terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A nossa língua é uma “jóia da coroa"

Alguns jornais espanhóis e latino-americanos destacaram nas suas edições de hoje uma informação fornecida pelo Instituto Cervantes no seu anuário de 2012: com mais de 495 milhões de falantes, a língua espanhola é a segunda língua mais falada do mundo, logo a seguir ao mandarim. O diário madrileno ABC destaca essa notícia em primeira página, com a informação de que o Instituto Cervantes é o órgão que promove o ensino da língua e da cultura espanholas em todo o mundo e que está presente em 77 cidades de 44 países, sobretudo na América e na Ásia.
O anuário também informa que o espanhol é o segundo idioma de comunicação internacional depois do inglês e que é o terceiro mais utilizado na internet, logo a seguir ao inglês e ao mandarim, referindo que há actualmente mais de 18 milhões de estudantes que aprendem o espanhol como língua estrangeira e que, em 2012, o Instituto Cervantes registou um crescimento de 8% no número de estudantes matriculados. Na cerimónia de apresentação do anuário o ministro dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação de Espanha referiu-se ao Instituto Cervantes como “a jóia da coroa” da acção externa da Espanha e alertou para “o perigo que representa a globalização” no que respeita à aquisição de uma cultura universal uniforme e de padrão anglo-saxónico.
A língua portuguesa é, depois do inglês e do espanhol, a mais falada das línguas europeias e, por isso, o alerta espanhol também nos deve preocupar. Assim, bom seria que o Instituto Camões também fosse “a jóia da coroa” da nossa acção externa. Aparentemente, porém, é apenas a promoção das exportações que mobiliza a nossa acção externa e não sei se a acção do Camões tem o reconhecimento concreto e o apoio orçamental que se justifica.

O “coração da França” sob ameaça

A República do Mali é um país africano que se tornou independente da França em 1960, que tem cerca de 12 milhões de habitantes e a cidade de Bamako por capital. Tem uma área que é cerca de 14 vezes maior do que Portugal, fronteiras terrestres com 7 países e não tem saída para o mar. É um dos maiores países do continente africano, embora uma grande parte do país ocupe o sul do deserto do Saara, mas tem importantes recursos naturais explorados sobretudo por interesses franceses, pelo que nele residem alguns milhares de cidadãos franceses.
Nos últimos anos o país tem sido afectado por alguns golpes de Estado, o último dos quais aconteceu em Março de 2012 e levou Dioncunda Traoré ao poder. Acontece que muitos milicianos tuaregues que participaram das lutas na Líbia em defesa de Coronel Kadafi regressaram ao país muito bem equipados com o armamento que lhes tinha sido fornecido e fundaram um movimento (o MNLA) com o objectivo de proclamar a independência do Azawad ou Norte do Mali. Com o mesmo objectivo, um grupo radical islâmico ligado à Al Qaeda (o Ansar Dine), também invadiu a região. Estes grupos e alguns outros de menor expressão, têm combatido o exército regular do Mali e ameaçam tomar a capital e a totalidade do território do país. Perante essa ameaça à estabilidade do país e da região, o Presidente Traoré pediu ajuda militar à França com base nos laços históricos entre os dois países e o governo de François Hollande não hesitou. Foi lançada a operação “Serval” e, desde há alguns dias, que a aviação francesa e algumas centenas de soldados entraram em combate no Mali, numa acção que tem recebido o apoio dos franceses, das Nações Unidas e da comunidade internacional. É a guerra do Mali e, depois dos ataques franceses, os jihadistas ameaçaram retaliar e atingir "o coração da França”, bem como os cidadãos franceses em todo o mundo. A opinião pública francesa está inquieta por esta ameaça, mas também porque este tipo de intervenção militar pode eternizar-se e transformar-se num atoleiro do “tipo vietnam”.