sexta-feira, 31 de março de 2023

Donald Trump desafia o povo americano

De modo nenhum me interessa a vida privada dos meus vizinhos e muito menos a daqueles que vivem a milhares de quilómetros de distância, como acontece com um tal Donald John Trump, nascido em 1946 num hospital de Nova Iorque e que foi o 45º presidente dos Estados Unidos. O que me interessa e preocupa é o acelerado grau de degradação que se verifica um pouco por todo o mundo, povoado por gente muito perigosa e pouco confiável, como são todos os Trumps e os Putins, mas também aqueles que sendo diferentes deles se comportam de maneira muito semelhante.
Vem isto a propósito do antigo presidente dos Estados Unidos, que se quer recandidatar em 2024 e que agora foi formalmente acusado pela Justiça americana, tornando-se o primeiro ex-presidente a enfrentar uma acusação criminal, como hoje revela o The New York Times e muitos outros jornais americanos. A acusação contra Donald Trump, por um suposto pagamento feito em 2016 para silenciar uma actriz pornográfica, foi agora votado favoravelmente por um grande júri de um tribunal de Nova Iorque. A esta distância parece-me um assunto menor e desinteressante. Quando vemos a Justiça, a Sociedade e a Imprensa americanas tão polarizadas em volta desta questão de saber da vida íntima do Donald ficamos muito apreensivos, sobretudo porque há muitos outros problemas que deveriam preocupar os americanos, como as guerras que proliferam não só na Ucrânia e as alterações climáticas, mas também a desigualdade e a pobreza no mundo e nos próprios Estados Unidos. E ficamos na dúvida sobre estas práticas justiceiras e sem saber se se trata de uma espécie de voyeurismo colectivo, ou se é um alerta para a personalidade de um ex-presidente que quer voltar a dirigir a mais poderosa nação do mundo ou, ainda, se será uma ousada estratégia para vir a ser reeleito. 
Não restam dúvidas é que Donald Trump chama a atenção e desafia o povo americano. Quem sabe se não vai ser perdoado e se aqueles que agora o acusam não vão voltar a colocá-lo na Casa Branca…

quinta-feira, 30 de março de 2023

Memória portuguesa subsiste em Malaca

A edição de hoje do jornal The Star, que é publicado pelo maior grupo malaio de media, anunciou com destaque de primeira página que “Melaka CM is out”, isto é, que o primeiro-ministro de Malaca, com o título honorífico de Datuk Seri e com o nome de Sulaiman bid Md Ali,  resignou do seu cargo. 
Datuk Seri Sulaiman bid Md Ali foi o 12º Chief Minister do estado de Melaka que é o mais pequeno dos treze estados que constituem a Federação da Malásia, onde se localiza a histórica cidade de Melaka que se situa a cerca de 150 quilómetros da cidade de Kuala Lumpur, a capital do país.
A palavra Melaka, ou Malaca, remete-nos para uma cidade costeira da península da Malásia que Afonso de Albuquerque conquistou em 1511 e que foi governada pelos portugueses até 1641, depois pelos holandeses que expulsaram os portugueses da cidade e, de seguida, pelos britânicos que tinham estabelecido o Império Britânico na península da Malásia, a partir de 1786. O estado de Melaka tem actualmente menos de um milhão de habitantes, sobretudo malaios, chineses e indianos, para além de uma pequena comunidade mestiça kristang, que descende dos portugueses que lá viveram nos séculos XVI e XVII, que ainda conserva algumas das suas tradições culturais e utiliza o papiá kristáng, uma lingua creoula de base portuguesa. Do património construído pelos portugueses pouco resta, para além da igreja de São Paulo e da Porta de Santiago da Fortaleza de Malaca, vulgarmente conhecida como “A Famosa”, mas essa herança patrimonial portuguesa foi decisiva para que em 2008 a UNESCO classificasse “Melaka and George Town, Historic Cities of the Straits of Malacca” e as incluísse na World Heritage List.

quarta-feira, 29 de março de 2023

Reino Unido: PM hindu e PM muçulmano

A primeira-ministra escocesa Nicola Sturgeon desempenhou funções desde Novembro de 2014, mas no dia 15 de Fevereiro de 2023 anunciou que se retiraria, depois de mais de oito anos no cargo, o que fez dela a pessoa com mais tempo na chefia do governo na história da Escócia.
O seu partido é o Partido Nacional Escocês (SNP) que se alinha no centro-esquerda e é independentista, tratou de escolher um sucessor de acordo com as boas práticas democráticas que, a partir de hoje, se tornou o novo primeiro-ministro da Escócia. Chama-se Humza Yousaf, tem 37 anos de idade e é filho de imigrantes paquistaneses de religião muçulmana, como revela o jornal The Scotsman. Yousaf está na vida política desde 2005, ano em que se inscreveu no SNP, foi eleito para o Parlamento escocês em 2011 e, com 27 anos de idade, tornou-se em 2012 o primeiro escocês de origem asiática a ser nomeado ministro do governo da Escócia, que é um dos quatro países que fazem parte do Reino Unido.
A Escócia mantém um permanente rivalidade e um diferendo com a Inglaterra, e naturalmente com o Reino Unido. Em 2014 realizou-se um referendo sobre a independência da Escócia e os independentistas perderam com 44% dos votos. No Brexit realizado em 2016 houve 62% de escoceses que escolheram continuar na União Europeia, o que fez renascer os ideais independentistas e levou Nicola Sturgeon a reivindicar a realização de um segundo referendo para independência da Escócia, que ainda está pendente em Londres.
A partir de agora vamos assistir a uma disputa política entre um muçulmano de 37 anos (Humza Yousaf) e um hindu de 42 anos (Rishi Sunak), um com raízes no Paquistão e o outro com raízes na Índia, um nascido em Glasgow e outro nascido em Southampton. É apenas uma curiosidade, mas ninguém vai ignorar que aqueles dois homens podem simbolizar a rivalidade entre a Índia e o Paquistão, que são potências nucleares e cuja fronteira é palco de graves tensões desde 1950. Nem deve haver no planeta rivalidade maior do que a que existe entre paquistaneses e indianos. Porém, Yousaf e Sunak são britânicos e... honi soit qui mal y pense!

terça-feira, 28 de março de 2023

Ronaldo e as vitórias lusas no Euro-2024

Iniciaram-se as eliminatórias do Campeonato da Europa de Futebol, o Euro-2024, no qual a equipa portuguesa está integrada no Grupo J com as selecções da Bósnia-Herzegovina, Eslováquia, Islândia, Liechtenstein e Luxemburgo. Por razões de sorteio, coube à selecção nacional defrontar no dia 23 no estádio de Alvalade, no seu jogo de estreia, a equipa do Liechtenstein que venceu por 4-0. Tanto a imprensa desportiva portuguesa como as dezenas de comentadores que enxameiam as nossas televisões ficaram satisfeitos com o resultado, com o novo treinador e com os jogadores, sobretudo com o rejuvenescido Ronaldo, que marcou dois golos. Depois, a equipa seguiu para o Luxemburgo, onde no dia 26 bateu a equipa luxemburguesa por 6-0, o que levou o jornal Le Quotidien a destacar na sua edição de ontem que Portugal “deu uma surra” na equipa luxemburguesa, ilustrando a sua primeira página com uma fotografia do triunfante Ronaldo a festejar um dos seus dois golos.
Os portugueses ficaram satisfeitos com estas duas vitórias, não tanto por gostarem de futebol, mas porque estes triunfos lhes preenchem a auto-estima que tem andado tão por baixo, devido a circunstâncias muito diversas e bem complexas, umas de carácter interno e outras de natureza internacional. Naturalmente que, enquanto português nado e criado neste jardim à beira-mar plantado, também me alegraram estas vitórias e os quatro golos do Ronaldo, que parece que ainda está para durar e que ainda não escolheu a vida de gestor da enorme fortuna que o futebol lhe deu.

segunda-feira, 27 de março de 2023

O Brasil regressa ao seu lugar no mundo

O ano de 2023 começou com uma onda de esperança para os brasileiros depois de quatro anos de presidência de Jair Bolsonaro, caracterizados pela anestesia geral da população e pelo isolamento internacional do país. Luiz Inácio Lula da Silva, o novo presidente, assumiu a presidência da República Federativa do Brasil no dia 1 de Janeiro de 2023 e, desde então, tem trazido o seu país de volta ao protagonismo que merece e a que a nação brasileira deve ter no seio da comunidade internacional.
Como presidente eleito, Lula da Silva esteve no Egipto para participar na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas e, depois, recebeu em Portugal os abraços dos seus irmãos portugueses. Em Janeiro fez a sua primeira viagem como presidente em exercício do Brasil, primeiro à Argentina (22 a 25 de janeiro) e, depois, ao Uruguai (25 de janeiro). Seguiu-se uma viagem aos Estados Unidos (9 a 11 de fevereiro) para se encontrar como presidente Joe Biden e estava anunciada uma viagem à China para se encontrar com o presidente Xi Jinping e aos Emirados Árabes Unidos, que tiveram que ser adiadas por motivos de saúde.
De acordo com o programa que se conhece, entre os dias 22 e 25 de abril o presidente do Brasil visitará Portugal e, provavelmente, a Espanha; em maio prevê-se que visite Angola e o Senegal e em Julho participará na Cimeira da CPLP em São Tomé e Príncipe.
Em setembro o presidente Lula da Silva participará na Cimeira do G20 que se realizará na Índia e na Assembleia Geral das Nações Unidas, que se realizará em Nova Iorque.
O Brasil está realmente de volta ao seu lugar no mundo como salienta a última edição da revista IstoÉ e, nessa caminhada, há que destacar o homem que, pelo seu prestígio e pelo seu passado, pode protagonizar essa mudança: Luiz Inácio Lula da Silva. 

sábado, 25 de março de 2023

Incêndios florestais fora de época

Como consequência das elevadas temperaturas que se registam na parte oriental da península Ibérica, um incêndio florestal de enormes proporções deflagrou na província de Teruel da Comunidade Autónoma de Aragão e avançou para a província de Castellón na Comunidade Valenciana. Um autarca local referiu-se-lhe como la tormenta perfecta e, tanto a imprensa aragonesa como a imprensa valenciana, destacaram esta notícia, utilizando as palavras peligro e infierno, o que acontece com o elPeriódico de Aragón
De facto, já estão apurados mais de 4.000 hectares devorados pelas chamas e cerca de 1500 pessoas estão desalojadas, mas o incêndio continua muito activo, apesar de estar a ser combatido por duas dezenas de meios aéreos e várias centenas de bombeiros. Porém, os elevados valores da humidade nesta época têm permitido manter o incêndio dentro de um perímetro que as autoridades consideram aceitável. Segundo já foi apurado, a origem do fogo produziu-se a partir de uma queimada agrícola, que estando vigiada, se descontrolou. 
No entanto, é surpreendente e absolutamente inesperado um incêndio desta dimensão nesta altura do ano, o que vem mostrar uma vez mais os danos provocados pelas alterações climáticas e alertar os responsáveis ibéricos para fenómenos desta natureza.

A França, contestação e violência urbana

A França vive desde há algumas semanas uma enorme tensão social, marcada por mobilização sindical, protestos de rua, barricadas, bloqueios e confrontos com a polícia, por vezes a lembrar o Maio de 1968, enquanto a palavra caos tem sido utilizada para descrever a situação. Paris é, naturalmente, o centro de um protesto nacional que se estende por muitas outras cidades, como Bordéus, Lorient, Lyon e Toulouse, onde se têm registado confrontos entre a polícia e indivíduos mascarados que partem vitrinas e montras, vandalizam mobiliário urbano e incendeiam caixotes do lixo. A edição de Toulouse do jornal La Dépêche du Midi descreve a situação como guerrilha urbana e escreve que a cidade está em estado de choque com os níveis de violência e de destruição que se têm verificado. A situação em Paris também é muito grave e muitas ruas apresentam aspectos de destruição inimagináveis. 
O presidente Emmanuel Macron é cada vez mais contestado e ameaçado. Toda esta enorme agitação resulta de uma situação de envelhecimento demográfico e dos problemas de sustentabilidade que suscita em relação à reforma do sistema de pensões e da dívida pública. A resposta governamental a estes problemas seria sempre através de medidas clássicas mas impopulares, como são os cortes nas pensões, o aumento das contribuições laborais ou o aumento da idade da reforma. Sendo a idade da reforma francesa a mais baixa no quadro social europeu, a resposta adoptada pelo governo foi o aumento gradual da idade mínima da reforma dos 62 para os 64 anos de idade, o que tem provocado uma violenta contestação.
Dizem os analistas que o centrismo de Macron e da sua política reformista não vingou. Tanto a Esquerda como a Direita francesas estão insatisfeitas. A França está dividida entre uma contestação que visa alterar os actuais equilíbrios políticos e aqueles que ainda aceitam e compreendem a política de Macron.

sexta-feira, 24 de março de 2023

The world according to Xi Jinpin

Na passada quarta-feira, quando Xi Jinping terminou a sua visita oficial à Rússia, despediu-se de Vladimir Putin com o seguinte comentário: “Há mudanças em curso como não víamos há cem anos. E nós impulsionamos estas mudanças juntos”, ao que Putin respondeu “concordo”.
Este breve diálogo mostra como os três dias da visita de Xi Jinping a Moscovo se traduziram num reforço de uma aliança euro-asiática que já está a preocupar o mundo ocidental euro-atlântico e que o presidente chinês quer mostrar ao mundo que só ele pode assegurar o equilíbrio e a paz mundiais, bem como a estabilidade económica, o que significa que a China quer acabar com aquilo que considera ser a hegemonia americana na ordem internacional e em especial no Pacífico Ocidental. Daí os importantes acordos assinados em Moscovo e os que estão para ser assinados com países africanos, asiáticos e sul-americanos, bem como os discursos em que Xi Jinping e Putin se afirmaram “vizinhos amigos” e “parceiros de confiança”.
A China afirma-se cada vez mais como o negociador mais desejado para se alcançar um cessar-fogo na Ucrânia, ao mesmo tempo que o seu pragmatismo vai marcando pontos no panorama político mundial, enquanto os Estados Unidos aparentam perder terreno com os seus inúmeros problemas internos e os europeus desistiram de ter pensamento próprio e navegam à deriva e sem lideranças prestigiadas, num mar de contradições e de ideias herdadas dos tempos da Guerra Fria. Enquanto isto, a Rússia parece resistir ao isolamento internacional, às sanções económicas e ao moderno armamento com que tem sido combatida.
Nos últimos dias a generalidade da imprensa nacional e internacional, tem veiculado inúmeras opiniões sobre a temática do reforço da aliança russo-chinesa, mas aguarda-se a próxima edição do The Economist, onde se anuncia como tema de maior destaque the world according to Xi. É um dos grandes assuntos do momento e, por isso, é com expectativa acrescida que se aguarda a sua distribuição.

quinta-feira, 23 de março de 2023

Um novo Macau apresenta-se em Lisboa

A imprensa que se publica no território de Macau anunciou nas suas edições de hoje que Ho Iat Seng, o Chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) visitará Portugal entre os dias 18 e 22 de Abril. O jornal Macau Daily Times, que é o único jornal de língua inglesa que se publica na RAEM, destaca essa notícia com uma imagem do Terreiro do Paço e informa que se trata da primeira visita de Ho Iat Seng para fora do país desde que tomou posse do seu cargo em Dezembro de 2019. 
O território de Macau é constituído pela pequena península de Macau e pelas ilhas da Taipa e Coloane e, depois de ter sido administrado por Portugal durante mais de quatro séculos, regressou à soberania da República Popular da China no dia 20 de Dezembro de 1999. Lamentavelmente, a língua portuguesa sempre foi pouco conhecida no território e, depois do regresso de Macau à mãe-China em 1999, o seu desaparecimento parece inevitável, embora as autoridades macaenses afirmem a importância da língua e da cultura portuguesas como elemento diferenciador e uma vantagem competitiva de Macau em relação a outras regiões chinesas. A visita de Ho Iat Seng tem, portanto, uma importância culturalmente simbólica, para além dos seus aspectos económicos, pois a missão macaense integra cerca de quatro dezenas de empresários.
Está anunciado que, entre os dias 15 e 22 de Abril, o Terreiro do Paço vai ser “ocupado” por Macau e pela divulgação promocional da sua cultura e potencial turístico e económico, estando programado um espectáculo de luz e imagem nas fachadas dos seus edifícios, com quatro apresentações por noite. 
É caso para dizer: benvindo Macau!

quarta-feira, 22 de março de 2023

A nova e reforçada aliança russo-chinesa

O presidente chinês Xi Jinping esteve durante três dias em Moscovo numa “viagem de amizade, cooperação e paz”, durante os quais teve alargadas conversações com Vladimir Putin, nas quais foram discutidas as tensões com o ocidente e, em especial com os Estados Unidos, mas também o conflito na Ucrânia e a cooperação bilateral entre os dois países.
O encontro entre Xi e Putin parece ter tido como principal objectivo a afirmação de uma parceria estratégica entre a Rússia e a China, que seja afirmativa e que se assuma como desafiadora da hegemonia mundial dos Estados Unidos, contrariando a lógica ocidental que ainda vem dos tempos da Guerra Fria. O segundo objectivo do encontro foi a discussão do plano de paz para a Ucrânia que a China já tinha apresentado, em que se assume como mediador e que, aparentemente, já poderá estar a ser discutido pelas partes. Xi Jinping disse que muitos países querem negociações de paz e “não querem que seja atirada mais lenha para a fogueira”, enquanto Putin já reconheceu a “atitude equilibrada” da China em relação à crise ucraniana e parece apostado em resolvê-la por meios políticos e diplomáticos. Recentemente, foi a China que conseguiu juntar e conciliar a Arábia Saudita e o Irão que eram considerados irreconciliáveis e esse sucesso diplomático confere à China boas perspectivas em relação ao conflito ucraniano. O terceiro objectivo do encontro entre Xi e Putin foi o reforço da cooperação bilateral, tendo sido anunciados acordos nas áreas do comércio, investimento, energia, megaprojectos e alta tecnologia.
Porém, nada foi revelado no quadro da cooperação militar entre os dois países, mas é preciso ter presente que Xi Jinping e Vladimir Putin já se encontraram cerca de 40 vezes desde 2012 e ambos se reconhecem como amigos, o que significa que a aliança militar entre ambos também saiu reforçada deste encontro. A imprensa mundial deu grande destaque a este encontro que pode alterar os equilíbrios geopolíticos mundiais.

segunda-feira, 20 de março de 2023

O "cherne" e o início da guerra do Iraque

Há 20 anos, no dia 20 de março de 2003, os Estados Unidos iniciaram uma operação no Iraque para derrubar o regime de Saddam Hussein, com o apoio activo do Reino Unido, da Austrália e da Polónia e com a solidariedade de muitos outros países. A acção foi denominada “Operação Liberdade do Iraque” e foi rápida, pois cerca de 21 dias depois as forças americanas entraram em Bagdad. O objectivo da operação era desarmar o regime iraquiano e o seu arsenal nuclear, químico e biológico, mas também impedir que apoiasse organizações terroristas como a al Qaeda, mas foi uma iniciativa muito controversa, até porque a França, a Alemanha e outros países da NATO a criticaram e se recusaram a nela participar. De facto, a operação assentou numa mentira, pois ao contrário do que foi intensamente propalado, o Iraque não tinha nenhum programa activo para a construção de armas de destruição em massa, nem se provou que alguma vez tivesse apoiado organizações terroristas. Quatro dias antes do início da operação, no dia 16 de março, o presidente americano George W. Bush, o primeiro-ministro britânico Tony Blair e o primeiro-ministro espanhol José Maria Aznar encontraram-se na ilha Terceira, onde foram recebidos pelo primeiro-ministro português Durão Barroso, conhecido familiarmente por cherne e que, com esse apoio, conseguiu vir a ser presidente da Comissão Europeia. Nessa cimeira das Lajes foi decidida a operação militar no Iraque e Durão Barroso nunca se penitenciou pelo seu alinhamento com essa intervenção, que foi ilegal e não teve o apoio das Nações Unidas.
Ontem, o jornal catalão La Vanguardia evocou essa decisiva cimeira com a fotografia dos principais responsáveis pela intervenção militar, bem como pela instabilidade e a guerra que se seguiram no Iraque e que causaram mais de cem mil mortos. Alguns já lamentaram ter alinhado na mentira, mas não se conhece nenhuma posição do cherne sobre essa matéria.
Entretanto, Saddam Hussein foi capturado no dia 13 de dezembro de 2003 e depois de um julgamento que durou um ano, foi enforcado no dia 30 de dezembro de 2006, por ter sido considerado culpado por crimes contra a humanidade por um tribunal iraquiano. O líder iraquiano foi eliminado, mas a guerra e a instabilidade continuam no Iraque, enquanto o cherne continua a passear-se como se nada tivesse sido com ele.

domingo, 19 de março de 2023

Cavaco Silva e a sua enorme vulgaridade

Cavaco Silva em caricatura, por Bruno Sousa
Aníbal Cavaco Silva é um cidadão português natural de Boliqueime, que foi ministro das Finanças (1980-1981), primeiro-ministro (1985-1995) e Presidente da República (2006-2016). Talvez só Salazar e o Marquês de Pombal tenham tido uma tão longa actividade governativa em Portugal e esse facto confere-lhe um estatuto singular que os portugueses, quer tenham ou não sido seus apoiantes, devem respeitar.
Acontece que Aníbal Cavaco Silva foi convidado pela Câmara Municipal de Lisboa para intervir numa conferência que assinalou os trinta anos do Programa Especial de Realojamento (PER), que tinha sido lançado em 1993, quando era primeiro-ministro. Não sei se o convite fazia sentido, mas o Aníbal aceitou-o. Vingativo como sempre foi, aproveitou a oportunidade para se vingar de António Costa que, em Novembro de 2015, lhe fez engolir um enorme sapo, quando não ganhou as eleições e o Aníbal se viu obrigado a nomeá-lo primeiro-ministro. O Aníbal andou sete anos com este sapo atravessado e agora, com enorme arrogância, desancou em António Costa e no seu governo, como se fosse líder de um qualquer partido da oposição. Como referiu o jornal Público, no novo pacote de habitação o Aníbal só deu nota positiva ao fim dos controversos vistos gold e, quanto ao resto, “não deixou pedra sobre pedra”. 
O Aníbal não esteve à altura das suas responsabilidades, comportou-se como um político rancoroso e mostrou a sua enorme vulgaridade. Ofendeu o seu estatuto de ex-presidente e, neste jogo de xadrez, fez o papel de um simples peão. Então o homem não veio dizer que a crise habitacional que se vive no país "é o resultado do falhanço da política do governo no domínio da habitação nos últimos sete anos, com custos sociais elevados para muitos milhares de famílias"? Que governante ou que académico pode fazer uma afirmação destas? Onde está a sua seriedade intelectual?
O Partido Socialista que governa com maioria absoluta reagiu e disse que “seria expectável por parte de um antigo chefe de Estado um espírito mais construtivo e menos destrutivo”. E tem toda a razão.

Donald Trump investe na sua reeleição

Donald Trump, o ex-presidente dos Estados Unidos, tem as suas concepções políticas, é um homem muito polémico e acumula problemas judiciais, o principal dos quais é a sua responsabilidade no assalto ao Capitólio acontecido no dia 6 de janeiro de 2021. Agora tem sobre si, entre outras, a acusação relativa a um escândalo ocorrido em vésperas das eleições presidenciais de 2016, quando um seu advogado pagou a uma artista pornográfica para comprar o seu silêncio. Ontem o ex-presidente anunciou que acredita que vai ser detido na próxima terça-feira no âmbito da investigação judicial às suspeitas de ter ordenado esse pagamento e um seu advogado já disse que Donald Trump vai aceitar essa decisão, conforme destacou o jornal nova-iorquino Daily News.
Porém, todos os esforços feitos até agora para levar Donald Trump à Justiça, incluindo duas tentativas de impeachment no Congresso, contribuíram para aumentar a sua popularidade entre os seus apoiantes e, por isso, a sua possível detenção faz parte de uma estratégia pessoal para ampliar a sua base de apoio, uma vez que também já afirmou que continuará a sua campanha para se tornar o candidato do Partido Republicano nas eleições presidenciais de 2024, mesmo que venha a ser formalmente acusado. Daí que Donald Trump tratasse imediatamente de convocar os seus apoiantes para protestarem nas ruas e para “recuperar a nossa nação” e tivesse retomado as declarações arrasadoras para os seus adversários políticos, afirmando que os Estados Unidos são agora “um país do terceiro mundo e a morrer” e que “o sonho americano está morto”, devido aos "anarquistas de esquerda radical que roubaram as nossas eleições”.
As eleições presidenciais dos Estados Unidos que se realizam no dia 5 de novembro de 2024 já estão a aquecer a política americana e Donald Trump investe fortemente na sua reeleição.

sexta-feira, 17 de março de 2023

Incidente russo-americano no mar Negro

Foi há três dias, no passado dia 14 de março, que um caça russo Su-27 terá “colidido” com um drone americano MQ-9 Reaper, numa zona do mar Negro em que os meios aéreos americanos e russos, tripulados ou não tripulados, têm alta probabilidade de se confrontarem, acidentalmente ou não. Relativamente a essa “colisão” têm sido divulgadas diferentes versões, mas um vídeofilme publicitado pelas autoridades americanas que foi captado a partir do seu drone, permite ver que o avião russo se aproximou do drone a alta velocidade e, aparentemente, despejou combustível de forma a perturbar os seus sistemas de navegação ou de propulsão. O drone caiu, mas há dúvidas sobre se essa queda resultou da acção russa, ou se o voo foi abortado pelos próprios americanos que provocaram a sua queda. A imprensa internacional tem reproduzido algumas fotografias retiradas do vídeofilme e tem informado sobre as tentativas de ambos os lados para recuperar os destroços do drone, pois estava equipado com sensores ultramodernos. Um desses jornais é o The Wall Street Journal que afirma que este incidente foi uma provocação russa e que os Estados Unidos têm agora boas razões para dar aos ucranianos as armas de longo alcance que tanto têm pedido.
Este incidente passou-se com um meio aéreo não tripulado, provavelmente em missão de recolha de informações, mas muitos perguntam o que pode acontecer se este tipo de ocorrência envolver meios aéreos tripulados de ambos os lados e possa levar a um confronto directo entre russos e americanos. É por isso que os contactos militares entre os altos comandos americanos e russos continuam a ser um ponto importante nos conflitos em que ambos têm intervenção directa ou indirecta.

A ganância cega das indústrias de defesa

O AUKUS é uma aliança militar tripartida entre a Austrália, os Estados Unidos e o Reino Unido que visa combater o expansionismo chinês na região Ásia-Pacífico. Esta aliança foi formalizada em setembro de 2021 e, nesse contexto, acaba de ser anunciado que até 2030 a Austrália irá receber três submarinos nucleares de última geração de fabrico americano. A China e a Rússia já mostraram preocupação por este anúncio porque, segundo os seus pontos de vista, aquela aliança está a contribuir para a guerra fria naquela região e a minar a paz mundial. A China acusou a “típica mentalidade de guerra fria" dos três aliados anglo-saxónicos e avisou que a entrega destes submarinos à Austrália “apenas irá provocar uma ainda maior corrida às armas, afectar o regime internacional de não proliferação nuclear e prejudicar a estabilidade e a paz na região”.
Entretanto, nem todos os australianos concordam com as decisões do seu governo e, em especial, com os anunciados 368 mil milhões de dólares australianos que o programa dos submarinos vai custar. Uma das vozes mais críticas é a do ex-primeiro-ministro Paul John Keating, que presidiu ao Partido Trabalhista Australiano e dirigiu a Austrália entre 1991 e 1996, que afirmou que “UK and US defence firms would be the major beneficiaries of the exorbitant $368 billion price tag”.
No mesmo sentido se posiciona o jornal The West Australian da cidade de Perth que, na sua edição de ontem, satiriza o AUKUS e apresenta o primeiro-ministro Anthony Albanese “travestido de americano”, a que não faltam os óculos Ray-Ban iguais aos que usa Joe Biden.
O que aqui se salienta é que, por esse mundo fora, há muita gente a “brincar com o fogo” e que são as indústrias militares e a sua ganância pelo lucro, que alimentam as tensões, as corridas armamentistas, as guerras e o sofrimento humano no mundo.

quinta-feira, 16 de março de 2023

Bolsonaro e o seu comportamento indigno

O jornal brasileiro O Globo, que se publica no Rio de Janeiro, noticia hoje que o Tribunal de Contas da União (TCU) “manda Bolsonaro devolver as joias em cinco dias”, referindo-se às joias que lhe foram oferecidas pelo governo saudita em 2021. O TCU já obrigara o ex-presidente a devolver uma espingarda e uma pistola que em 2019 recebera das autoridades das Emirados Árabes Unidos, tendo agora decidido realizar uma auditoria a todos os presentes recebidos pelo Jair durante os quatro anos em que foi presidente do Brasil, porque ele se apropriara indevidamente deles. O chamado “escândalo da joalharia saudita” já corria na imprensa brasileira há vários dias, mas como as notícias podem ser verdadeiras ou falsas, não lhe demos credibilidade porque podiam enquadrar-se nos habituais esquemas de propaganda contra figuras políticas, que tão bem conhecemos em Portugal.
Agora a notícia confirma-se. Jair Bolsonaro tentou introduzir ilegalmente no Brasil um pacote de joias da marca Chopard no valor de três milhões de euros que as autoridades sauditas lhe tinham oferecido e que foram encontradas na mochila de um assessor, tendo sido apreendidas no aeroporto de São Paulo. A imprensa brasileira também relatou que um segundo pacote de joias, composto por um relógio, uma caneta e botões de punho, também da marca Chopard, conseguiu passar os controlos alfandegários e chegar a Bolsonaro, sendo esse o pacote que o tribunal exige agora que seja devolvido.
A troca de presentes é uma tradição na diplomacia e nas relações internacionais, acontecendo com objectos respeitantes à cultura de cada país, mas os países árabes costumam oferecer presentes de ouro, diamantes, rubis e outras pedras preciosas, quando são fortes as relações com os países. Não é o caso do Brasil e, por isso, há fortes suspeitas de corrupção e que haja interesses obscuros nas ofertas feitas aos Bolsonaros.
Em Portugal, o presidente Eanes foi exemplar nessas e em outras questões. Tratou de juntar os presentes que recebeu durante os seus mandatos (1976-1986) e expô-los publicamente porque eram pertença do Estado Português, daí vindo a nascer o Museu da Presidência da República, que foi inaugurado em 2004. No Brasil o comportamento de Jair Bolsonaro foi impróprio, indigno e desonesto, em contraste com o exemplo de seriedade de António Ramalho Eanes em Portugal.

quarta-feira, 15 de março de 2023

AUKUS, uma aliança para desafiar a China

O presidente Joe Biden recebeu na base naval americana de San Diego os primeiros-ministros da Austrália e do Reino Unido a propósito de um negócio de submarinos, mas também de um projecto comum que visa o fortalecimento da influência americana e dos seus aliados na região da Ásia-Pacífico, mas que também é um desafio, ou uma provocação, para a China. Este projecto que já é conhecido pelo seu acrónimo AUKUS, uma associação das palavras Austrália + Reino Unido + Estados Unidos, tem como desígnio a contenção da expansão militar chinesa na região, numa altura em que está em curso a construção de uma frota naval chinesa muito moderna e a conversão de ilhas artificiais em bases no alto mar.
As autoridades chinesas pediram que aqueles países abandonassem a mentalidade da Guerra Fria, uma vez que este projecto ameaça ser um ponto de partida para uma corrida armamentista e constitui um atraso nos esforços de não proliferação nuclear, mas Joe Biden afirmou que os Estados Unidos “salvaguardarão a estabilidade na região Ásia-Pacífico e que esta aliança fortalecerá as expectativas de paz nas próximas décadas”.
No mesmo encontro, o primeiro-ministro australiano Anthony Albanese anunciou como elemento central do AUKUS, a compra pela Austrália de três submarinos de propulsão nuclear e o fabrico de uma quarta unidade com tecnologia americana e britânica. A primeira unidade será entregue em 2030 e o primeiro-ministro australiano afirmou que o plano se prolongará por vários anos e que custará 368 mil milhões de dólares australianos, correspondentes a cerca de 240 mil milhões de dólares americanos, isto é, um valor semelhante ao PIB anual de Portugal! 
Os críticos australianos do AUKUS têm lembrado a política de ziguezague que a Austrália tem adoptado, pois assinou acordos com o Japão, depois com a França e, agora, com os Estados Unidos e o Reino Unido, enquanto ex-primeiro-ministro Paul Keating já afirmou que o AUKUS é "o pior negócio de toda a história", que "é uma afronta" e que "a Austrália voltou a ceder ao seu passado colonial". A imprensa australiana deu grande destaque a este acontecimento, sobretudo o Northern Territories News ou NT News, que se publica em Darwin, que avança o valor do investimento previsto, mas que também ilustra a sua edição com a fotografia de um submarino da classe Virginia, semelhante aos que a Marinha australiana começará a receber depois de 2030.

O insustentável SNS e quem dele se serve

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) é uma conquista da democracia nascida em 1974 e tem expressão no artigo 64º da Constituição da República, ao afirmar que “todos têm direito à protecção da saúde” e que esta se realiza “através de um serviço nacional de saúde universal e geral e, tendo em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos, tendencialmente gratuito”. Muitas vezes esse serviço tem sido apontado como um dos melhores do mundo e Portugal distinguia-se no panorama europeu pela qualidade dos seus serviços públicos de saúde e pela melhoria dos respectivos indicadores, mas hoje a situação parece estar insustentável.
Nos últimos anos, a saúde tornou-se na área mais importante de todas as áreas sociais da governação pelos avultados recursos orçamentais que utiliza. Porém, a prestação de serviços do SNS coexiste com a oferta de serviços de saúde privados, o que gera conflitualidade em vez de complementaridade, o que leva muita gente a dizer que o SNS tem sido desfavorecido em proveito dos grupos privados de saúde. Não sei. A problemática da gestão da saúde é muito complexa e não se enquadra na simplicidade da lei da oferta e da procura, em que de um lado estão os médicos e do outro estão os doentes. É um assunto de gestão a tratar por especialistas e não por aventureiros. O problema é que todos os dias somos confrontados com situações encerramento de serviços, com demissões, com faltas de médicos de família, com adiamento de consultas e cirurgias e com longas filas de espera nas urgências. Sabemos que há uma grave crise de motivação da classe médica e paramédica, agravada pelas condições em que trabalham, pelo desajustamento das suas grelhas salariais e pelas fragilidades estruturais e organizativas do SNS. A situação não surpreende ninguém, pois há muito que “vemos, ouvimos e lemos” como o SNS tem sido pervertido por muitos dirigentes superiores e intermédios incapazes e irresponsáveis, que chefiam os serviços clínicos nos hospitais e nos centros de saúde, mas que se encostam ao seu interesse pessoal e ao vedetismo e que, tal como os músicos do Titanic, continuam a tocar quando o navio se afunda. Não servem o SNS. Servem-se do SNS!
Tudo isto vem a propósito do título escolhido para edição de ontem do jornal i: insustentável. Onde é que já ouvira isto? De facto, alguns dos médicos que me têm ajudado ao longo da vida, já me tinham informado que a situação era insustentável. A tempo souberam denunciar que o SNS estava “preso por um fio” e dizer não. Por isso aqui fica a minha gratidão, mas também a minha solidariedade para com os clínicos CNF, RBM e outros, que têm olhado por mim.

terça-feira, 14 de março de 2023

Dez anos de pontificado do Papa Francisco

O cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio era o arcebispo de Buenos Aires desde 1998, quando no conclave do dia 13 de março de 2013 foi escolhido para suceder ao Papa Bento XVI, que duas semanas antes tinha abdicado do Papado por razões de saúde. Escolheu o nome de Francisco que nunca qualquer Papa usara e tornou-se o primeiro pontífice do continente americano e o 266º Papa da Igreja Católica.
Ontem celebrou-se o décimo aniversário do seu pontificado e essa efeméride foi evocada em muitos países, porque o Papa Francisco não é apenas a figura cimeira da Cristandade e o Chefe do Estado do Vaticano, mas também se tornou uma referência mundial pelo seu estilo, pelo nome que escolheu, pela maneira sóbria como se veste e por mostrar um repetido interesse pelos mais pobres e pelos mais oprimidos. As quarenta viagens que já efectuou, um pouco por todo o mundo, testemunham o impacto do seu estilo directo que se inspira na Companhia de Jesus, a ordem de que provém e onde se professam votos de pobreza. A sua palavra conseguiu dar importantes passos para reaproximar a Igreja Católica dos mais humildes e para incentivar o diálogo com as outras religiões, através das suas encíclicas, exortações e cartas apostólicas, de que se destaca a Evangelli Gaudium, a primeira exortação apostólica do Papa Francisco.
No seu pontificado, o Papa Francisco também tem procurado reformar a Igreja Católica ao colocar na agenda do Vaticano alguns problemas sensíveis como o celibato dos padres, os abusos sexuais e a participação das mulheres na Igreja, mas também alguns novos ou renovados temas como a justiça social, a protecção do ambiente e a desigualdade entre ricos e pobres.
Após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, o Papa Francisco visitou a embaixada russa em Roma e telefonou a Volodymyr Zelensky, procurando uma oportunidade para que houvesse negociações e, um ano depois, afirmou estar disposto a ir a Moscovo e a Kiev para que a guerra acabe.
Muitos jornais de todo o mundo, católicos e não católicos, evocaram o décimo aniversário do pontificado do Papa Francisco, mas para ilustrar esta efeméride escolhemos a capa do jornal El Espectador que se publica na cidade colombiana de Bogotá.

domingo, 12 de março de 2023

É tão grande o chauvinismo dos franceses

Na semana que hoje termina a França tem estado em ebulição social com protestos e greves que contestam o projecto de lei apresentado pelo governo que prevê aumentar a idade legal de reforma, gradualmente até 2030, dos actuais 62 anos até atingir os 64 anos. Esta semana foi decretada uma greve geral, subiu o tom dos protestos, houve distúrbios em várias cidades, fecharam escolas, os transportes públicos paralisaram e houve muitas prisões. O Senado já aprovou a intenção do governo, pelo que a contestação continua nas ruas, o que tem sido mostrado nas televisões.
Na passada sexta-feira o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak (42 anos de idade e 1,70 m de altura) atravessou o canal e foi encontrar-se em Paris com o presidente francês Emmanuel Macron (45 anos e 1,73 m de altura). Desde 2018 que os dois vizinhos não se reuniam numa cimeira franco-britânica e daí a importância deste encontro em que trataram de assuntos de interesse comum, sobretudo a contenção de migrantes que procuram atravessar o canal da Mancha, mas também o fortalecimento de laços militares e, naturalmente, da questão ucraniana que tanto dinheiro lhes custa.
Porém, nas suas edições de hoje, um grande número de jornais franceses não trata das greves, nem dos protestos, nem dos distúrbios, nem da visita de Rishi Sunak. Quase sempre com a palavra historique em grande evidência, muitos jornais franceses destacam a vitória da selecção francesa de rugby sobre a Inglaterra por 53-10, a maior de sempre entre as duas selecções rivais. Essa vitória foi obtida no “santuário” de Twickenham, no sudoeste de Londres, que é o segundo maior estádio do Reino Unido e o maior estádio exclusivo da prática do rugby, onde tomam assento 82 mil espectadores.
Um simples jogo de rugby fez esquecer tudo o resto, incluindo o protesto e a política. É o chauvinismo francês em toda a sua extensão. E nós que às vezes pensamos que somos uns exagerados...

quarta-feira, 8 de março de 2023

Hoje foi o Dia Internacional da Mulher

Hoje celebrou-se o Dia Internacional da Mulher, como acontece anualmente no dia 8 de Março, a data adoptada em 1975 pelas Nações Unidas para recordar as reivindicações das mulheres relativas à igualdade de género e as suas conquistas nas lutas políticas, sociais e económicas, que travam para verem reconhecidos os seus direitos, independentemente das suas origens nacionais, étnicas, linguísticas, políticas, culturais ou económicas.
O princípio da igualdade entre homens e mulheres, foi reconhecido pela primeira vez na Carta das Nações Unidas adoptada em 1945, o que significa que essa luta desenvolvida desde o século XIX, ainda está longe de atingir o seu justo resultado na generalidade dos países do mundo, onde a mulher é muitas vezes vítima de acrescida exploração. Em Portugal tem havido muitos progressos no reconhecimento do papel da mulher na sociedade, sobretudo na política, no desporto, na ciência e na cultura, nas artes decorativas e nos mass media, mas na esfera empresarial ainda predomina o elemento masculino e, sobretudo, continua vivo o princípio que não reconhece que a trabalho igual deva corresponder salário igual. Um estudo recente revela que a paridade salarial entre homens e mulheres só chegará a Portugal em 2051!
Hoje, muitos jornais internacionais dedicam as suas capas ao Dia Internacional da Mulher, mas escolhemos a edição do Diário de Notícias que homenageia a mulher e ilustra a sua primeira página com um desenho do escultor e pintor Francisco Simões, mas também porque reuniu nos Jerónimos as embaixadoras estrangeiras acreditadas em Portugal. Foi uma excelente ideia editorial, até porque dos 126 embaixadores acreditados em Portugal, há 40 que são mulheres e, destas, há 28 que são residentes e fizeram declarações ao jornal. Finalmente, para que conste, Portugal tem actualmente 93 embaixadores, dos quais 24 são mulheres.

sábado, 4 de março de 2023

Pódios e medalhas do atletismo português

Ontem em Istambul, os atletas portugueses Pedro Pichardo no triplo salto e Auriol Dongmo no lançamento do peso, tornaram-se bicampeões da Europa e conquistaram medalhas de ouro, durante as provas do 2023 European Athletics Indoor Championships.
Outros atletas como Tiago Pereira, Jessica Inchude e Arialis Martinez ficaram à porta das medalhas. É um desempenho notável numa modalidade desportiva que, como poucas, exige muito trabalho, dedicação e sacrifício para se poder competir na alta roda. É uma das melhores prestações portuguesas de sempre no atletismo em pista coberta e, no fim dos dois primeiros dias de provas, acontece que, com duas medalhas de ouro, Portugal está no primeiro lugar do medalheiro, à frente de todos os outros. É mesmo um grande acontecimento desportivo! 
Hoje pudemos ver na televisão as cerimónias protocolares da entrega das medalhas, ouvir duas vezes o hino nacional, ver a bandeira portuguesa no topo do mastro de honra e, sobretudo, apreciar a forma emocionada e comovente como Auriol Dongmo cantou o hino nacional português. Notável.
Hoje, também, o Diário de Notícias destacou como nenhum outro jornal, este grande feito desportivo dos atletas portugueses, o que aqui se saúda vivamente, ao mesmo tempo que se lamenta o sectarismo e a evidente mediocridade da imprensa desportiva portuguesa, que hoje se limita a dar aquela notícia de maneira discreta e que, de forma desproporcionada, destaca com elogios e grandes fotografias um jovem futebolista chamado Gonçalo Ramos, que ontem marcou dois golos à equipa do Famalicão. Dois golos marcados à equipa do Famalicão valem mais do que duas medalhas de ouro? Esta imprensa desportiva portuguesa não forma, nem informa. Faz fretes.

quinta-feira, 2 de março de 2023

As redes sociais ao serviço da espionagem

As redes sociais são estruturas que ligam as pessoas ou as organizações. Nos últimos anos essas redes têm-se desenvolvido rapidamente com base nos suportes online, permitindo a troca de informações e o relacionamento social. Tem sido uma revolução cultural contínua em todo o mundo e, entre outras, destacam-se as chamadas redes sociais de relacionamento como o Facebook, o Twitter, o WhatsApp, o Telegram, o Instagram, o Google+, o Youtube, o My Space e o Badoo, bem como as redes profissionais como o Linkedin e outras de natureza diversa. São tantas as redes sociais que os cidadãos têm grande dificuldade em acompanhar as suas evoluções e adaptações aos tempos, às modas ou à concorrência entre si, mas não há dúvidas que têm uma importância cada vez maior nas sociedades modernas, ao construir realidades virtuais, sociabilidades e acontecimentos fictícios, sem qualquer tipo de regulação. As redes sociais têm contribuído largamente para o progresso cultural e social das comunidades, mas têm gerado grandes problemas como a invasão da privacidade, a difamação gratuita e sentimentos de medo, para além de estarem na primeira linha do estabelecimento de uma nova ordem mundial.
Uma das mais recentes redes sociais é o TikTok que apareceu em 2019 com grande sucesso ao permitir partilhar vídeos muito curtos, é detida por uma empresa chinesa e há suspeitas de que possa ser usada para fazer espionagem, o que compromete a segurança nacional. Assim, em 2020 a Índia proibiu a utilização do TikTok, juntamente com dezenas de outras aplicações chinesas, alegando serem potencialmente prejudiciais à segurança e à integridade do país. Nos Estados Unidos e no Canadá a rede TikTok vem sendo considerada como uma perigosa porta de entrada da China na sociedade americana e na União Europeia também o Parlamento Europeu, o Comité das Regiões e o Conselho Económico e Social decidiram proibir a rede social TikTok nos telemóveis profissionais, recomendando ainda a sua exclusão em dispositivos pessoais. 
O jornal Libération dedica a sua edição de hoje ao TikTok e salienta que se multiplicam as interdições contra a rede social chinesa por suspeitas de espionagem, isto é, as crescentes tensões internacionais também passam pelas redes sociais.