude da própria Unesco, que tem negado o acesso aos relatórios de avaliação técnica que tem produzido e que envia para o governo sem lhes dar qualquer publicidade, parecendo mais apostada em manter boa relação com as autoridades macaenses do que na efectiva defesa do património.
Todos os jornais de língua portuguesa de Macau, designadamente o jornal Tribuna de Macau, conhecido pela sua sigla jtm, apoiam as teses do Grupo para a Salvaguarda do Farol da Guia, defendem a preservação simbólica do farol e publicam a sua fotografia com destaque de primeira página, alertando para o facto do belo farol da Guia correr sérios riscos de ficar “submerso” no mar de arranha-céus macaense.
A ser assim, a memória histórica portuguesa em Macau, que o tempo vai apagando lentamente, iria tornar-se ainda mais ténue.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

A crise de Gaza e o modo de vida europeu

A brutal agressão das forças israelitas que está em curso em Gaza e em menor grau na Cisjordânia, tem gerado acusações de genocídio, porquanto já causou a morte de milhares de palestinianos inocentes e a destruição material do património construído na Faixa de Gaza, além de propagar a fome, a doença e a miséria, ao gerar uma multidão de refugiados. Esta grave situação de violência afecta todo o Médio Oriente, mas também tem efeitos fora da região, como hoje revela o jornal Le Parisien que divulga um relatório do Conseil Représentatif des Institutions juives de France (Crif).
Segundo este relatório, verifica-se uma “explosão” de actos antisemitas em França, que aumentaram de 436 em 2022 para 1.676 em 2023, isto é, num ano foram multiplicados por quatro. Porém, o mesmo relatório do Crif informa que aqueles actos aumentaram de maneira exponencial desde o passado dia 7 de Outubro, porque entre Outubro e Dezembro foram registados 1.242 actos antisemitas em França, tantos como nos três anos precedentes acumulados, isto é, desde o dia 7 de Outubro a referida “explosão” traduziu-se num aumento de 1.000%.
A apatia, a indiferença e a insensibilidade europeias sobre o que se está a passar no Médio Oriente são graves. A Europa começou por apoiar o “direito de Israel se defender”, depois mostrou muita cumplicidade com a vingança israelita contra o Hamas e só agora começa a perceber as intransigentes intenções israelitas, talvez porque também só agora começa a ver que a crise palestiniana pode chegar às cidades europeias e afectar o modo de vida dos europeus. Provavelmente, os dirigentes europeus não sabem que nas cidades europeias vivem muitos judeus e muitos palestinianos...

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Grandes exposições de regresso a Lisboa

Frontispício do catálogo da exposição
Depois do sucesso internacional que foi a Expo 98, a cidade de Lisboa entrou no calendário cultural europeu por via de grandes exposições e de grandes concertos, tendo havido quem dissesse que não era necessário ir a Paris, Londres ou Berlim para acompanhar a melhor oferta cultural europeia. Porém, esse dinamismo cultural quebrou com a crise do covid 19, mas parece ter reaparecido recentemente. 
Por iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian, desde o dia 10 de Novembro que na sua galeria principal de exposições do edifício-sede, está patente a exposição “O Tesouro dos Reis. Obras-primas do Terra Sancta Museum”, organizada pelo Museu Calouste Gulbenkian em colaboração com o Terra Sancta Museum de Jerusalém. A exposição mostra uma parte do tesouro artístico do Terra Sancta Museum, constituído por doações feitas por monarcas católicos europeus a várias igrejas da Palestina, incluindo a Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém. Na tradição cristã, este templo é o local da morte, sepultura e ressureição de Jesus de Nazaré e o envio de ofertas significava a devoção católica dos monarcas europeus, mas também a exibição do seu poder. Assim, diversos soberanos, como Filipe II de Espanha, Luís XIV de França, João V de Portugal, Carlos VII de Nápoles ou Maria Teresa de Áustria, enviaram importantes recursos materiais e financeiros destinados ao sustento das igrejas e comunidades locais, mas também objectos artísticos, tais como ourivesaria, pintura, escultura, têxteis, mobiliário e moedas de ouro, entre outras preciosidades. Como alguém escreveu, são “mil anos de história”, mas também da história da arte.
A exposição é servida por um excelente catálogo de 288 páginas e estará patente até ao dia 26 de Fevereiro, seguindo depois para Santiago de Compostela, Florença e Nova Iorque.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

A voz de Guterres e a paz na Palestina

No conflito que perturba o mundo e que, desde há mais de três meses, tem levado a mais completa destruição à Faixa de Gaza e que já causou a morte de mais de 25 mil palestinianos, sobretudo mulheres e crianças, tem-se destacado a voz de um português que desempenha as funções de Secretário-Geral das Nações Unidas.
António Guterres tem reclamado como ninguém pelo cessar-fogo e pela paz. Logo no início do conflito teve a coragem de afirmar numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que era importante reconhecer que os ataques do Hamas “não aconteceram do nada”, porque o povo palestiniano “foi sujeito a 56 anos de ocupação sufocante”, tendo visto "as suas terras serem continuamente devoradas por colonatos e assoladas pela violência, a sua economia sufocada, as suas pessoas a serem deslocadas e as suas casas a serem demolidas”. A Europa calou-se e só a Espanha aplaudiu Guterres, enquanto em Portugal até houve alguns miseráveis comentadores avençados que o criticaram.
Desde o primeiro dia, a Europa poderia ter procurado arbitrar o conflito, mas preferiu alinhar num dos lados porque “Israel tinha o direito de se defender”, como disseram vários dos seus líderes e foi repetido por essa espécie de diplomata que é o insignificante Cravinho. A indiferença europeia em relação ao que se passa no Médio Oriente, bem como a sua aparente cumplicidade com o extremismo de Benjamin Netanyahu, mostram como a Europa está sem rumo e como a parelha Charles Michel-Ursula von der Leyen é demasiado medíocre e não presta.
Neste quadro, o jornal The National que se publica na cidade de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, publica na sua edição de hoje uma fotografia a cinco colunas de António Guterres e destaca uma das frases que ele mais tem repetido: “Temos que impedir que se inflame o barril de pólvora que é o Médio Oriente”.
Aos poucos, começa a haver quem se assuste com o que pode acontecer no Médio Oriente e que já compreende que a solução destes conflitos é política e não militar.

sábado, 20 de janeiro de 2024

Golos com os pés e... golos com as mãos

A selecção nacional de andebol está a disputar o Men’s EHF Euro 2004 Handball, ou Campeonato da Europa de Andebol Masculino, que está a decorrer em várias cidades da Alemanha. Na fase preliminar a equipa portuguesa derrotou a Grécia por 31-24 e a República Checa por 30-27, tendo perdido com a Dinamarca. Foi uma das doze equipas que passou à main round e, nesta fase, começou por bater a Noruega por 37-32, tendo ontem derrotado a equipa da Eslovénia por 33-30. Ainda vai defrontar a Suécia e os Países Baixos, mas está bem colocada para atingir as finais a disputar em Colónia e com boas possibilidades para se apurar para os Jogos Olímpicos de Paris, o que seria um feito inédito.
Os jogos da selecção nacional têm sido transmitidos pela RTP2 e têm constituído excelentes espectáculos televisivos, para além de suscitarem o entusiasmo dos adeptos desportivos, porque não é habitual que o nosso desporto tenha tão boas prestações internacionais.
Depois da excelência da exibição de ontem frente à Eslovénia, à qual a selecção nacional não ganhava há treze anos, fiquei na expectativa de ver essa tão invulgar notícia desportiva plasmada na nossa imprensa generalista e, em especial, na imprensa desportiva. Puro engano. Só os jornais desportivos fazem uma discreta referência de primeira página ao resultado do jogo com a Eslovénia. No caso do jornal A Bola, que se afirma “jornal de todos os desportos”, todo o destaque vai para um jogador argentino e outro brasileiro que marcaram os golos com que o Benfica ganhou ao Boavista, mas os seus concorrentes seguem o mesmo caminho nas suas linhas editoriais.
Alguém imaginava que um jogo de futebol entre o Benfica e o Boavista pudesse merecer mais destaque noticioso que uma brilhante vitória num jogo de andebol entre Portugal e a Eslovénia? Será que os golos com os pés valem mais do que os golos com as mãos?
Os jornais e os jornalistas são mesmo um mundo muito estranho!

O possível regresso de Trump e o futuro

Os resultados das eleições primárias no estado de Iowa parecem ter alarmado o mundo e há quem afirme que Donald Trump irá assegurar rapidamente a sua nomeação como candidato do Partido Republicano às eleições presidenciais americanas do próximo dia 5 de Novembro. Em paralelo, as sondagens que vão sendo conhecidas indicam que ele vai à frente na corrida presidencial e, portanto, começa a desenhar-se o regresso de Donald Trump à Casa Branca. Perante este quadro, a edição de hoje do semanário alemão Der Spiegel, que é uma das maiores revistas europeias, não hesita em apresentá-lo como o favorito dos americanos, mas também como um ditador.
A ser assim, a América e o mundo vão mudar muito e aproximam-se tempos muito difíceis, havendo quem os classifique como tempos perigosos. Diz-se que Putin e Netanyahu estão a deixar correr o tempo à espera que Trump regresse, enquanto se vão calar as vozes que apostavam na solidariedade americana para resolver os problemas europeus, como sucede com Ursula von der Leyen, Jens Stoltenberg e todos os que passam o tempo a falar em guerra e nunca falam em paz.
Perante o cenário que se vai desenhando do outro lado do Atlântico, bom seria que a Europa se preparasse para o que de lá pode vir, reforçando-se nas eleições europeias de 6 a 9 de Junho, mas também nas eleições nacionais que vão acontecer em vários países.
O regresso de Donald Trump, se vier a acontecer, é realmente um perigo para a democracia e uma ameaça para a Europa, mas pode ser uma oportunidade para que o Velho Continente repense o seu papel no mundo, para que recupere a sua própria voz na cena internacional e, sobretudo, para que cuide melhor do bem-estar dos europeus.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Os britânicos apoiam a sua família real

O Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, ou simplesmente Reino Unido, é um estado monárquico com uma composição nacional que foi estabelecida em 1921 e que inclui a Inglaterra, a Escócia, o País de Gales e a Irlanda do Norte. A sua casa reinante é a dinastia de Windsor, um nome que foi adoptado em 1917, quando Jorge V abdicou dos títulos alemães que lhe eram devidos pela ascendência alemã da família real britânica, alinhando com os sentimentos antialemães dos britânicos.
A casa de Windsor, nome adoptado por um ramo da Casa de Saxe-Coburgo-Goa, já “produziu” cinco monarcas que, depois de Jorge V, foram Eduardo VIII, Jorge VI, Isabel II e, desde Setembro de 2022, Carlos III.
Por razões históricas diversas, incluindo o exemplar comportamento da família real durante a 2ª guerra mundial, a monarquia britânica tem resistido aos ventos republicanos e tem o apreço dos britânicos. Uma sondagem realizada em 2012 indicava que cerca de 75% dos britânicos preferiam um monarca na chefia do Estado e não um qualquer político eleito democraticamente. Muitos britânicos parece não terem acreditado em Carlos III que subiu ao trono com 73 anos de idade, tendo surgido várias teorias prognosticando o fim do seu reinado e até da monarquia britânica. Porém, uma sondagem recente mostra que 58% dos britânicos permanece a favor da monarquia, embora esse apoio esteja a diminuir, sobretudo entre os jovens.
Porém, acontece que foi anunciado que o rei Carlos III e a princesa de Gales, sua nora e mulher do príncipe herdeiro William, iriam ser hospitalizados para serem submetidos a intervenções cirúrgicas. Toda a imprensa britânica noticia esta situação, mostra-se apreensiva, manifesta-lhes grande apreço e deseja-lhe os melhores resultados, o que mostra que a família real britânica continua a merecer o apoio e a simpatia dos mass media britânicos, como se vê, por exemplo, na edição de hoje do jornal Daily Mail e em todos os jornais britânicos. 
Apesar de republicano, também desejo que tudo corra bem ao Carlos e à Catarina.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Brutalmente frio... mas há mais a caminho

Uma tempestade de neve, muito intensa e pouco habitual, está a afectar os Estados Unidos e o Canadá desde o passado fim-de-semana e os meteorologistas admitem que “possam vir a ser quebrados mais de 140 recordes diários de baixas temperaturas nos Estados Unidos”. Cerca de 95 milhões de americanos estão a ser afectados pelas baixas temperaturas que se registam, com fortes nevões e ventos gélidos que poderão chegar a -56ºC em estados como o Montana ou o Dakota do Norte e do Sul. Em alguns estados há cortes no abastecimento de energia eléctrica e, um pouco por todo o país, há registo do cancelamento de milhares de voos devido ao mau tempo e de estradas e veículos bloqueados pela neve, enquanto os estados de Kentucky, Mississipi, Arkansas e Louisiana já estão em estado de emergência devido ao frio. O jornal USA Today é um dos jornais que dá notícia desta vaga de frio polar e destaca na sua primeira página a expressão “brutally cold”.
A Europa também está a ser afectada pelo frio e pela queda de neve, especialmente na Escandinávia, mas também nos países da sua orla ocidental e sul, como o Reino Unido, a França e a Espanha, onde se têm registado temperaturas negativas. Em algumas cidades suecas as temperaturas chegaram a -40ºC e a Finlândia bateu o seu recorde de temperaturas mínimas. Além do frio extremo, a Europa também está a ser atingida por tempestades, ventos fortes e inundações em alguns países, primeiro pela depressão Hipólito e agora pela depressão Irene.
Além do frio extremo, os países europeus estão a ser atingidos por tempestades, ventos fortes e inundações desde há duas semanas e estes temporais atípicos já provocaram vítimas na França e na Bélgica, enquanto a Alemanha, a França, o Reino Unido e a Holanda registaram volumosas enchentes. Quando estamos sob os efeitos das alterações climáticas, esta brutal onda de frio talvez seja a contrapartida ao aquecimento global que alguns países teimam em não reconhecer.

A corrida à Casa Branca já começou

As eleições presidenciais americanas vão realizar-se no dia 5 de Novembro de 2024, mas a corrida eleitoral começou na segunda-feira, dia 15 de Janeiro, com a realização das primárias republicanas no estado do Iowa e a expressiva vitória do ex-presidente Donald Trump, que se recandidata. Trump obteve 51% dos votos e elegeu 20 dos 2.469 delegados à convenção republicana, o que é considerado um bom começo para a sua corrida, primeiro para ser nomeado pelo Partido Republicano e, depois, para a corrida à Casa Branca.
As eleições americanas são um processo muito complexo e seguem regras muito diversas em cada um dos 50 Estados. Tudo começa com as primárias, que são a etapa inicial das eleições americanas, em que cada Estado escolhe os delegados que participarão nas convenções republicana (entre 15 e 18 de Julho em Milwaukee) e democrata (entre 19 e 22 de Agosto em Chicago), que nomearão o seu candidato presidencial e aprovarão o seu programa. Só depois das primárias e das convenções dos partidos é que começa a disputa directa entre os candidatos republicano e democrata.
No processo eleitoral americano destaca-se a “super terça-feira”, que será no dia 5 de Março, quando uma dezena de Estados, incluindo o Texas e a Califórnia, realizarão as suas eleições primárias. Até finais de Março, mais de metade dos Estados já terão votado nos seus candidatos à nomeação pelas respectivas convenções e já estará definida a tendência quanto à escolha dos dois candidatos à Casa Branca.
Obviamente que The Wall Street Journal destacou a vitória de Donald Trump no Iowa, porque considere que “candeia que vai à frente alumia duas vezes” ou, talvez, porque esse resultado agrade à sua linha editorial.

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

100 dias de guerra e milhares de mortos

A guerra na Faixa de Gaza já leva 100 dias de destruição e de morte e, na sua última edição, o jornal Kuwait Times escreveu que são “100 dias de genocídio em Gaza”. Com a mesma acusação de genocídio a África do Sul acusou Israel perante o Tribunal Penal Internacional (TPI).
A história deste conflito é muito antiga, mas agravou-se no dia 7 de Outubro quando os militantes do Hamas realizaram uma operação contra Israel, de que resultaram cerca de 1.200 mortos e 240 reféns, dos quais cerca de uma centena já foi libertada. Naturalmente, a reacção de Israel foi muito dura e já causou cerca de 24 mil mortos, incluindo milhares de mulheres e crianças, bem como a destruição de inúmeras infraestruturas e blocos residenciais, levando a que a maior parte dos 2,2 milhões de habitantes de Gaza esteja deslocada internamente.
O mundo está perante uma catástrofe humanitária e, segundo um responsável das Nações Unidas pelos refugiados, “a morte em massa, a destruição, o deslocamento, a fome, a perda e a dor estão a manchar a humanidade”. Os apelos internacionais para que haja um cessar-fogo aumentam todos os dias e António Guterres tem estado na primeira linha desse apelo porque, segundo disse, “nada justifica a punição colectiva do povo palestiniano”, ao mesmo tempo que também apelou à libertação dos reféns e, perante a tensão na sua fronteira norte, pediu a Israel e ao Líbano para pararem de “brincar com o fogo”.
O risco de escalada e de expansão da guerra é cada dia maior, apesar do secretário de Estado americano Antony Blinken vir afirmando que é preciso "fazer todos os possíveis" para evitar que a guerra em Gaza se estenda a outros territórios. No entanto, nem Blinken, nem Biden, parecem ser capazes de travar Israel e a sua actuação vingativa, desproporcionada e desumana sobre o povo palestiniano.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Macau e as boas memórias portuguesas

A República Popular da China é o país que, depois da Itália, mais registos tem na World Heritage List da Unesco e, entre os seus 57 monumentos ou sítios classificados, encontra-se desde 2005 o “Centro Histórico de Macau”.
Macau foi uma criação portuguesa desde meados do século XVI e o seu traçado urbano, bem como os edifícios residenciais civis e religiosos, combinam os estilos português e chinês, constituindo “um testemunho excepcional do encontro das tendências estéticas e culturais, arquitectónicas e tecnológicas do Oriente e do Ocidente”, segundo relata a Unesco. Além disso, naquele espaço, ainda há o Farol da Guia, a Fortaleza do Monte, o Porto Interior, o templo de A-Ma e o morro da Penha, entre outros locais de grande interesse histórico e cultural. Porém, o território que em 1999 voltou à soberania da China, tem sido objecto de grandes construções que tendem a afectar os “corredores visuais” entre o centro histórico e a paisagem marítima, pelo que as autoridades foram alertadas pelo Comité do Património Mundial da Unesco para essa situação.
Dez anos depois de ter começado o processo de elaboração do Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau, o regulamento administrativo está finalmente pronto, estabelecendo princípios orientadores, fixando 11 “corredores visuais”, 19 “ruas pitorescas” e 24 zonas de “tecido urbano”, que visam essencialmente as 22 edificações classificadas no centro histórico e definem as “condições restritivas de construção” e os “critérios para o restauro arquitectónico”.
O jornal ponto final, um dos três jornais portugueses que se publicam em Macau, destaca na sua edição de hoje a aprovação do Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau que, se vier a ser cumprido, contribuirá para a preservação da memória portuguesa em Macau.

“Navegar é preciso; viver não é preciso”

Os clássicos da Geopolítica preocuparam-se em teorizar sobre o poder marítimo (Mahan e Castex) e sobre o poder terrestre (Mackinder e Haushofer), cada qual com os seus argumentos mas, explícita ou implicitamente, todos consideravam Portugal como um país marítimo e a Espanha como um país continental. Com a criação da NATO em 1949, uma aliança de que Portugal é membro fundador, essa circunstância acentuou-se, isto é, Portugal confirmou-se como um país marítimo e atlântico, enquanto a Espanha mantinha o estatuto de país continental que olhava para os Pirinéus e estava de costas para o Atlântico.
A Espanha só ingressou na NATO em 1982 e, desde então, as suas opções estratégicas alteraram-se e hoje olha para o mar com renovado interesse, tendo-se tornado uma média potência marítima. A opinião pública e os mass media espanhóis assumem a vocação marítima da Espanha e acarinham a sua Marinha de Guerra, como se observa na edição de ontem de La Voz de Cádiz, a propósito da largada, que classificou como “emotiva”, do navio-escola Juan Sebastián de Elcano para o seu 96º cruzeiro de instrução, que durante sete meses fará dez escalas em seis países – Brasil, República Dominicana, México, Estados Unidos, Panamá e Reino Unido. Classificado como “el mejor embajador de Cádiz”, o navio embarca 82 guardas-marinhas com o propósito de contribuir para a sua formação integral e adestramento no mar, pelo que durante a viagem aprenderão a navegar à vela, terão aulas curriculares e trabalhos práticos, além de participarem num projecto científico do “Observatorio del cambio climático”, desenvolvido em parceria pelo Instituto Hidrográfico de la Marina e pela Universidade de Cadiz.
Provavelmente, quando o nosso belo navio-escola Sagres larga do Alfeite também tem programas semelhantes mas, ao contrário da Espanha, os jornais nunca falam desse assunto, talvez porque os jornalistas desconheçam o poema “Navegar é preciso” de Fernando Pessoa.

domingo, 14 de janeiro de 2024

Ataques no Iémen. É gasolina na fogueira?

O Iémen é um país árabe situado na extremidade sudoeste da Arábia Saudita, que tem 528 mil quilómetros quadrados de superfície e cerca de 27 milhões de habitantes e que confronta a sul com o mar Arábico e a ocidente com o mar Vermelho.
Quando em 2011 aconteceu a “primavera árabe”, o Iémen também foi um dos países que entrou em grande instabilidade política e social, vindo a entrar numa guerra civil de grande violência em que se confrontam as forças leais ao governo instalado em Áden (apoiado pela Arábia Saudita) e os rebeldes Houthis (apoiados pelo Irão) que ocupam a parte ocidental do país e a sua capital Saná. A guerra iniciou-se em 2014 e já causou cerca de meio milhão de mortos e muitos milhões de desalojados e refugiados, sujeitos a carências alimentares e vítimas de violações dos direitos humanos.
Os rebeldes Houthis, tal como o Hamas em Gaza e o Hezbollah no Líbano, são solidários com o povo palestiniano e com o seu sofrimento, considerando Israel o seu maior inimigo. Entre outras acções, decidiram atacar a navegação ocidental no mar Vermelho com mísseis e drones, como actos de vingança contra Israel pela sua campanha militar em Gaza, o que tem obrigado as maiores companhias petrolíferas a suspender o seu tráfego numa das mais importantes rotas marítimas mundiais. Estas acções podem vir a causar um choque na economia mundial e, por isso, os Estados Unidos e o Reino Unido decidiram avançar com um maciço ataque de retaliação que utilizou mísseis Tomahawk, lançados por navios de guerra, por submarinos e por aviões de combate. O jornal The New York Times relata esta acção, sem a apoiar nem a criticar, até porque se teme que estes ataques possam transformar a guerra de Israel contra o Hamas num conflito regional mais vasto, o que contraria as repetidas declarações de Joe Biden e de Antony Blinken.

sábado, 13 de janeiro de 2024

O rápido crescimento industrial da China

Costuma dizer-se que a China é a grande fábrica do mundo e essa realidade acontece até na indústria automóvel, tradicionalmente europeia e americana, porque “um em cada três carros vendidos no mundo é produzido na China”. As últimas estatísticas a que tivemos acesso referem-se a 2021 e assinalam a produção global de 79 milhões de automóveis, dos quais a China produziu 26 milhões, seguindo-se os Estados Unidos com 9 milhões, o Japão com quase oito milhões e, depois, a Índia, a Coreia do Sul, a Alemanha, o México, o Brasil, a Espanha e a Tailândia. Agora, quando ainda não se conhecem os números relativos a 2023, o jornal Shanghai Daily anuncia que, pela primeira vez, a produção chinesa de automóveis e de veículos comerciais ultrapassou os 30 milhões de unidades em 2023, enquanto as estimativas quanto à produção mundial se situam nos 84 milhões. Se estes números estiverem correctos significa que a China passou de uma quota de 32,9% da produção mundial em 2021, para uma quota de 35,7% em 2023, o que mostra que a China reforçou a sua posição na produção mundial de automóveis.
A última edição da revista The Economist afirma que “o influxo de carros chineses está a aterrorizar o Ocidente” e a provocar a desindustrialização, alertando para o que se passou nos Estados Unidos entre 1997 e 2011, em que cerca de um milhão de trabalhadores da indústria perderam os seus empregos devido à concorrência chinesa, depois que a China se integrou no sistema de comércio global e começou a enviar produtos baratos para o estrangeiro.
Há apenas cinco anos, a China exportava apenas um quarto dos carros exportados pelo Japão, então o maior exportador mundial, mas esta semana a indústria chinesa anunciou ter exportado 5 milhões de automóveis e ter ultrapassado as exportações do Japão. Na indústria automóvel, como em muitas outras coisas, a tradição já não é o que era

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Plásticos contaminam costas espanholas

No passado dia 8 de Dezembro, um navio que navegava ao longo da costa portuguesa na latitude de Viana do Castelo, perdeu parte da carga que transportava, incluindo contentores com abundantes pellets, que são pequenas bolas de plástico que, entre outras aplicações, servem para ajudar a acomodar cargas sensíveis nos contentores durante as viagens marítimas, como automóveis, electrodomésticos e vários outros equipamentos.
Segundo informações divulgadas pelo governo espanhol, o armador do navio informou que caíram ao mar mais de mil sacos com cerca de 26,2 toneladas destas bolas com cerca de cinco milímetros de diâmetro, que estão agora a dar à costa no norte de Espanha.
O primeiro sinal de alerta ambiental deu-se na Galiza, cujas praias começaram a ser contaminadas. As autoridades e muitos grupos de voluntários, recordados do desastre ambiental do petroleiro Prestige, assumiram uma “misión voluntariosa pero imposible”, como titulou o jornal Faro de Vigo. Porém, a contaminação marinha das pellets de plástico, também chamada “maré de plástico”, afectou todo o norte de Espanha, passando às costas das Astúrias, da Cantábria e do País Basco, onde foi declarada uma situação de emergência. De acordo com um especialista português “nas praias espanholas estão esferas de plástico de cinco milímetros que facilmente se partem, passando a microplásticos quando tiverem menos de um milímetro, fraccionando-se depois e constituindo nanoplásticos”, que vão entrar na cadeia alimentar de peixes e bivalves e, naturalmente, chegarão à cadeia alimentar dos humanos. Este tipo de acidente ainda é pouco conhecido e não se sabe como evoluirá, nem como afectará o ambiente marinho e os seres vivos.

Os doze perigos que ameaçam 2024

A edição da revista L’Express que hoje começou a circular, inclui uma desenvolvida reportagem sobre os “doze perigos que ameaçam 2024” e ilustra a sua primeira página com uma sugestiva ilustração em que se vêem Donald Trump, Vladimir Putin, Xi Jinping, Benjamin Netanyahu e Ali Khamenei.
Segundo a revista, o ano de 2024 promete ser muito agitado e vai continuar a assistir a duas guerras brutais na Ucrânia e em Gaza mas, para além desses conflitos, haverá outras ameaças à estabilidade mundial: a pressão militar chinesa sobre Taiwan, as contínuas provocações norte-coreanas, o acesso do Irão à bomba atómica e a cooperação cada vez mais estreita entre Moscovo, Pequim, Teerão e Pyongyang. Os ventos que sopram na Europa também parecem incertos, pois a pressão das opiniões públicas começa a produzir efeitos e a gerar hesitações no prometido apoio à Ucrânia. O ano de 2024 também vai assistir a mais de 70 actos eleitorais por todo o mundo, incluindo a eleição presidencial nos Estados Unidos, o que pode alterar o actual quadro geopolítico mundial. Porém, os perigos que ameaçam 2024” não se ficam por aqui e a revista francesa ainda fala na tensão no Azerbaijão, na crise Venezuela-Guiana, no eventual alastramento do conflito do Médio Oriente, na progressão da extrema-direita europeia e nos ataques jihadistas em vários países africanos, incluindo Moçambique.
Lamentavelmente, a revista só fala de guerras ou de possíveis guerras, quando o que precisamos é que sejam abertos caminhos para a paz.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

O grande jogo da competição internacional

O diário catalão El Punt Avui é publicado em Barcelona e Girona desde 2011 e resulta da fusão do jornal El Punt e do jornal Avui, que tinham aparecido depois do fim do regime franquista e da liberalização espanhola. O jornal apoia o independentismo da Catalunha, é editado em catalão e na sua edição de ontem destaca em primeira página uma ilustração com algumas peças de um jogo de xadrez com o título “joc obert”, que significa “jogo aberto”, que é bastante interessante, pois ajuda a perceber o actual panorama mundial e mostra como “uma imagem vale mais que mil palavras”.
Trata-se de uma reflexão geopolítica sobre o novo ano de 2024, que refere que a competição internacional será marcada pelo aumento dos conflitos, pelas eleições em boa parte do mundo, pelas desigualdades e pelos grandes desafios climáticos e digitais. As sete peças de xadrez estão alinhadas segundo uma lógica de alianças que, naturalmente, são discutíveis: de um lado estão os Estados Unidos, a União Europeia e Israel, do outro lado estão a China, a Rússia e o Irão e, no meio de ambos e a fazer de ponto de equilíbrio, está o Brasil.
As peças estão representadas com proporcionalidade com os Estados Unidos e a China mais destacadas, a União Europeia e a Rússia em tamanho médio, enquanto Israel e o Irão estão em tamanho menor. Embora não seja consensual que a União Europeia ainda esteja ao lado de Israel depois do que tem sido feito em Gaza, é uma forma curiosa de apresentar a competição geopolítica que se espera para o ano de 2024, embora fosse possível incluir outras peças importantes neste jogo de xadrez, como o Reino Unido, a Turquia ou a Índia. O que o mundo espera é que o jogo da competição internacional seja pacífico, sem que uma parte queira fazer xeque-mate à outra parte.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

O Brasil chora a morte de Mário Zagallo

Ontem foi domingo e a imprensa brasileira prestou expressiva homenagem a Mário Jorge Lobo Zagallo, que faleceu com 92 anos de idade e foi uma das maiores glórias do futebol do Brasil. Foram decretados três dias de luto nacional e o jornal Correio Braziliense chamou-lhe “uma lenda mundial” e dedicou-lhe a primeira página da sua edição.
Embora nos tempos que correm, pareça que o melhor futebol do mundo já não mora no Brasil, houve um tempo em que o Brasil foi a pátria do futebol e o país de grandes jogadores como Pélé, Garrincha, Zico, Ronaldo, Rivelino, Romário e muitos outros, como Mário Zagallo.
Mário Zagallo jogou sete anos no Flamengo e outros sete anos no Botafogo, mas o que o tornou famoso foi o facto de ter sido campeão do mundo como jogador em 1958 e em 1962, como treinador em 1970 e como coordenador técnico da selecção “canarinha” em 1994, isto é, totalizou quatro vitórias no Mundial de Futebol em três diferentes funções. Foi treinador da selecção brasileira e de várias equipas, não só no Brasil como também no Kuwait, na Arábia Saudira e nos Emirados Árabes Unidos.
O Brasil estimava Mário Zagallo e venerava-o como um ídolo e como um patriota, mas também como professor e mestre de futebol. Se o futebol é uma quase-religião para os brasileiros, ele era seguramente uma divindade que, inclusive, fez o “milagre” de colocar Luiz Lula da Silva e Jair Bolsonaro a dizer a mesma coisa. Muitos brasileiros choram a morte de um dos seus símbolos de unidade nacional.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Angola e os mártires da repressão colonial

O Jornal de Angola evocou na sua edição de ontem os heróis da Baixa do Cassanje, que em Janeiro de 1961 foram vítimas da repressão colonial portuguesa. Trata-se de um episódio pouco conhecido do colonialismo português, como de resto são os acontecimentos de Batepá (S. Tomé e Príncipe, 1953). do Pidjiguiti (Guiné-Bissau, 1959) e de Mueda (Moçambique, 1960).
Nos primeiros dias de Janeiro de 1961, os trabalhadores das plantações algodoeiras da companhia luso-belga Cotonang, na Baixa do Cassanje, decidiram fazer um protesto contra as suas condições de trabalho e armaram-se de catanas e canhangulos, desafiando as autoridades portuguesas e destruindo plantações, casas e pontes. Este movimento tinha sido incentivado pela recente independência do Congo Belga, uma vez que os povos do Congo e os daquela região angolana tinham raízes étnicas e culturais comuns e, portanto, se os povos do Congo já eram independentes, os povos daquela região também tinham essa aspiração. Os colonos portugueses foram os primeiros a reprimir o protesto, mas o Exército também foi chamado, tal como a Força Aérea. Os relatos diferem quanto ao que se passou, mas perderam-se muitas vidas na repressão que ficou conhecida como o “massacre da Baixa do Cassanje”.
As autoridades angolanas assinalam a efeméride como uma data de celebração nacional, considerada o Dia dos Mártires da Repressão Colonial, em que segundo os angolanos “morreram milhares de pessoas”, embora alguns estudos refiram que “teria havido entre duzentas e trezentas mortes entre os revoltosos”.
Apesar de se tratar de um acontecimento muito grave, não foi noticiado na imprensa portuguesa da época, o que torna mais difícil o apuramento da verdade.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

O “milagre” de Tóquio salvou 379 vidas

A tecnologia tem criado condições de segurança nos modernos aviões comerciais e a aviação tornou-se uma actividade muito segura. Segundo o FlightAware, uma empresa americana que recolhe informações sobre a navegação aérea em todo o mundo, através de 32.000 estações em terra situadas em cerca de duzentos países e de outras fontes informativas, o número médio de aviões que voam ao mesmo tempo no nosso planeta é 9.728 aviões, que transportam 1.270.406 pessoas. Um outro estudo, com a mesma origem, informa-nos que no dia 6 de Julho de 2023, houve 250.381 aviões comerciais que nesse dia levantaram voo, dos quais 134.386 eram voos comerciais. Em alguns momentos desse dia, foram registados mais de 20.000 aviões a voar simultaneamente entre diferentes destinos. Tantos voos, tantos milhões de passageiros e, felizmente, tão poucos acidentes! 
É uma vitória da ciência e da civilização, em tempos de algumas guerras…
Porém, ontem no Aeroporto Internacional de Haneda, em Tóquio, um Airbus A350-900 da Japan Airlines (JAL), que fazia o voo doméstico JAL 516, incendiou-se na pista depois de colidir com uma aeronave da Guarda Costeira Japonesa, que se preparava para levantar voo em auxílio das vítimas do sismo que afectou a região central do Japão. O A350 da JAL rolou pela pista, envolto em chamas mas, com surpresa geral, em menos de dois minutos todos os 367 passageiros e 12 tripulantes conseguiram salvar-se, o que demonstra um elevado grau de treino, disciplina e eficiência das tripulações dos modernos aviões. Entretanto, morreram cinco dos seis tripulantes da pequena aeronave da Guarda Costeira.
O jornal londrino The Guardian publica na sua edição de hoje uma fotografia que hoje ilustra inúmeras edições de jornais de todo o mundo, referindo o “inferno” das chamas que envolveram o A350 e salientando que o salvamento de 379 pessoas que iam a bordo foi um “milagre”.
Realmente, depois de vermos as imagens televisivas, também podemos afirmar que parece ter sido um milagre!

A perigosa escalada do conflito ucraniano

O conflito na Ucrânia tem-se acentuado nos últimos dias e alguma imprensa internacional fala em “escalada”, pois a cada ataque de uma parte sucede-se a retaliação da outra parte, o que significa um agravamento da situação e que a paz pode estar mais longe.
Acontece que no dia 29 de Dezembro os russos bombardearam várias cidades ucranianas, como Kiev, Kharkiv, Lviv e Odessa e, segundo as autoridades ucranianas, foram utilizados 158 mísseis de cruzeiro, balísticos e hipersónicos, além de drones, muito acima da média dos ataques feitos ao longo do ano, de que terão resultado 30 mortos. No dia seguinte (30 de Dezembro) os ucranianos responderam com um ataque à cidade russa de Belgorod de que terão resultado 18 mortos, mas os russos acusaram os ucranianos de terem usado bombas de fragmentação, prometeram retaliar e pediram uma reunião urgente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Na terça-feira (2 de Janeiro) as cidades de Kiev e Kharkiv foram atingidas por uma vaga de mísseis russos, que foi descrita como “a mais intensa desde que começou a invasão russa”. O jornal francês Le Télégramme que se publica na cidade de Brest, destaca hoje em título de primeira página a “chuva de mísseis sobre a Ucrânia” e publica uma fotografia alusiva a esses efeitos.
Esta anormal intensidade dos ataques russos parece estar relacionada com as dificuldades internas e externas que atravessa o regime de Volodymyr Zelensky, por não haver garantias de apoio dos americanos e de outros países ocidentais, mas os ataques russos também visarão desmoralizar a população quando se aproxima “o duro inverno ucraniano”.
O presidente Zelensky anunciou que “a Rússia usou cerca de 300 mísseis e 200 drones em cinco dias”, mas este anúncio pode significar uma pressão adicional para que o apoio ocidental continue como até agora e resista ao cansaço financeiro e às posições das suas opiniões públicas. Por isso, segundo refere a imprensa internacional, Zelensky poderá ter que fazer “escolhas difíceis” nos próximos tempos.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Ano Novo e as iluminações do Burj Khalifa

Hoje é o primeiro dia do novo ano de 2024 e muitos jornais publicaram fotografias dos fogos-de-artifício que iluminaram algumas das grandes cidades mundiais. Era habitual que a entrada no novo ano fosse ilustrada na imprensa com a fotografia da Harbour Bridge, na cidade australiana de Sydney, mas nos anos mais recentes são as iluminações e os fogos-de-artifício do Burj Khalifa, o mais alto edifício do mundo, situado na cidade do Dubai, nos Emirados Árabes Unidos (EAU), que desperta mais interesse da imprensa internacional que acompanha as notícias relativas às passagens de ano.
O Burj Khalifa tem 829,8 metros de altura, 163 andares e é servido por 58 elevadores, alguns dos quais percorrem 504 metros. Foi projectado por Skidmore, Owings e Merrill (SOM), uma empresa de engenharia e arquitectura americana com sede em Chicago, tendo sido construído entre 2004 e 2010 pela empresa sul-coreana Samsung C&T.
As autoridades dos EAU utilizam o Burj Khalifa como factor de promoção da modernidade deste riquíssimo país, que é uma confederação de sete monarquias ou emirados, anunciando que suporta a maior exibição de fogo-de-artifício do mundo.
O jornal The National que se publica na cidade de Abu Dabi, a capital e segunda maior cidade dos EAU, destaca na sua edição de hoje uma fotografia das iluminações do Burj Khalifa, mas também salienta, com destaque de primeira página, a necessidade de “um novo esforço para uma trégua duradoura na guerra de Gaza”.