quinta-feira, 2 de julho de 2015

O nosso melhor embaixador é um navio

Os americanos têm um enorme envolvimento emocional e cultural com o 4th July, o seu Dia da Independência, que evoca o dia do ano de 1776 em que as treze colónias rebeldes subscreveram a Declaração de Independência e declararam a separação formal do Império Britânico.
Por razões históricas esse envolvimento acontece sobretudo na costa leste dos Estados Unidos e, em especial, nas cidades costeiras dos estados de Nova Iorque, Maryland, Virginia, Pensilvânia, Massachusetts e Connecticut. Nas cidades de vocação marítima realizam-se grandes festivais náuticos para celebrar a independência americana e, neste ano de 2015, a costa leste está a receber a visita dos veleiros que participam na Tall Ships Challenge Atlantic Coast 2015, que durante os meses de Junho e Julho escalam uma dezena de portos, designadamente Yorktown, Baltimore, Filadélfia, Nova Iorque, Newport e Boston. Esta ano, talvez por razões orçamentais, a participação europeia limita-se às réplicas da fragata francesa L’Hermione e do galeão espanhol Andalucia, mas também da barca portuguesa Sagres. O nosso navio-escola já visitou Filadélfia, onde a sua presença foi muito destacada nas redes sociais da comunidade portuguesa, navegou depois para Nova Iorque onde estará no dia 4 de Julho, seguindo-se New Bedford e Boston.
A edição de hoje do semanário Suffolk Times que se publica em Mattituck – New York, dedica a sua primeira página ao 2015 Greenport Tall Ships Challenge Festival e, entre outros veleiros, apresenta a imagem da Sagres.
A presença da Sagres nestes portos vai ser, como sempre acontece, uma grande festa e um motivo de grande orgulho para a comunidade portuguesa e, por isso, esta viagem merece o nosso aplauso. Ou não fosse o navio-escola Sagres o nosso melhor embaixador.

O caso BES ainda vai mexer no meu bolso

Foram anunciados os nomes dos candidatos à compra do Novo Banco e, de acordo com o que foi noticiado, as ofertas vinculativas dos três candidatos - Anbang, Fosun e Apollo - dificilmente atingirão os 2,5 milhões de euros, o que significa que apenas será recuperado metade do montante de 4,9 milhões de euros que foi injectado pelo Fundo de Resolução, uma entidade recentemente criada e que por falta de fundos foi financiada pelo Estado. O tema faz hoje manchete no Jornal de Notícias e, naturalmente, é muito preocupante porque revela que o caso BES tem sido tratado com muita incompetência, alguma desfaçatez e muita mentira. É grave que os nossos dirigentes tratem os cidadãos dessa maneira.
Nos primeiros dias de Agosto do ano passado, depois do BES ter apresentado prejuízos históricos de 3,6 milhões de euros, o Banco de Portugal anunciou uma injecção de capital de 4,9 milhões de euros e a criação de um "banco mau" e de um "banco bom", que passou a chamar-se Novo Banco. A solução de financiamento encontrada foi um empréstimo do Estado ao Fundo de Resolução, a ser reembolsado pela venda do novo banco e pelo sistema bancário, onde se inclui a CGD. Muitas vozes se levantaram então contra o facto de, previsivelmente, os contribuintes portugueses virem a suportar uma boa parte dos custos do financiamento do BES, tal como já acontecera no caso do BPN. Lembremo-nos que duas semanas antes, de passeio pela Coreia, o Presidente da República tinha dito que “os portugueses podem confiar no BES”. Afinal não era verdade e aconteceu a intervenção. A Ministra das Finanças garantiu então que "os contribuintes não terão de suportar os custos relacionados com a decisão tomada hoje”, enquanto o Presidente da República veio considerar “totalmente errado” o que tem sido dito nos últimos dias sobre o BES e rejeitou que eventuais prejuízos na CGD, por causa do seu envolvimento no resgate, viessem a resultar num custo para os contribuintes. Agora, quando se sabe que apenas vai ser recuperado metade do dinheiro aplicado no BES, temos que perguntar ao Presidente da República e à Ministra das Finanças quem vai pagar o resto, isto é, ou não perceberam nada do que estava a acontecer ou quiseram enganar-nos. É que eles foram peremptórios a afirmar que os contribuintes não suportariam esses custos.

O nosso futebol morre ao chegar à praia

Na passada terça-feira à noite jogou-se em Praga a final do UEFA Under-21 Championship organizado pela UEFA, em que se defrontaram as selecções de Portugal e da Suécia. A partida terminou empatada mesmo depois do prolongamento, pelo que se recorreu à marcação de grandes penalidades para apurar a equipa campeã europeia de futebol para jovens com menos de 21 anos de idade. Ganhou a equipa sueca, pois marcou quatro vezes, enquanto os portugueses só marcaram três vezes. Como tantas vezes nos acontece no desporto, “morremos ao chegar à praia”. A selecção portuguesa tinha brilhado e era a única que não tinha perdido nenhum jogo, era a equipa que mais golos tinha marcado e a que menos golos sofrera. Deixara pelo caminho a Inglaterra, a Itália e a Alemanha. Praticava um futebol artístico, maduro e consequente que entusiasmava. As expectativas eram muito altas e a fome de êxitos futebolísticos era grande em Portugal. Parecia ser a grande oportunidade, mas não correu bem. O adversário não foi melhor, mas foi mais feliz. Tudo correu bem, menos os pontapés de grande penalidade.
Há duas semanas tinha acontecido o mesmo no FIFA U-20 World Cup New Zealand 2015, quando as grandes penalidades brasileiras nos afastaram das meias finais. Habituado a este tipo de situações também no hóquei em patins e no futebol de praia, o nosso público aceitou estes resultados com resignação. Com base na prestação dos futebolistas no UEFA Under-21 Championship, uma equipa de observadores técnicos da UEFA escolheu a formação ideal do campeonato: um alemão, um inglês, um dinamarquês, três suecos e cinco portugueses e, além disso, escolheu um português como o melhor jogador do torneio. Uma pequena consolação. A Suécia delirou e os jogadores foram recebidos numa apoteose nunca vista naquelas terras. Todos os principais jornais suecos destacaram a vitória da sua equipa como a grande notícia do dia, ilustrando-a com fotografias a seis colunas nas suas primeiras páginas. Um deles foi o Kvällsposten, que se publica em Malmö. Imaginemos que o resultado tinha sido diferente e imaginemos o que fariam os nossos jornais.