A
revista Veja destaca na sua última edição a situação em que se
encontra a esquerda política no Brasil e ilustra a notícia com um navio chamado
PT a afundar-se e com o timoneiro Lula da Silva ainda agarrado ao leme. Esta é uma das possíveis imagens da crise brasileira pois mostra que não há alternativa ao poder agora instalado em Brasília.
É preciso
recordar que a actual crise política que afecta o Brasil se começou a desenhar
em Agosto de 2016, quando a presidente Dilma Rousseff foi afastada do seu cargo,
num processo em que o seu maior crime foram as “pedaladas fiscais”, uma
expressão que em Portugal corresponde a uma habilidade chamada contabilidade
criativa. Nunca ninguém se convenceu que o
impeachment que a destituíu não foi um golpe urdido pela direita brasileira
que utilizou deputados e senadores, muitos deles com graves acusações criminais.
Depois, em Abril de 2018, aconteceu a condenação do ex-presidente Lula da Silva
com 17 anos de prisão e as hostes da esquerda brasileira entraram em estado de
choque, por verem o seu ídolo encarcerado. Seguiram-se as eleições
presidenciais e, sem Lula da Silva na corrida, em Outubro de 2018, foi eleito
Jair Bolsonaro que bateu Fernando Haddad com 55% dos votos.
Com Bolsonaro as
coisas parece não correrem bem no Brasil, mas o ponto fulcral da política
brasileira não é saber se o país progride ou não, mas saber se Lula da Silva é
mesmo corrupto ou se foi vítima de mais um golpe desferido pelos procuradores e
juízes envolvidos no gigantesco escândalo de corrupção em torno da empresa
pública Petrobras. O sistema democrático assenta na existência de um mínimo de duas
alternativas e na possibilidade de alternância no poder mas, desde 2016, a
esquerda brasileira está à deriva o que torna o sistema político-partidário
brasileiro menos democrático, mais débil, menos fiável e cada vez mais ocupado
por dirigentes pouco escrutinados e sem ética.