Na sua edição de
ontem o Jornal de Angola evocou, com destaque de primeira página, os
episódios ocorridos em Janeiro de 1961 na Baixa do Cassange que, para muitos
historiadores, representam o início da contestação ao sistema colonial português
e da guerra colonial. A República Popular de Angola considera que aqueles
acontecimentos foram inspiradores da luta pela independência nacional e
assinala-o no dia 4 de Janeiro de cada ano, como o Dia dos Mártires da
Repressão Colonial.
Nos primeiros
dias de Janeiro de 1961, os trabalhadores agrícolas das plantações algodoeiras luso-belgas
da Companhia Geral dos Algodões de Angola (Cotonang), na Baixa do Cassange, um extenso
território localizado entre os distritos de Malange e da Lunda, decidiram fazer
um protesto contra as suas condições de trabalho, tendo-se armado de catanas e
canhangulos e desafiado as autoridades coloniais portuguesas, destruindo
plantações, casas, viaturas, máquinas e pontes. A reacção dos colonos brancos
ao serviço da Cotonang teve apoio militar terrestre e aéreo e foi muito violenta,
tendo ficado registada na História como o massacre
da Baixa do Cassange.
A averiguação
sobre o que realmente se passou nunca foi completamente esclarecida pela investigação histórica e, neste como em outros episódios semelhantes ocorridos nos territórios coloniais
portugueses, há sempre duas versões quase sempre contraditórias, sobretudo em
relação ao número de mortos. Porém, a sublevação da Baixa do Cassange terá
provocado entre duzentos a trezentos mortos e mais de uma centena de feridos entre
os trabalhadores em protesto, que foram tratados no Hospital de Malange. Pouco
depois, no dia 4 de Fevereiro, houve o assalto às prisões de Luanda e a luta
pela independência de Angola nunca mais parou até ao dia 11 de Novembro de
1975.