sábado, 27 de abril de 2024

25 de Abril: património comum do PALOP

As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, numa feliz iniciativa do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, trouxeram a Lisboa os presidentes das Repúblicas de Angola, de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, de Moçambique, de S. Tomé e Príncipe e de Timor Leste, apenas faltando o presidente Lula da Silva que se fez representar pelo seu Ministro dos Negócios Estrangeiros.
A par das grandes manifestações populares realizadas por todo o país e das habituais cerimónias promovidas na Assembleia da República, a sessão realizada no Centro Cultural de Belém em que participaram aqueles sete presidentes de países de língua oficial portuguesa, foi um marco relevante nas comemorações, mas tammbém no futuro da CPLP. Foram sete discursos de grande importância histórica e política, que condenaram o colonialismo salazarista e a guerra colonial, que elogiaram a liberdade reconquistada pelo 25 de Abril e a abertura de negociações para a paz, mas que reforçaram os sentimentos de amizade e de cooperação entre os países de língua oficial portuguesa. Como refere o Jornal de Angola e foi salientado por João Lourenço, o presidente da República Popular de Angola, “a nossa causa era a mesma que a do povo português”. O 25 de Abril foi, portanto, um movimento que libertou o povo português de uma ditadura cruel e retrógrada, mas também se pode afirmar que resgatou os povos colonizados e muitos dos excessos do colonialismo português.
Não é frequente que os presidentes dos países que têm a língua portuguesa como língua oficial se encontrem pessoalmente e, por isso, este encontro proporcionado pelas comemorações do 25 de Abril foi um ponto alto, que demonstra como aquele movimento libertador é um património comum que foi incorporado na história das antigas colónias portuguesas.

sexta-feira, 26 de abril de 2024

25 de Abril sempre!

O semanário Expresso adquiriu um estatuto de jornal de investigação, de objectividade noticiosa e de não alinhamento partidário, que lhe conferem uma singular posição de prestígio no panorama da imprensa portuguesa. Nascido há mais de 51 anos, o seu grafismo foi sempre muito discreto e nunca apostou em grandes manchetes, nem sequer no sensacionalismo com que muitas vezes se enganam os leitores. Porém, na edição de ontem que dedicou aos 50 anos do 25 de Abril, o semanário parece ter sido seduzido pelo entusiasmo popular e pelos cravos vermelhos que regressaram às ruas portuguesas, utilizando uma ilustração que representa a alegria do povo e um advérbio de tempo que aparece muitas vezes associado ao 25 de Abril: sempre.
Até parece que o Expresso só agora aderiu aos ideiais do 25 de Abril, o que obviamente não é verdade. Numa altura em que há sérias preocupações quanto ao futuro, tanto lá fora como por cá, os portugueses regressaram às grandes manifestações populares e mostraram como estão alinhados com os ideais da Liberdade e da Democracia, podendo afirmar-se com segurança, que ressuscitaram a força mobilizadora, as esperanças e o entusiasmo do 25 de Abril, voltando a cantar as canções de José Afonso. A simbólica manifestação que em Lisboa costuma descer a avenida da Liberdade, juntou muitos milhares de pessoas, um verdadeiro mar de gente como já não se via desde há muitos anos. Como diria Chico Buarque, “foi bonita a festa pá, fiquei contente”.
A imprensa portuguesa, bem como alguma imprensa estrangeira, associaram-se a esta efeméride e destacaram os progressos sociais proporcionados aos portugueses pelas “portas que Abril abriu”, lembrando que a revolução portuguesa também inspirou a democratização em Espanha, na Grécia e em vários países da América Latina, para além de ter permitido o fim da guerra colonial e a independência dos novos países de língua oficial portuguesa.
Tal como o Expresso escreveu na sua edição de ontem, também aqui deixamos a nossa mensagem: 25 de Abril sempre!

terça-feira, 23 de abril de 2024

A cidade de Macau: não há outra mais leal

No século XVI, segundo escreveu Luís de Camões, os portugueses andaram “por mares nunca de antes navegados e passaram ainda além da Taprobana”. Passados cinco séculos de convivência luso-asiática, as marcas dessa passagem ainda são observáveis em vários países e regiões da Ásia do Sul, do Sudoeste Asiático e da Ásia Oriental, tanto nos seus patrimónios materiais, como imateriais.
Macau é, porventura, o maior símbolo dessa realidade. Depois de 442 anos de administração portuguesa, o território regressou à soberania chinesa em 1999 e tornou-se a Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China que, de acordo com a famosa Declaração Conjunta Sino-Portuguesa de 1987, conservará durante 50 anos o seu modo de vida e as suas especificidades culturais, resultantes do longo período em que o território foi administrado por Portugal.
Hoje, a marca portuguesa em Macau não é tão forte como muitos desejariam, mas também não é tão fraca como muitos acusam. Um facto revelador da força da memória portuguesa em Macau aconteceu em 2005, quando a Unesco inscreveu o Centro Histórico de Macau na sua World Heritage List, como “testemunho único do encontro de influências estéticas, culturais, arquitectónicas e tecnológicas do Oriente e do Ocidente”. Nesse território, a que estão emocionalmente ligados muitos milhares de portugueses e onde existem três jornais diários em português, também os 50 anos do 25 de Abril vão ser comemorados, como anuncia na sua edição de hoje o diário hojemacau
Naturalmente, ocorre-nos o título concedido à cidade em 1654 pelo rei D. João IV, como recompensa à lealdade da população portuguesa da cidade durante a ocupação filipina: Cidade do Santo Nome de Deus de Macau, Não Há Outra Mais Leal.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

A imprensa e a evocação do 25 de Abril

Estão a comemorar-se cinquenta anos sobre o 25 de Abril de 1974 – o dia inicial, inteiro e limpo, como se lhe referiu Sofia de Melo Breyner – e, sem polémicas nem contestações, os portugueses estão a celebrar essa data histórica com entusiasmo.
Numa sondagem publicada na última edição do semanário Expresso era revelado que 65% dos portugueses considerava o 25 de Abril o mais importante acontecimento da História de Portugal, enquanto 68% entendia que o modelo de comemoração oficial ainda faz sentido. De facto, um pouco por todo o país, em especial nas escolas, nas autarquias e nas associações cívicas, tanto o Estado como a sociedade civil têm vindo a celebrar a reconquista da Liberdade e da Democracia por diferentes formas, sobretudo exposições, conferências, colóquios, torneios desportivos e festas populares.
A comunicação social tem-se associado a esta histórica celebração com edições especiais, nas quais se fazem balanços, se evocam episódios mais ou menos conhecidos, se republicam fotografias históricas e se destaca o papel de alguns protagonistas como Salgueiro Maia, Otelo Saraiva de Carvalho ou Vasco Lourenço. Porém, a edição especial do Jornal de Letras, Artes e Ideias ou, simplesmente JL, dirigida pelo histórico José Carlos de Vasconcelos, difere da generalidade das outras edições especiais, ao focar-se na análise dos 50 anos de Liberdade e Democracia através de textos subscritos por diversos intelectuais de referência. É frequente que, por motivos comerciais, algumas edições especiais usem a frase “esta é uma edição para guardar”, mas não é o caso do JL, embora tivesse todo o sentido que essa recomendação fosse feita. É mesmo uma edição para ler e guardar!

sábado, 20 de abril de 2024

A Índia e o extremismo de Narendra Modi

O complexo processo eleitoral indiano arrancou ontem e vai desenvolver-se até ao dia 1 de junho, tendo como favorito à vitória final o Bharatiya Janata Party ou BJP, o partido de Narendra Modi, o actual chefe do Governo. Serão quase 970 milhões de eleitores que irão escolher os 543 membros do Lok Shaba, a câmara baixa do parlamento indiano, que depois escolherá o primeiro-ministro para os próximos cinco anos. Há dez anos no poder, o primeiro-ministro Modi lidera com mão de ferro o BJP, com o apoio de um poderoso braço político-militar que é o Rashtriya Swayamsevak Sangh ou RSS, um grupo paramilitar nacionalista hindu, com características extremistas de direita. 
O autoritarismo é, provavelmente, a marca mais relevante da política de Modi e tem sido utilizada na repressão dos movimentos dos pequenos agricultores, nos ataques à liberdade de expressão e ao jornalismo independente, mas também na afirmação do sectarismo religioso hindu. 
Segundo relata hoje o jornal The New Indian Express, que insere um anúncio de primeira página em que Narendra Modi apela ao voto, na sua campanha eleitoral ele atacou os seus adversários por não terem liderança nem visão de futuro, denunciando a influência “de várias pessoas grandes e poderosas, tanto a nível nacional como internacional, que deram as mãos para o destituir do seu cargo”. Porém, o RSS e os seus grupos paramilitares radicais e que actuam com evidente protecção do poder do BJP e de Narendra Modi, têm conduzido acções de grande violência contra mesquitas e igrejas, que as grandes potências tendem a ignorar pois o que lhes interessa é o liberalismo económico indiano e os grandes negócios de armamento. 
Os católicos de Goa, um dos 28 estados da Índia, têm vivido com muita preocupação a permanente ameaça que constitui o RSS, sobretudo nesta fase em que são mobilizados pelo processo eleitoral.

Paris 2024: só faltam 100 dias para a festa

Os Jogos Olímpicos de 2024 ou Jogos da XXXIII Olimpíada vão disputar-se em França entre os dias 26 de julho e 11 de agosto de 2024, com a cidade de Paris a ser o centro desse grande evento mundial, embora se realizem provas desportivas em 16 cidades da França Metropolitana, ou no Hexágono, como os franceses por vezes se referem ao seu território europeu.
Há dias, quando faltavam 100 dias para a cerimónia de abertura desta Olimpíada, a generalidade da imprensa francesa dedicou grandes reportagens ao acontecimento e tratou de forma especial, ou até com o costumado chauvinismo francês, os atletas que vão defender “l’honneur de la France”. O jornal Le Parisien foi apenas um dos jornais que dedicou uma edição especial ao acontecimento, tendo escolhido “les 100 Français qui vont faire briller les Jeux”, sobre os quais colocou o peso de ganharem medalhas e de levarem a bandeira tricolor a subir ao ponto mais alto dos mastros olímpicos.
Os Jogos Olímpicos são um enorme investimento financeiro que, sobretudo, visa proporcionar ao país-organizador ganhos de prestígio e de afirmação internacional, com repercussão em todas as áreas da vida francesa, como por exemplo no turismo, no comércio, no desporto, na diplomacia e em muitas outras áreas. Durante duas semanas, os olhos e os ouvidos do mundo estarão concentrados em França, mas também na bandeira francesa, enquanto os franceses esperam ouvir muitas vezes La Marseillaise, o hino nacional da França. O pequeno Emmanuel Macron vai jogar a sua popularidade e o seu prestígio no plano internacional, mas sobretudo no plano interno, como se fosse um atleta em prova.

A guerra iminente ou o fim de um capítulo

A enorme rivalidade e a consequente conflitualidade existentes entre Israel e o Irão tiveram nos últimos meses uma grande e muito preocupante aceleração, cujos pontos mais altos terão sido o ataque ao consulado iraniano em Damasco efectuado no dia 1 de abril por aviões israelitas F-35, a que se seguiu um ataque de retaliação em larga escala, realizado no dia 14 de abril, em que foram lançados cerca de três centenas de drones, mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos iranianos sobre território israelita. O massacre que tem sido feito aos palestinianos em Gaza parece ter sido esquecido, bem como a exigência do fim da venda de armas a Israel, que alguém já classificou como “a ruína moral do Ocidente”.
O mundo pediu contenção aos dois adversários. Hoje, a edição da revista alemã Der Spiegel  publica as imagens do ayatolá Ali Khamenei e de Benjamin Netanyahu, afirmando que o conflito entre o Irão e Israel é perigoso para o mundo e perguntando se estamos perante o início da próxima guerra mundial. Porém, em sentido inverso, o jornal Público destaca na sua edição de hoje que o “ataque limitado de Israel pode ser o fim de um capítulo perigoso”.
As nossas televisões estão inundadas de eruditos comentadores e comentadoras que nos dão todas as análises opinativas e especulativas sobre aquele conflito, por vezes com lições de história aprendidas apressadamente no Google, mas parece que sabem pouco sobre o que se está a passar, como mostram as manchetes de hoje da revista alemã e do jornal português.
O nosso voto é que o jornal português tenha razão e que já estejamos no “fim de um capítulo perigoso”.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Açoriano Oriental: 189 anos de vida cívica

Completa hoje 189 anos de idade o jornal Açoriano Oriental, um diário que se publica na ilha de São Miguel desde o dia 18 de abril de 1835, sempre com o mesmo nome e de forma contínua e regular. É uma relíquia ou um monumento nacional, pois não só é o mais antigo jornal em circulação em Portugal, como também é um dos dez jornais mais antigos do mundo.
Hoje, o jornal mantém o seu dinamismo editorial e, a provar que está vivo e de boa saúde, assinalou o seu 189º aniversário com uma edição especial dedicada ao debate do tema “Que futuro para os Açores, 50 anos após o 25 de Abril”, na qual diversos especialistas tratam a problemática das ilhas dos Açores em diferentes áreas temáticas, incluindo o desenvolvimento económico, a cultura, a política, os parques tecnológicos, o turismo, a agricultura e as pescas, engtre outros, sempre orientados para o futuro.
A propósito da efeméride que hoje se celebra, também foi organizada uma exposição na cidade de Ponta Delgada em que, através da apresentação de algumas das suas primeiras páginas, é possível apreciar a evolução gráfica do jornal e recordar o relato então feito de alguns momentos históricos da vida açoriana, como a erupção vulcânica dos Capelinhos ou a visita do Papa João Paulo II.
Enquanto leitor do Açoriano Oriental desde há muitos anos, é com muita satisfação que acompanho esta histórica efeméride e aplaudo aqueles que diariamente constroem cada edição do jornal.

Uma evocação francesa do 25 de Abril

O 25 de Abril de 1974 foi um acontecimento histórico que devolveu a Liberdade e a Democracia aos portugueses, depois de 48 anos de Ditadura, mas sua importância foi universal, como mostra a edição nº 517, de Março de 2024, da revista francesa L’Histoire, que agora surgiu à venda em Portugal e que no seu Dossier Portugal 1974, inclui uma alargada reportagem intitulada “Portugal: la Révolution des Œillets”.
Cinquenta anos depois do “jour initial, entier et pur”, segundo as palavras de Sophia de Mello Breyner, o 25 de Abril é evocado em França como uma data histórica e libertadora. São 27 páginas muito ilustradas, com fotos e infografias, que são assinadas por diferentes especialistas franceses, entre os quais Yves Léonard que, no seu extenso texto escreveu que “com o 25 de Abril se abriu uma porta para a democracia, que depois foi fonte de inspiração para a Grécia, para a Espanha e para a América Latina”. Sobre a guerra colonial que foi determinante na iniciativa libertadora e num tempo a que chamou “le printemps des capitaines”, o mesmo autor mostra possuir boa informação e escreveu que se fala mesmo de um “Vietnam português na Guiné-Bissau” em que “os três G” – os três quartéis de Guidage, Guileje e Gadamael, cercados pelas forças da guerillha independentista do PAIGC – eram, em Maio de 1973, “sinónimo de corredor da morte para as tropas portuguesas”. O texto de Yves Léonard recorda o efeito dos ideais libertadores portugueses na Europa e lembra o que cantava Georges Moustaki em 1974: “Dis-leur qu’un oeillet rouge a fleuri au Portugal”.
O Dossier Portugal 1974 inclui outros textos de muito interesse, nomeadamente “La révolution vue de France”, onde se afirma que o 25 de Abril foi também “une affaire française”, porque havia quase um milhão de emigrantes portugueses em França, muitos dos quais tinham deixado o país clandestinamente para fugir à pobreza, à guerra e à ditadura de Salazar.
Em síntese, é uma belíssima edição de homenagem ao 25 de Abril e a Portugal.

terça-feira, 16 de abril de 2024

Feira de Sevilha é a casa dos sevilhanos

A Feira de Sevilha é um festival de interesse turístico internacional e decorre desde 14 de abril, prolongando-se até ao dia 20. Durante uma semana, a cidade de Sevilha está em festa, com os sevilhanos e os forasteiros a divertirem-se na feira onde se encontram mais de um milhar de stands de todo o tipo, para além da música, da dança, da gastronomia e, sobretudo, das touradas, que animam toda a gente, todos os dias e até altas horas da madrugada. Durante uma semana, diz-se que “a feira é a casa dos sevilhanos”.
Com a feira intensifica-se a temporada tauromáquica sevilhana, estando anunciadas catorze corridas de touros e a apresentação de alguns dos mais famosos toureiros do momento. De forma diversa do que acontece em Portugal onde a festa brava é cada vez mais hostilizada, em Espanha e em especial na Andaluzia e na Extremadura, o entusiasmo pelas touradas quase provoca o delírio e é uma afirmação cultural bem forte, sobretudo quando se realizam na Plaza de Toros da Real Maestranza de Sevilla. Na feira de este ano estarão presentes os espadas Morante de La Puebla em cinco corridas e os espadas Roca Rey e Daniel Luque em quatro, mas há sempre alguns matadores que não são contratados e deixam os seus apoiantes desiludidos.
Nas suas edições de hoje, tanto o Diario de Sevilla como o jornal ABC dedicaram as suas primeiras páginas à corrida de touros de ontem, destacando o matador sevilhano Juan Ortega que brilhou e que “hace la faena de la Feria”.
Naturalmente que a Feria de Sevilla não é só tourada, mas o facto é que a imprensa de referência da cidade é na tourada qure encontra o destaque da notícia.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Prudência e contenção no Médio Oriente

Na interpretação dos conflitos internacionais, sobretudo daqueles em que as partes se provocam, se ameaçam e recorrem a soluções pela via militar, os estudiosos procuram sempre saber as causas dessas situações, mas encontram-se muitas vezes confrontados com um dilema, ou um enigma, que é o de saber quem veio primeiro ao mundo, se foi o ovo ou a galinha. Um pequeno incidente ou um pequeno conflito localizado, servem muitas vezes de pretexto para que uma das partes suba o patamar da conflitualidade e acuse e agrida, ou responda e retalie, como se tem visto na Ucrânia e no Médio Oriente. As causas profundas existem, mas os pretextos são muitas vezes fabricados e ampliados, enquanto as vítimas são, por agora, os ucranianos e os palestinianos. Se em relação ao conflito da Ucrânia com a Rússia costumamos dizer que é a altura de pararem, no que respeita ao conflito do Irão com Israel o que há a dizer é que não comecem.
A comunidade internacional e as maiores potências mundiais, têm repetido a necessidade de haver muita contenção, pois a continuação da escalada é uma séria ameaça à paz mundial, para além de ambas as partes já poderem reclamar que atingiram os seus objectivos, um porque atacou o adversário no seu próprio território e o outro porque deteve centenas de mísseis e drones iranianos. Os Estados Unidos já anunciaram que não querem ser arrastados para o conflito até porque têm eleições presidenciais, enquanto o Reino Unido e a França sabem que se arriscam a que a guerra chegue a Londres e a Paris. Por tudo isto, é preciso baixar as tensões e fazer com que a Diplomacia encontre soluções.
Essa é a orientação que a imprensa mundial parece adoptar, sugerindo prudência a ambas as partes, mas muita prudência, porque está ameaçada a paz mundial. Assim faz, também, a edição de hoje do jornal Dennik N, que se publica na cidade eslovaca de Bratislava.

domingo, 14 de abril de 2024

O confronto não desejado de Irão e Israel

Os espaços televisivos anunciaram ontem à noite que o Irão lançara um ataque aéreo maciço de retaliação contra Israel, que era esperado desde o ataque israelita de 1 de abril contra o complexo diplomático iraniano em Damasco, no qual morreram vários oficiais iranianos. Apesar de viverem há muitos anos em clima de ameaça e de inimizade, foi a primeira vez que o Irão atacou directamente o território israelita, enquanto Israel já antes atacara o solo iraniano. O medo da guerra no Médio Oriente acordou. Toda a região entrou em estado de alerta e o mundo aumentou muito o seu grau de ansiedade e preocupação.
A imprensa matutina ainda não dispunha de informações suficientes e independentes sobre o impacto do ataque iraniano, mas as manchetes já apareceram com o sensacionalismo de “quem quer vender jornais”, assim sucedendo com vários jornais como o nova-iorquino Daily News.
Era sabido que cerca de três centenas de mísseis e de drones tinham sobrevoado o Iraque, a Síria e a Jordânia, mas na sua grande maioria, ou cerca de 99%, terão sido neutralizados pelas forças israelitas, com a ajuda americana e inglesa. Entretanto, as autoridades iranianas declararam que a operação militar contra Israel “foi concluída”, mas que se houver resposta israelita a este ataque “a próxima operação será muito maior” e, ao mesmo tempo, avisaram os Estados Unidos que as suas bases militares na região serão um alvo iraniano, no caso de virem a cooperar em eventuais acções ofensivas israelitas.
Em Israel desvalorizam-se os efeitos do ataque e afirma-se que quase tudo foi abatido, enquanto o Irão se mostra satisfeito com a retaliação que realizou. Não sabemos a verdade, mas desejamos que haja contenção das partes e que a Diplomacia lhes possa mostrar que é melhor pararem…
O facto é que a iniciativa iraniana pode gerar uma escalada perigosíssima. Por isso, foi condenada, sobretudo pelos Estados Unidos e pelos seus amigos e aliados que, mais uma vez, têm dois pesos e duas medidas, pois condenam o Irão por esta acção, mas ainda não condenaram Israel pelos seus excessos e as suas repetidas agressões, além de lhe continuar a fornecer equipamento militar.

sábado, 13 de abril de 2024

Narendra Modi e as eleições indianas

O processo eleitoral indiano arranca no próximo dia 19 de abril e decorrerá em sete fases até ao dia 1 de Junho, com o apuramento dos resultados finais a iniciar-se três dias depois. Com cerca de 1,4 mil milhões de habitantes, a Índia já é o país mais populoso do mundo e os seus cadernos eleitorais têm cerca de 970 milhões de eleitores, que votarão em mais de um milhão de assembleias de voto.
O Bharatiya Janata Party (BJP), que é o partido do actual primeiro-ministro Narendra Modi, é o favorito à vitória e, depois de Jawaharlal Nehru, pode tornar-se no segundo primeiro-ministro indiano a conseguir três mandatos consecutivos. O seu principal adversário é Rahul Gandhi, bisneto de Nehru, que é o candidato do Indian National Congress (INC), mas as sondagens são-lhe muito desfavoráveis.
A este propósito, a revista Newsweek publicou uma entrevista exclusiva com Narendra Modi, classifica-o como unstoppable, isto é, imparável, anunciando que ele “está mudando a Índia e o mundo”. A longa entrevista de Modi é, sobretudo, uma peça de propaganda e uma reportagem muito laudatória em relação à sua liderança, tendo todas as características de uma publireportagem ou reportagem paga.
Modi quer ter um estatuto mais elevado na comunidade internacional e paga para isso, mas porque é muito popular internamente, tudo aponta para que a sua vitória seja muito expressiva. Ele tem liderado a modernização do país, desde as infraestruturas às redes digitais, bem como a luta contra a pobreza. Porém, a sua ambição está cheia de contradições e revela um radical do nacionalismo e do hinduísmo, que coloca as suas hostes do RSS, a milícia paramilitar nacionalista hindu do BJP, a destruir mesquitas e igrejas e a perseguir, por vezes de forma muito violenta, as alargadas comunidades muçulmanas e cristãs da Índia.
Diz-se que a Índia é a maior democracia do mundo, mas há quem disso tenha dúvidas. A última edição portuguesa da revista Le Monde Diplomatique pergunta mesmo se a Índia é uma democracia.

terça-feira, 9 de abril de 2024

O eclipse que impressionou a América

Um eclipse solar total ocorreu ontem, quando a Lua se interpôs entre a Terra e o Sol, dando origem a um espectáculo seguido por milhões de pessoas em grande parte da América do Norte (México, Estados Unidos e Canadá), mas que também foi observado em algumas regiões ocidentais da Europa, incluindo os arquipélagos dos Açores e da Madeira.
Se antigamente os eclipses eram fenómenos venerados e temidos pelas populações, nos tempos modernos tornaram-se um acontecimento de massas, sobretudo pela divulgação prévia que deles é feita pela comunicação social, que acelera o interesse das populações por este tipo de acontecimentos que são esteticamente belos e que impressionam. Por isso, nas suas edições de hoje, a imprensa americana deu eco noticioso a este grande eclipse, publicando fotografias do fenómeno, assim acontecendo com o The Washington Post
Porém, as principais notícias que foram publicadas não foram para explicar o fenómeno, nem para salientar o enorme número de amadores de Astronomia que o acompanharam com óculos e filtros apropriados. A imprensa tratou de descrever os monumentais engarrafamentos que aconteceram nas estradas americanas quando, após a observação do eclipse, todos regressavam a casa. Escreveu-se que “a Améica parou” e, durante os quatro minutos ou menos que durou o eclipse em vários estados americanos, cessou todo o movimento nas estradas, mas depois seguiu-se uma monumental confusão.

domingo, 7 de abril de 2024

Cada vez mais se reclama o fim da guerra

Perfazem-se hoje seis meses sobre a data em que o Hamas provocou Israel, invadindo um festival de música e várias localidades israelitas próximas da fronteira com a Faixa de Gaza, massacrando 1.200 pessoas por vezes de forma cruel e sádica e fazendo 253 reféns. Israel respondeu ao ataque com uma acção militar, tendo invadido a Faixa de Gaza e prometendo acabar com o Hamas. Ninguém esperava outra coisa e Israel usou o seu direito de se defender. As operações militares visaram todos os tipos de estruturas, incluindo escolas e hospitais, com a justificação que serviam de arsenais, de esconderijos ou de escudos humanos para a gente do Hamas. Tem sido umaacção desproporcionada e contrária a todas as leis da guerra. Grande parte do território foi destruído até aos escombros, levando milhares de pessoas a fugir para o sul da Faixa de Gaza. Na cidade de Rafah, junto à fronteira egípcia, encontram-se agora mais de um milhão de refugiados, o que representa seis vezes mais do que a sua anterior população.
Segundo as autoridades palestinianas, a guerra causou até agora 33.175 mortos, incluindo 12.300 crianças e 75.000 feridos. As condições de vida em Rafah e no resto de Gaza são extremamente difíceis, pairando a ameaça de fome e de epidemias, pois faltam alimentos e os hospitais foram destruidos. Fala-se muito em genocídio do povo palestiniano e é cada vez maior a pressão internacional sobre Israel. Depois de muitos meses de indiferença pelo massacre que estava a acontecer, Joe Biden instou Benjamin Netanyahu para implementar um cessar-fogo imediato, sob pena de perder o apoio americano em Gaza, enquanto Rishi Sunak veio, finalmente, reclamar pelo fim da guerra, conforme hoje anuncia o jornal Sunday Express, que é a edição dominical do jornal The Daily Express. Que civilização é a destes homens que apelam ao fim da guerra, mas que ao mesmo tempo, são os principais responsáveis pela venda de armamento a Israel.

sábado, 6 de abril de 2024

A grande festa da Copa del Rey 2024

Hoje às 21.00 horas, no Estádio Olímpico de La Cartuja em Sevilha, disputa-se a final do Campeonato de España – Copa de Su Majestad el Rey ou, simplesmente, Copa del Rey 2024. Trata-se da mais antiga competição do futebol espanhol que foi criada em 1903 e que é disputada anualmente por eliminatórias, tendo como seus maiores vencedores o Barcelona FC (31 vezes), o Athletic Bilbao (23 vezes), o Real Madrid (20 vezes), o Atletico de Madrid (10 vezes) e o Valencia CF (8 vezes).
Este ano os finalistas são o Real Club Deportivo Mallorca que venceu a prova apenas uma vez na época de 2002-2003 e o Athletic Club Bilbao, que embora já tenha ganho a prova 23 vezes, está há quarenta anos sem a vencer. Nos seus percursos, entre outros adversários, o Mallorca ultrapassou o Girona e a Real Sociedad, enquanto o Athletic bateu o Barcelona e o Atletico de Madrid.
Hoje, na final de Sevilha, vão estar em confronto não apenas duas equipas de futebol, mas duas regiões espanholas com tradições, culturas e até línguas diferentes. Tanto a imprensa do País Basco, especialmente da Biscaia, como a imprensa das Baleares, destacam nas suas edições de hoje este jogo de futebol, incentivando as equipas da sua região para que tragam a Copa del Rey para Bilbao ou para Palma de Mallorca.
Dessa imprensa destacamos a original primeira página do jornal El Correo, na qual uma ilustração representa um navio, provavelmente com rumo a Sevilha, no qual viajam os jogadores, os técnicos e os apoiantes do Athletic com as suas bandeiras e com o seu entusiasmo.

Um sismo que foi sentido em Nova Iorque

Um tremor de terra surpreendeu ontem a região de Nova Iorque e foi sentido pela população, embora não tivesse provocado qualquer alarme, nem danos humanos ou materiais. Segundo relata a imprensa, o sismo teve a magnitude de 4,8 com o seu epicentro no vizinho estado de Nova Jersey, a cerca de 80 quilómetros a oeste de Manhattan e foi sentido por cerca de 42 milhões de pessoas, incluindo as populações das cidades de Boston e Filadélfia. Os diplomatas que tomavam parte na sessão do Conselho de Segurança das Nações Unidas também sentiram o sismo, quando era discutida a situação no Médio Oriente. Porém, o sismo não afectou quaisquer edifícios da cidade, embora as autoridades municipais tenham alertado rapidamente as pessoas sobre o perigo de possíveis réplicas ou tremores secundários, que começaram a sentir-se no início da tarde em Nova Jersey.
O estado de Nova Iorque não era abalado por um tremor de terra desde 1884 e esse facto despertou a curiosidade da imprensa. O jornal New York Post dedicou-lhe a capa da sua edição de hoje, com referências ao maior sismo dos últimos 140 anos e utilizou uma ilustração em que a Estátua da Liberdade aparece muito assustada e com a sua coroa desalinhada.
Mesmo com coisas sérias, ou que podem vir a ser sérias, há lugar para o humor.

sexta-feira, 5 de abril de 2024

Stop selling arms to Israel NOW

A edição de hoje do jornal The Independent dedica a sua primeira página à grave situação que se vive no Médio Oriente, onde a tensão tem aumentado devido às sucessivas provocações do governo israelita aos países seus vizinhos, de que se destaca o bombardeamento do consulado iraniano em Damasco. O jornal noticia que Joe Biden avisou Benjamin Netanyahu para se moderar e que reclamou um imediato cessar-fogo em Gaza, mas destaca sobretudo que o mundo assiste horrorizado à conduta imprudente de Israel que acusa de “atacar sistematicamente” os trabalhadores humanitários. Várias linhas vermelhas têm sido ultrapassadas, mas parece que ninguém, especialmente os Estados Unidos e a União Europeia, tratam de reagir, condenar e de aplicar sanções ajustadas perante o comportamento israelita. Daí que o jornal “junte a sua voz a 600 especialistas, deputados e chefes militares que exigem que se pare imediatamente de vender armas a Israel”.
Hoje, também o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas que tem 47 membros, aprovou uma resolução em que mostrou “grande preocupação” pelas atitudes das autoridades israelitas de incitamento ao genocídio, através da “prática da fome de civis como método de guerra” e exigiu a suspensão da venda e transferência de armas para Israel. A resolução foi adoptada com 28 votos a favor, seis votos contra (Estados Unidos, Alemanha, Argentina, Paraguai, Bulgária e Malawi) e 13 abstenções, entre as quais a França, a Índia, o Japão e os Países Baixos.
Actualmente os países que vendem armamento a Israel são os Estados Unidos, a Alemanha, a França, o Reino Unido e a Austrália, o que explica tanta condescendência ou tanto colaboracionismo para com Israel.

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Israel ignora todas as linhas vermelhas

Nos conflitos que actualmente estão a devastar a Ucrânia e a Faixa de Gaza têm acontecido alguns excessos que violam as leis da guerra e constituem violações dos direitos humanos, o que é de lamentar mas que é normal acontecer em todas as guerras. Daí que surjam as frequentes acusações de crimes de guerra, fundamentadas ou não fundamentadas, embora muitas delas se enquadrem nas políticas de propaganda para atacar o adversário. Porém, no caso do conflito da Ucrânia e apesar de até haver ameaças nucleares, parece haver alguma contenção, ou um quase acordo de cavalheiros, parecendo estar assumidas algumas linhas vermelhas pelos contendores. Em relação ao conflito na Faixa de Gaza a situação é bem diferente, com os israelitas a ser condenados universalmente pela violência com que estão a punir o povo palestiniano, com quotidianos massacres, com a destruição das suas cidades e com a política de genocídio que estão a conduzir.
Os israelitas nunca respeitaram as resoluções condenatórias das Nações Unidas e, nesta altura em que são governados por Benjamin Netanyahu e pelos seus aliados da extrema-direita radical, decidiram atacar o consulado do Irão em Damasco, a capital da Síria. Antes, já a aviação israelita voava sobre o Líbano e a Síria, atacando o grupo armado libanês Hezbollah e os Guardas da Revolução Iraniana, ambos aliados do presidente sírio Bashar al-Assad, o que nada prenunciava de bom.
O ataque israelita a uma instalação diplomática iraniana, tal como o ataque a trabalhadores humanitários em Gaza, foram demasiado graves e significam uma escalada na conflitualidade no Médio Oriente, pelo que o Irão tratou de anunciar que este ataque “não ficará sem resposta”. O caso é muito sério e poucos jornais o analisaram. O jornal londrino The Times foi uma excepção.

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Chuva na Andaluzia e regressa a alegria

Desde meados da década passada que a escassez de chuva na região espanhola da Andaluzia se tornou um problema, que se agravou seriamente a partir de 2022, provocando um dos mais críticos períodos de seca desde que há registos. É uma consequência das alterações climáticas que condiciona fortemente o abastecimento público, pelo que a hipótese de trazer barcos-cisterna de outras regiões para minorar o problema da escassez de água era cada vez mais considerado, sobretudo para abastecer os meios urbanos. A falta de água já tinha levado o famoso Parque Natural de Doñana a uma situação-limite, provocando a morte de muitos animais e a seca de muitas árvores.
Porém, a passagem da depressão Nelson e as chuvas caídas durante a Semana Santa “han dado un pequeño respiro a este espacio protegido” e, como ontem anunciou o jornal Diario de Sevilla, “las lluvias dejan agua para un año más”.
O efeito das últimas chuvas também se sentiu noutras áreas andaluzas e o jornal el Día de Córdoba, também noticiava ontem em primeira página que “Córdoba tiene garantizada el agua de consumo para seis años tras la borrasca Nelson”.
Segundo as autoridades, os benefícios trazidos pelas chuvas da Semana Santa – que prejudicaram as celebrações religiosas e o turismo que lhe está associado – “no es suficiente y aún deberia llover mucho más en los próximos meses para resolver el problema de la sequía”.
Porém, depois de alguns anos de desespero por falta de água, a Andaluzia parece renascer com as chuvas e viver um ambiente de renovada alegria.

sexta-feira, 29 de março de 2024

Há ou não há um risco de guerra global?

Na última cimeira europeia o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez pediu para “rebajar el tono bélico” utilizado por alguns estados-membros, mas a resposta veio do primeiro-ministro polaco Donald Tusk numa entrevista hoje publicada pelo diário espanhol El País. Donald Tusk afirmou que “estamos en una época de preguerra”, acrescentando que “no exagero” e que “nuestro deber no es discutir, sino prepararnos para defendernos”, alertando que “el conflicto en Ucrania puede alargarse”.
Hoje, também a edição do jornal francês La Dépêche du Midi destaca em manchete o título “Economie de guerre: la France se prépare”, na sequência de uma afirmação do seu Ministro do Armamento em que não excluia o recurso de impor à industria francesa a satisfação prioritária das necessidades militares, porque “les stocks de l’armée française étaient adaptés au temps de paix et nous en avons donné une grande partie aux Ukrainieens”.
Há dias foi Lloyd Austin, o secretário da Defesa dos Estados Unidos, que numa reunião com os seus homónimos de quase cinquenta países declarou que “no nos engañemos, Putin no se detendrá en Ucrania”, enquanto Scholz, Macron e Tusk decidiram reforçar o seu apoio militar à Ucrânia através da aquisição imediata de mais armamento, perante a ameaça de uma nova ofensiva russa.
Não há dúvida que Pedro Sánchez tem razão ao pedir para “rebajar el tono bélico”. Há um discurso de guerra que persiste e preocupa, como se a guerra fosse a solução para a conflitualidade entre países. Não é preciso recorrer às lições da História para saber que as guerras modernas não têm vencedores e que todos saem derrotados. Basta ver as imagens televisivas da morte, do sofrimento e da destruição para condenarmos o “tono bélico” que anda no ar.

quarta-feira, 27 de março de 2024

Invulgar acidente marítimo em Baltimore

Quando na madrugada de ontem largava do porto de Baltimore com destino ao Sri Lanka, o navio porta-contentores Dali que tem 300 metros de comprimento e hasteava a bandeira de Singapura, perdeu capacidade de manobra e colidiu com um pilar da ponte Francis Scott Key. A colisão provocou a imediata queda do seu principal tabuleiro e, numa reacção em cadeia, originou o colapso de outros tabuleiros da mesma ponte, que tem um comprimento de 2,6 quilómetros. Muitos jornais do mundo inteiro, incluindo o The New York Times, publicaram impressionantes fotografias do Dali, carregado com milhares de contentores - 4700 segundo foi depois divulgado - e com uma parte do pavimento da ponte sobre o seu convés.
O navio tinha largado do cais do porto de Baltimore menos de trinta minutos antes com 22 tripulantes e tinha a bordo dois experientes pilotos locais, mas foram detectadas anomalias eléctricas e foi verificado que os seus movimentos estavam descontrolados, pelo que a tripulação emitiu um pedido de socorro que permitiu que as autoridades portuárias ainda tivessem travado o tráfego de veículos na ponte. Além disso, o navio ainda adoptou procedimentos de emergência ao largar âncoras para travar o seu deslocamento descontrolado, mas essa medida que era adequada não produziu qualquer efeito.
O porto de Baltimore é um dos maiores dos Estados Unidos e o colapso da ponte vai afectar a vida económica do estado de Maryland, porque vai obrigar à paralização do tráfego portuário, tanto de carga como de passageiros, mas também afectará toda a Costa Leste dos Estados Unidos. Por isso e porque este ano há eleições nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden considerou que se tratou de um “terrível acidente” e determinou que se inicie a imediata reconstrução da ponte Francis Scott Key.

terça-feira, 26 de março de 2024

A gestão lucrativa mas anti-social da CGD

Os bancos portugueses obtiveram no ano de 2023 os maiores lucros da sua história e, há alguns dias atrás, a imprensa registava que esses lucros atingiram quase 12 milhões de euros diários. O contributo da banca pública para esses resultados foi significativo, pois a Caixa Geral de Depósitos (CGD) apresentou um lucro líquido de 1.291 milhões de euros, correspondentes a cerca de 3,5 milhões de euros diários, o que tem sido assinalado como um enorme sucesso e como um marco histórico, pois vai permitir que, para além dos impostos legais, o Estado ainda venha a arrecadar 525 milhões de euros de dividendos.
Estes lucros que muito boa gente considera escandalosos, foram impulsionados pela principal fonte de receitas que é a margem financeira, isto é, a diferença entre os juros cobrados no crédito e os juros pagos nos depósitos, a que se junta a abusiva e injusta cobrança de vários serviços, como por exemplo a manutenção de contas bancárias. Chama-se a isto esmifrar ou extorquir a clientela.
Acontece que a gestão da CGD alinha numa lógica de competição com os outros bancos comerciais e, muitas vezes, ignora a sua função social, actuando no mercado segundo a mesma lógica mercantil e de maximização de resultados. Segundo refere a edição de hoje do jornal i que dedicou aos “ricos bancos”, a CGD procurou modernizar-se e reestruturar-se através das novas tecnologias e da redução de balcões e de trabalhadores. Assim, segundo o jornal, entre os anos de 2010 e 2023, a CGD passou de 9672 para 6423 trabalhadores (menos 35%) e de 869 para 515 agências (menos 40%).
Estes números falam por si e mostram como a CGD tem adoptado uma gestão contrária ao interesse nacional em vários aspectos, designadamente com o encerramento de balcões em zonas remotas, o que viola a sua obrigação de prestar um serviço social às populações, sobretudo as mais envelhecidas.

segunda-feira, 25 de março de 2024

Os portugueses orgulham-se do 25 de Abril

Na sua edição de hoje, o jornal Público divulga as primeiras conclusões de um estudo académico sobre as atitudes face ao 25 de Abril de 1974, que tem por base um inquérito por questionário que foi dirigido à população portuguesa.
O estudo conclui que 50 anos depois do 25 de Abril de 1974, cerca de 69% dos portugueses fazem uma avaliação muito positiva do legado desse “dia inicial, inteiro e limpo”, com a particularidade dos jovens dos 16 aos 24 anos serem o grupo etário com maior índice de aprovação, que é de cerca de 76%. Depois, há cerca de 24% de portugueses que consideram que o 25 de Abril teve tanto de positivo como de negativo e, finalmente, há cerca de 7% de portugueses que entendem que o 25 de Abril foi mais negativo do que positivo, isto é, os portugueses têm uma diversidade de atitudes em relação àquele histórico acontecimento que, em si mesma, é a expressão da Liberdade que o 25 de Abril lhes proporcionou.
A comparação entre o que se passava em Portugal antes e depois do 25 de Abril de 1974, mostra que, para os portugueses, a Saúde e a Educação foram as áreas que mais melhoraram, mas que também melhoraram muito a Habitação, a Economia, a Integração Regional, a Igualdade Social e até a Justiça, enquanto mais de dois terços dos portugueses acham que a corrupção piorou depois de 1974.
A Democracia que, depois de 48 anos de Ditadura, foi reconquistada pelos portugueses através do 25 de Abril, está a cumprir 50 anos de vida e está viva, como mostrou o inquérito antes referido, tendo sido o ideal inspirador da chamada “terceira vaga da democratização europeia” que chegou à Grécia em 1974 e à Espanha em 1975.

O massacre de Moscovo e o comentariado

Poucos dias depois das eleições presidenciais russas que confirmaram Vladimir Putin no poder, o terror regressou a Moscovo na passada sexta-feira quando um grupo armado de armas automáticas, granadas e bombas incendiárias atacou o Crocus City Hall, o maior teatro da cidade, pouco antes do início de um espectáculo e quando na sala se encontravam alguns milhares de pessoas. Tratou-se de um ataque terrorista de grande violência, de que resultaram 137 mortos e 182 feridos, entre homens, mulheres e crianças. Três dias depois deste massacre de civis inocentes, de que resultou um generalizado envio de condolências às autoridades russas, o enigma persiste quanto à autoria deste massacre, apesar de ter sido reivindicado pelo Isis-K (Islamic State Khorasan), o ramo afegão do Estado Islâmico.
Nos jornais internacionais surgiram as mais diversas interpretações sobre esta acção e o jornal francês Libération refere “o regresso do Estado Islâmico”, embora a questão de se saber quem planeou e apoiou esta acção esteja a gerar alguma controvérsia, com os russos a procurar implicar a Ucrânia nesta acção, eventualmente para justificar acções retaliatórias no contexto da guerra que estão a travar. O aparelho de propaganda russa entrou imediatamente em acção no sentido de mobilizar a seu favor a opinião pública nacional e internacional, através da desvalorização do jihadismo afegão e da repetida insinuação da cumplicidade ucraniana nesta acção terrorista.
O facto é que o Estado Islâmico (ISIS) foi declarado derrotado em 2019 e expulso da Síria e do Iraque, depois de uma campanha militar que até coligou russos e americanos, mas também alguns países europeus e árabes, mas em boa verdade não foi eliminado e reapareceu em Moscovo. Curiosamente, alguns dos nossos comentadores televisivos são tão vesgos e tão fanáticos, que até acusaram Putin de ser o autor do massacre de Moscovo, isto é, quando o mundo ainda procura saber o que se passou, já o comentariado lusitano se tinha apressado a avançar explicações e a identificar responsáveis.

domingo, 24 de março de 2024

Os franceses e o seu forte "apelo do mar"

Na comuna francesa de La Ciotat, localizada na costa mediterrânica entre Toulon e Marselha, está a realizar-se o seu importante salão náutico que sempre desperta o interesse das populações da Provença e ao qual o jornal La Provence, que se publica na cidade francesa de Marselha, dedica uma interessante reportagem na sua última edição.
Essa reportagem que o jornal intitulou “l’appel du large” e que ilustrou com uma sugestiva fotografia de uma regata com várias embarcações de vela, afirma que “o interesse dos provençais pelo mar continua inabalável”.
O jornal apresenta vários tipos de embarcações destinadas à prática da navegação de recreio, mas reconhece que a compra e a manutenção de um qualquer veleiro “é um luxo para muitos velejadores”, pelo que o aluguer de embarcações, sob diversos tipos de contrato, se tornou uma moda nos portos de recreio franceses. Por isso, o salão náutico de La Ciotat, atrai milhares de franceses entusiastas da vela que procuram assegurar atempadamente e a melhor preço, o aluguer das embarcações com que esperam navegar nos meses de Verão. Na costa atlântica e em especial nos portos de La Rochelle, Saint Malo, Cherbourg, Carcassone, entre outros, também a procura de embarcações para alugar é cada vez mais a solução daqueles que sentem “o apelo do mar”.
Curiosamente, o aluguer de embarcações de recreio também já entrou nos hábitos de alguns portugueses, embora muitas vezes esse aluguer não signifique que o objectivo seja a prática desportiva da vela porque, muitas vezes, se trata apenas de um acto de exibicionismo social e uma pretensa afirmação de estatuto económico.

sábado, 23 de março de 2024

O regresso do independentismo catalão

No próximo dia 12 de maio realizam-se eleições antecipadas na Região Autónoma da Catalunha, depois do governo de Pere Aragonès ter visto o parlamento regional rejeitar o seu orçamento para 2024.
Nas últimas eleições realizadas em 2021, o Partido dos Socialistas da Catalunha (PSC) foi o mais votado, mas uma coligação pós-eleitoral entre os partidos independentistas – a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) de Pere Aragonès e o Juntos pela Catalunha (JxCat) de Carles Puigdemont – permitiu que Aragonès liderasse a Generalitat. Porém, os dois partidos independentistas (a ERC mais à esquerda e mais moderada e o JxCat mais à direita) assumiram a ruptura em outubro de 2022, com o JxCat a abandonar o governo e com a ERC a governar só e sem apoio parlamentar. 
A rejeição do orçamento para 2024 determinou a realização das próximas eleições e o retorno de um cenário de confronto generalizado entre “espanhóis e catalães” é cada vez mais provável, sobretudo depois do eurodeputado e antigo presidente da Generalitat Carles Puigdemont, que continua foragido à Justiça, ter apresentado a sua candidatura com o objectivo de conseguir “a restituição da presidência da Generalitat, de onde foi afastado em 2017”, ao mesmo tempo que já prometeu “concluir com sucesso o processo de independência iniciado em outubro de 2017”.
A ERC já recusou qualquer tipo de aliança com a JxCat e as primeiras sondagens indicam que o favorito é o socialista Salvador Illa, mas o que nesta altura é mais previsível é um aumento da luta política e da instabilidade social resultantes do reacendimento da luta independentista catalã, ou como titulava hoje o jornal El Mundo, o regresso de el ‘procés’, que é a designação simplificada por que é conhecido o processo independentista da Catalunha.

segunda-feira, 18 de março de 2024

Ucrânia: Can Europe Fight Alone?

Um pouco por toda a parte fala-se muito do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, mas muito poucos falam da necessidade de acabar com as suas catastróficas consequências e de encontrar uma solução honrosa para as duas partes. A equação é difícil, até porque a guerra tem sido alimentada por um discurso belicista dos meios de comunicação e dos poderes que os dominam, apresentando-a como inevitável, enquanto se acentua a prosperidade de algumas indústrias do armamento, a mostrar que há quem ganhe com esta guerra. Essas posições também têm sido sustentadas por alguns estrategas especializados em data recente e até por alguns dirigentes com interesses políticos particulares.
Porém, há países que começam a sentir o custo demasiado elevado desta guerra e a pressão das opiniões públicas, que exigem que a Diplomacia pare com a guerra, faça negociações e alcance a paz.
Uma outra importante variável nesta equação é a eleição presidencial americana que ocorrerá em Novembro e que, por razões diversas, parece estar a preparar a progressiva saída dos Estados Unidos deste conflito, porque o país tem presente os traumas do Vietnam, do Iraque e do Afeganistão. Assim, tem sido Emmanuel Macron a procurar apresentar-se como um pequeno Napoleão do século XXI, através de iniciativas que supostamente tendem a resistir ao eventual expansionismo russo, havendo vários estados-membros da NATO e da União Europeia que consideram a hipótese de enviar tropas para a Ucrânia, o que representaria o aumento da escalada belicista e, possivelmente, o início de uma confrontação numa escala incontrolável que as opiniões públicas europeias já afirmaram não desejar. Neste perturbador quadro, a questão levantada pela mais recente edição da revista Newsweek, na sua habitual linha belicista, é muito pertinente: Can Europe Fight Alone? Porém, talvez a pergunta devesse ser outra: Can Europe Stop the War?

domingo, 17 de março de 2024

Os lucros escandalosos da banca lusitana

Entre as novidades que nos últimos dias preencheram os nossos noticiários destacou-se a informação de que os “grandes bancos lucram quase 12 milhões por dia em 2023”, que serviu de título à edição de ontem do Diário de Notícias. Segundo foi divulgado, os seis maiores bancos a operar em Portugal – CGD, BPI, Millennium BCP, Montepio, Novobanco e Santander – tiveram lucros de 4,33 mil milhões de euros, o que significa um aumento de cerca de 69% em relação ao ano anterior, com a CGD que é o banco do Estado, a ultrapassar tudo e todos com um lucro de 1,29 mil milhões de euros. É difícil de entender, em tempos de tanta incerteza interna e internacional, como é possível este “assalto” aos depositantes, patrocinado pelo BCE, pelo BP e, naturalmente, pelo governo da República.
Os valores que têm sido apresentados como um exemplo de excelência na gestão, não são mais do que um escandaloso exemplo de extorsão, porque assentam na prática de uma margem financeira – diferença entre os juros cobrados nos empréstimos e os juros pagos nos depósitos – que permitiu que, só com essa injusta prática, aqueles bancos encaixassem 9,68 mil milhões de euros. Porém, o “assalto” aos depositantes tem outras vertentes, de que se destaca a escandalosa prática da cobrança de despesas de manutenção das contas bancárias.
Ao anunciar estes resultados pudemos ouvir um gestor a dizer-se orgulhoso com este escândalo, em que os bancos se enchem à custa de quem precisa de crédito para habitação, para compra de carro, para uma intervenção cirúrgica ou para estudar.
Vem-nos à memória o Poemarma escrito em 1964 por Manuel Alegre:
                    Que o poema assalte esta desordem ordenada
                    Que chegue ao banco e grite: abaixo a pança!

sábado, 16 de março de 2024

Evocação de precursores do 25 de Abril

Perfazem-se hoje 50 anos sobre a operação, protagonizada por alguns militares do Regimento de Infantaria Nº 5 (R.I. 5), sedeado nas Caldas da Rainha, cujo objectivo era a mudança do regime autoritário que dominava o país desde 1926. Viviam-se tempos de grande insatisfação na sociedade portuguesa devido à repressão e à intolerância política, às dificuldades económicas e ao subdesenvolvimento, à guerra e ao isolamento internacional e, sobretudo, à intransigência do regime na procura de soluções para a problema colonial com que o país se confrontava desde 1961.
Nos meios militares, onde o problema da guerra era mais sensível, pelo cansaço e pela convicção crescente de que a solução era política e não militar, surgiram sinais de contestação protagonizados por oficiais do Exército congregados em torno de um “Movimento dos Capitães”, que se foram acumulando e que geraram a necessidade de uma intervenção militar para mudar o regime. No dia 5 de março de 1974, numa reunião realizada em Cascais, esse movimento deu origem a um Movimento das Forças Armadas (MFA), tendo sido aprovado o documento intitulado “O Movimento, as Forças Armadas e a Nação”, que salientava que a guerra “é uma questão gravíssima e está na base de uma crise geral do regime, já incontrolável pelo poder” e que “sem democratização do país não é possível pensar em qualquer solução válida para os gravíssimos problemas que se abatem sobre nós”. O regime reagiu e no dia 9 de março destacou compulsivamente vários oficiais tidos como agitadores, pensando que dessa forma calava a contestação. No dia 13 de março, mais de uma centena de oficiais da Marinha solidarizaram-se com os seus camaradas do Exército e, no dia seguinte, o regime destituiu os generais Costa Gomes e António de Spínola, tidos por aliados dos oficiais contestatários. 
No dia 16 de março de 1974, os militares do R.I. 5 sairam das Caldas da Rainha e avançaram sobre Lisboa. Reagiram emocionalmente e não tiveram sucesso. Hoje o jornal Público evoca essa jornada protagonizada por homens generosos e muito corajosos, mas a sua iniciativa foi um bom ensaio geral, como se verificou cerca de quarenta dias depois, naquele que foi o "dia inicial, inteiro e limpo".

sexta-feira, 15 de março de 2024

A viagem de um Concorde-peça-de-museu

Um avião Concorde com as cores da British Airways percorreu nos dois últimos dias o rio Hudson sobre uma barcaça, desde os estaleiros navais GMD em Brooklyn até ao Intrepid Sea, Air and Space Museum, situado no Pier 86 em Manhattan, na cidade de Nova Iorque. Por razões de segurança, a viagem foi feita em duas etapas, o que permitiu a captura de interessantes fotografias do famoso avião a passar pela Estátua da Liberdade e pelo World Trade Center, além de outros edifícios marcantes do West Side, uma das quais foi publicada em primeira página na edição de hoje do jornal londrino The Times.
O Concorde foi o avião comercial mais rápido do mundo, tendo realizado a mais rápida viagem entre os aeroportos JFK (Nova Iorque) e Heathrow (Londres) em 2 horas, 52 minutos e 59 segundos. No ano de 2003 um Concorde chegou ao Intrepid Museum, um museu instalado a bordo do navio-museu USS Intrepid, um porta-aviões da época da 2ª Guerra Mundial que se encontra no Pier 86, no West Side de Manhattan. 
Neste museu, o Concorde tornou-se a sua principal atracção, mas no passado mês de Agosto foi retirado da sua exposição permanente para ser sujeito a uma demorada operação de restauro nos estaleiros de Brooklyn. Como então se escreveu, o avião que voara à supersónica velocidade de 2.160 km/h, fez uma viagem subsónica para Brooklyn numa barcaça a 9,2 km/h.
Agora, depois de concluídos os trabalhos de restauro e repintura, o British Airways Concorde regressou a casa para recuperar a sua condição de atracção maior.