Embora o drama
humanitário da imigração ilegal que atravessa o Mediterrâneo venha sendo muito
divulgado pelos meios de comunicação, poucas fotografias serão tão expressivas
como aquela que é hoje publicada na edição do diário Le Figaro, que ilustra
bem o que tem sido essa aventura das pessoas que procuram um futuro melhor na
Europa. De entre as várias rotas que conduzem ao espaço europeu, a mais
utilizada está a ser a Rota do Mediterrâneo Central, cuja porta de entrada é o
sul da Itália e que, só no passado ano de 2014, terá sido utilizada por mais de
200 mil imigrantes ilegais que tentaram chegar à Europa em pequenas
embarcações, sem quaisquer condições de segurança e à mercê de traficantes sem
escrúpulos, vindo a traduzir-se em pelo menos 3419 mortes.
Ao longo do
milenar processo histórico que moldou a nossa civilização, o Mediterrâneo
desempenhou sempre um papel determinante, tendo sido uma área privilegiada de
contactos culturais e relações comerciais, mas também de confrontos de natureza
diversa. Nas suas margens floresceram muitas das antigas civilizações,
nomeadamente a egípcia, a fenícia, a grega e a cartaginesa, mas sobretudo a
civilização romana que lhe chamou o mare
nostrum. Até aos nossos dias, o Mediterrâneo continuou a ser um ponto de
confluência de muitos interesses e um quase centro do mundo, mas nos últimos
anos é a sua utilização pelos fluxos migratórios ilegais que mais tem chamado a atenção. Esse
fluxo está associado às recentes perturbações políticas da margem sul e oriental do
Mediterrâneo e às suas regiões vizinhas, tendo-se acentuado depois das “primaveras
árabes” e, mais recentemente, com a grave situação que se vive na Síria e na Líbia. Por
razões humanitárias a Itália empenhou-se na operação
Mare Nostrum que desde Outubro de 2013 salvou mais de 100 mil pessoas, mas
em Novembro de 2014 iniciou-se a operação
Tritão, vocacionada para o policiamento, com financiamento europeu e
coordenação do Frontex, a agência europeia de gestão da cooperação operacional
nas fronteiras comunitárias, na qual estão envolvidos diversos países, entre os
quais Portugal. De qualquer forma, esta imigração está a ser um drama humanitário que continua sem
respostas apropriadas.