terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Um ano de guerra na Ucrânia (II)

Apesar dos festejos de Carnaval e das catástrofes que afectaram o Brasil e que voltaram a causar destruições na Turquia nas últimas horas, o acontecimento do dia de ontem foi a visita não anunciada do presidente Joe Biden a Kiev e, por isso, é destacada hoje nas primeiras páginas da imprensa mundial. Ao contrário da generalidade dos políticos europeus que, num exercício de hipocrisia, costumam ir a Kiev para serem vistos nos seus próprios países, a deslocação de Joe Biden é um acto de muita coragem e significa o seu “apoio inabalável” à Ucrânia, como hoje destaca a edição americana do jornal Finantial Times.
Joe Biden salientou que “a guerra pela conquista da Ucrânia lançada por Putin está a falhar” e afirmou que “não nos vamos embora”, enquanto Volodymyr Zelensky agradeceu o apoio americano, afirmou que “esta conversa nos deixa mais próximo da vitória” e disse esperar que “este ano de 2023 seja o ano da vitória”. Todas estas declarações visam um efeito mediático e são destinadas a impressionar ambas as partes e o mundo, porque parece ser cada vez mais evidente que ninguém vai ganhar este conflito e que todos vamos perder. Por outro lado, a imprensa internacional continua a divulgar notícias e opiniões contraditórias sobre o que se passa, mas é lamentável que não se fale de paz. Assim, uns dizem que a visita de Biden foi “a dramatic show of solidarity with Ukraine’s leader” (The Wall Street Journal), outros reclamam “send jets to Ukraine, Truss and Johnson tell PM” (The Daily Telegraph) e outros anunciam que “le monde entier voudrait que tout cela s’arrête” (Le Monde).
Entretanto, mais uma sondagem foi divulgada ontem em Paris pelo jornal Le Figaro, anunciando que “les opinions européennes [sont] divisées sur l’aide militaire”, mas que a Ucrânia beneficia de “boa opinião” ou alta popularidade na Europa, designadamente no Reino Unido (82%), Polónia (79%), Espanha (74%), Países Baixos (71%), França (64%), Itália (62%) e Alemanha (61%), o que mostra que “l’aide militaire crée des clivages profonds dans les populations et d’un pays à l’autre”.
Portanto, nem Biden nem Zelensky atenuaram os seus discursos. Ninguém parece ter vontade de ceder. A paz parece que está longe.