sexta-feira, 9 de junho de 2017

Macau, a herança portuguesa e a UNESCO

O território de Macau que desde 1999 constitui a Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China, viu em 2005 o seu centro histórico ser inscrito pela UNESCO na lista do Património Cultural da Humanidade. Esse centro histórico inclui estruturas construidas desde o século XVII e estilos arquitectónicos em que se misturam a tradição portuguesa e a tradição chinesa.
Segundo a edição do hojemacau, o Comité do Património Mundial da UNESCO alertou recentemente o governo de Macau por não estar a dar cumprimento às exigências resultantes daquela classificação e, em especial, pela não entrega do Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau, ao mesmo tempo que mostrava preocupação pela construção de prédios altos e novos projectos de aterro, que colocam em causa a visibilidade do Farol da Guia e da Colina da Penha.
O problema parece ser sério e, aparentemente, tem a ver com o facto de existirem em Macau grandes interesses imobiliários ligados a entidades que sempre foram poderosas, quer durante a administração portuguesa, quer na actualidade. Essa é uma das razões porque não existe um verdadeiro plano director municipal e porque não funciona o regime relativo à salvaguarda do património cultural que existe desde 2013.
Por isso, o Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau exigido pela UNESCO desde 2013 corre riscos de não ver a luz do dia e Macau corre o risco de ser retirado da lista do Património Mundial da Humanidade, o que seria bem triste para o nosso orgulho pela herança cultural e pelo património arquitectónico que deixamos na Ásia Oriental.

Manuel Alegre vence Prémio Camões 2017

Manuel Alegre venceu o Prémio Camões 2017, o maior prémio da literatura portuguesa. É um justo prémio para um homem que além do talento literário, cultiva a arte poética de uma forma apaixonante e cuja experiência de vida de militância em grandes causas tem sido exemplar.
Como poeta, Manuel Alegre destacou-se com A Praça da Canção (1965) e O Canto e as Armas (1967), que foram apreendidos pelas autoridades do Estado Novo, mas que tiveram grande circulação nos meios intelectuais e estudantis, tendo marcado o seu percurso político de combate contra a ditadura e a guerra colonial. Estas obras ainda constituem referenciais para uma geração e muitos dos seus poemas popularizaram-se nas vozes de Adriano Correia de Oliveira, José Afonso e Amália Rodrigues.
Manuel Alegre foi uma voz de esperança que denunciou a opressão salazarista, a violência da emigração e da guerra, o que lhe custou a prisão e o exílio. O prémio que justamente lhe foi atribuido destaca o conjunto da sua obra literária mas, muitos como eu, acharão que só aquelas duas obras justificariam o Prémio Camões.
O prémio Camões foi instituido em 1988 pelos governos de Portugal e do Brasil para galardoar os autores que tenham contribuido para o enriquecimento do património literário e cultural da língua portuguesa e, de entre os 29 escritores já premiados, encontram-se 12 escritores portugueses. Manuel Alegre junta-se a Miguel Torga, Vergílio Ferreira, Sophia de Melo Breyner, José Saramago e Eugénio de Andrade, entre outros. Desta vez o jornal Público escolheu bem a sua capa e ao fazer de Manuel Alegre a notícia do dia.