quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Angola evoca os mártires da repressão

Na sua edição de ontem o Jornal de Angola evocou, com destaque de primeira página, os episódios ocorridos em Janeiro de 1961 na Baixa do Cassange que, para muitos historiadores, representam o início da contestação ao sistema colonial português e da guerra colonial. A República Popular de Angola considera que aqueles acontecimentos foram inspiradores da luta pela independência nacional e assinala-o no dia 4 de Janeiro de cada ano, como o Dia dos Mártires da Repressão Colonial.
Nos primeiros dias de Janeiro de 1961, os trabalhadores agrícolas das plantações algodoeiras luso-belgas da Companhia Geral dos Algodões de Angola (Cotonang), na Baixa do Cassange, um extenso território localizado entre os distritos de Malange e da Lunda, decidiram fazer um protesto contra as suas condições de trabalho, tendo-se armado de catanas e canhangulos e desafiado as autoridades coloniais portuguesas, destruindo plantações, casas, viaturas, máquinas e pontes. A reacção dos colonos brancos ao serviço da Cotonang teve apoio militar terrestre e aéreo e foi muito violenta, tendo ficado registada na História como o massacre da Baixa do Cassange.
A averiguação sobre o que realmente se passou nunca foi completamente esclarecida pela investigação histórica e, neste como em outros episódios semelhantes ocorridos nos territórios coloniais portugueses, há sempre duas versões quase sempre contraditórias, sobretudo em relação ao número de mortos. Porém, a sublevação da Baixa do Cassange terá provocado entre duzentos a trezentos mortos e mais de uma centena de feridos entre os trabalhadores em protesto, que foram tratados no Hospital de Malange. Pouco depois, no dia 4 de Fevereiro, houve o assalto às prisões de Luanda e a luta pela independência de Angola nunca mais parou até ao dia 11 de Novembro de 1975.