sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Os deputados podem ser tão insensatos?

Ontem, dois deputados que andam nestas coisas da política há muito tempo mas que ignoram o povo que os elegeu, decidiram apresentar uma proposta para que fossem repostos os subsídios vitalícios de que beneficiavam os ex-políticos. Esses subsídios vitalícios foram extintos em 2005 por proposta do Governo Sócrates, mas essa decisão  não teve efeitos retroactivos. Assim, havia ainda cerca de três ou quatro centenas de ex-políticos que em 2005 recebiam esse subsídio, mas que no ano passado foram cortados. A proposta  agora apresentada visava repor esses subsídios. Numa altura em que há cerca de 400 mil portugueses que não têm emprego nem recebem qualquer tipo de subsídio, em que perduram cortes de salários e pensões, em que suportamos a mais elevada carga fiscal da Europa e em que  já ninguém ignora que há muita pobreza e muita fome em Portugal, esta proposta é insensata, lamentável, irresponsável e até provocatória para os mais desfavorecidos. Os deputados que a apresentaram não merecem estar na Assembleia da República e era bom que se demitissem. Não merecem estar sentados naquelas cadeiras. São deputados de elevada toxicidade que podem infectar os deputados sérios. Apesar disso, a proposta foi votada e aprovada pelos deputados do PS e do PSD e hoje esse facto é tema de capa do Jornal de Notícias. Aqueles que ontem votaram favoravelmente a proposta, devem ter ido para casa envergonhados, com um enorme peso na consciência e com remorsos pelo triste papel que desempenharam.
Hoje foi afirmado que regressou o bom senso e os deputados retiraram a proposta. Então ontem não tiveram bom senso. Foram insensatos. Aqueles que ontem votaram contra, hoje aplaudiram a reviravolta, o que mostra que estes deputados servem para tudo. É uma enorme tristeza!
Este lamentável episódio serviu para revelar alguns deputados coerentes e consequentes, caso da deputada Mortágua, mas também serviu para mostrar a força da sociedade civil e a "revolta da opinião pública". Nesse aspecto, o Forum TSF e o seu editor Manuel Acácio foram decisivos na sensibilização dos seus ouvintes (e até dos próprios deputados) para o problema e trouxeram para a luz do dia a lamentável proposta feita pelos dois deputados que visava o restabelecimento das subvenções vitalícias.

O Papa Francisco pode acordar a Europa?

No próximo dia 25 de Novembro o Papa Francisco vai visitar o Parlamento Europeu em Estrasburgo e falar aos 751 deputados eleitos nos 28 Estados-membros, por convite do respectivo presidente Martin Schulz. É a segunda vez que um Papa visita o Parlamento Europeu, depois de João Paulo II ter feito idêntica visita em Outubro de 1988. Na véspera, dia 24 de Novembro de 2013, perfaz-se um ano sobre a data em que o Papa divulgou uma exortação apostólica que intitulou Evangelli Gaudium, mas como é uma 2ª feira e esse dia é reservado ao regresso dos senhores deputados que estiveram ausentes durante o fim de semana, a visita papal passou para o dia 25. De qualquer forma, é simbólico que esta visita aconteça um ano depois da exortação apostólica de 2013.
A visita é um acontecimento relevante, pois não se trata apenas da visita do Chefe do Estado do Vaticano, nem do Chefe da Cristandade, mas de um Homem que no seu curto pontificado já se tornou uma voz mundialmente respeitada pelas posições coerentes que tem assumido em relação à paz e à defesa dos mais desfavorecidos, ao meio ambiente, à justiça social, à fome, à pobreza, aos abusos sexuais, ao celibato dos padres e à participação das mulheres na Igreja. Algumas das suas ideias tornaram-se marcantes - “esta economia mata” ou “o dinheiro deve servir e não dominar” – e serão certamente repetidas em Estrasburgo para acordar a Europa e para inspirar os seus dirigentes que, cada vez mais, são vassalos do seu interesse pessoal e não zelam pela coesão económica e social do velho continente. A  Europa adormeceu nas margens de um rio de prosperidade que já não corre como antes, mas continua sem reagir e sem acordar. Vive dominada pela ganância de políticos medíocres e sem visão, está escravizada pelas instâncias financeiras, perdeu os ideais da unidade e da solidariedade, passa por tempos muito difíceis e ameaça desagregar-se.
“Será que o Papa pode acordar a Europa”, foi o título escolhido pelo semanário católico La Vie, para analisar a visita papal a Estrasburgo e, de facto, essa visita poderá contribuir para que a Europa acorde.