A mais recente
edição do The Economist aborda o complexo problema das enredadas relações entre os
Estados Unidos e o mundo árabe e sustenta que, em poucos anos, a ordem que
estabeleceram e controlaram desde o fim da 2ª guerra mundial colapsou. Os erros
estratégicos americanos estão um pouco por todo o lado, com violentas guerras
civis que estão a devorar a Síria, o Iraque e a Líbia, enquanto no califado
estabelecido pelo EIIL, os jihadistas vestidos de negro são promovidos pelas
televisões e a aviação saudita bombardeia os rebeldes no Iémen. Segundo os
analistas, ainda vão decorrer muitos anos até que a paz regresse ao Médio
Oriente.
Os americanos têm perdido influência na região e neste grande
imbróglio é necessário perceber-se o que é que têm feito de
errado e de tão desastroso, embora em Washington, não haja
acordo entre republicanos e democratas quanto ao que de mal tem sido feito desde a
invasão do Iraque em 2003. O apoio às
“primaveras árabes” e a luta contra os ditadores regionais produziu efeitos
perversos e agudizou o nacionalismo árabe que, muitas vezes, levou os jovens
sem perspectivas a refugiarem-se na religião e até no fanatismo. Além disso, o
petróleo, a ambição
geopolítica da China, o ressurgimento do orgulho e do poder da Rússia e a
vontade do Irão em afirmar-se como uma potência regional ou mesmo nuclear,
tornaram a situação ainda mais complexa e preocupante. Os recentes sucessos
militares do EIIL em Ramadi (Iraque) e em Palmyra (Síria) foram motivadores para
os seus militantes e atrairam dinheiro e combatentes. Mais tarde ou mais cedo,
a insegurança e o terrorismo que hoje estão na Síria e na Líbia, hão-de chegar
à Europa.
É verdade que o
poder americano já não é o que era. As guerras do Vietnam e do Iraque foram
muito caras e os recursos não são ilimitados, mesmo nos Estados Unidos. Muitos
árabes acham que o poder americano já não governa o mundo, enquanto muitos
americanos acham que não lhes compete impor ordem no caos reinante no Médio Oriente,
mas estas são duas posições-limite. Muito do que se passa no Médio Oriente
resulta de erros dos americanos e dos seus aliados ocidentais e, até por isso,
há que emendá-los e procurar soluções equilibradas. Os Estados Unidos têm
interesses estratégicos na região e, além destes problemas recentes que lhe
exigem uma intervenção pacificadora, não podem deixar de continuar a sua luta
pela paz entre Israel e a Palestina. Porém, mais importante do que os meios
militares, serão as armas do bom senso, da inteligência e da diplomacia.