quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Os submarinos e o referendo escocês

A integração federalista em curso na Europa confronta-se frequentemente com uma outra ideia, que corresponde a uma confederação de Estados que não renunciam aos seus direitos de soberania nacional. A “Europa das Pátrias”, como o general De Gaulle chamava a esta ideia, não só rejeitava o modelo federalista alemão (que a chanceler Merkel está actualmente a impor) como também representava uma resposta para a diversidade cultural europeia, expressa nas línguas nacionais, valores, símbolos, tradições e memória histórica. É nesse contexto de diversidade cultural e de crise económica e social que várias regiões europeias têm acentuado as suas aspirações independentistas. Uma dessas regiões é a Escócia.

A Escócia foi independente até 1707 e foi depois integrada no Reino Unido, mas o sentimento independentista nunca se perdeu e vai poder pronunciar-se através de um referendo a realizar em 2014 sobre se, sim ou não, quer tornar-se independente.

Os apoiantes das duas teses alinham argumentos e o jornal The Scotsman recorre aos submarinos nucleares britânicos para tomar posição, anunciando hoje que a frota submarina equipada com mísseis nucleares Trident continuará na sua base de Faslane on the Clyde, independentemente dos resultados do referendo, pois a mudança custaria ao governo britânico alguns milhares de milhões de libras. Por outro lado, a base da Royal Navy é um símbolo de prestígio e um importante pólo económico, pelo que o seu abandono se traduziria na perda de muitos milhares de postos de trabalho altamente qualificados e os independentistas escoceses temem esse cenário. 

O que é curioso é o facto da base de Faslane on the Clyde e os submarinos estarem a animar o referendo escocês.

Há mesmo muitos "jobs for the boys"

Ontem expressei aqui a minha surpresa pelo número de elementos que integram o gabinete do Secretário de Estado da Cultura, que achei exagerado, desproporcionado e, consequentemente, gerador de despesa supérflua e contributo para o agravamento do nosso défice público. Afinal, aquele caso não é singular. Alguém me chamou a atenção para o que se passa com o gabinete do nosso primeiro e fui verificar. E lá estão os nomes, a função, idade, data de nomeação e vencimento de 67 leais servidores do nosso primeiro e da causa pública, isto é, gente de confiança. É certamente gente sábia e experimentada. É um verdadeiro exército de 10 assessores, 10 secretárias pessoais, 7 adjuntos, 4 técnicos-especialistas, 13 técnicos administrativos, 12 motoristas e mais uma dezena de outros colaboradores. Haverá mais alguns, especialmente alguns rapazes musculados que dão pelo nome de seguranças. É manifestamente gente a mais. Muitos desses sábios e experimentados colaboradores são boys ou são compagnons de route do nosso primeiro. Desse exército de apoio há 22 elementos cuja remuneração mensal é superior a 3 mil euros e assim, ao fim de cada mês, são necessários cerca de 150 mil euros para pagar os salários desta malta, fora os extras que essa gente custa em deslocações e estadas, em viaturas, reparações, seguros e combustíveis, mais as horas extraordinárias, mais os subsídios disto e daquilo, mais os telefones e, em alguns casos, os cartões de crédito. Quando se vêem os jovens a abandonar o país, a brutalidade do desemprego, o pequeno comércio a fechar portas, a insegurança a instalar-se nas ruas e a coesão social a perigar, este tipo de comportamentos arrasa o contribuinte e o cidadão.