sábado, 11 de outubro de 2014

Radiografia del saqueo

Há uma crise mais ou menos generalizada que afecta a Espanha e que, entre outras coisas, se traduz num exército de 6 milhões de desempregados mas, aqui ao lado, embora de contornos e dimensão diferente, também passamos por uma crise semelhante que se evidencia na debilidade da economia, no aumento da pobreza, na progressiva perda de direitos sociais e na generalizada falta de confiança nas instituições. Todos sabemos como os portugueses são parecidos com os espanhóis e como já passou o tempo em que se dizia que “de Espanha nem bom vento nem bom casamento”. Hoje há uma evidente “globalização à escala ibérica”.
Porém, entre as coisas que ainda distinguem claramente a Espanha de Portugal, encontramos a imprensa e a forma como é usada a liberdade de imprensa. Em Espanha existe jornalismo de investigação e, como se vê hoje no El Correo, que se publica em Bilbau, são postos na praça pública os nomes e as fotografias dos homens que usaram abusivamente e gastaram milhões com os cartões de crédito da Caja Madrid e do Bankia, assim como uma pormenorizada descriminação dos gastos feitos em restaurantes, discotecas, viagens, hotéis, jóias, vestuário, cosmética, farmácia e tantas coisas mais. O jornal destaca esse assunto e chama-lhe a “radiografia do saque”. Porém, em Portugal nada disto é feito porque o nosso jornalismo se deixou enredar pelos interesses instalados e a maioria dos nossos jornalistas se tornaram permeáveis ao compadrio com essa gente e gosta de viajar com eles. Vemos isso demasiadas vezes. Assim, há uma opaca cortina jornalística que esconde os nomes e os factos que levaram Portugal por um caminho tão obscuro de incerteza e de desânimo, como aquele em que estamos. Não foi apenas o silêncio perante a mentira política e perante os responsáveis pelos casos BPN e BPP. Agora estão calados perante o caso BES e tantos outros escândalos menores, em que a política, o jornalismo e os negócios convivem. A única coisa positiva disto é que assim vamos sabendo quem é que tem vivido acima das suas posibilidades.