quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Is the U.S. going cold on Ukraine?

O espaço mediático está saturado de informação sobre a guerra na Ucrânia, uma parte verdadeira e outra parte não verdadeira, ou uma parte independente e outra parte manipulada. Para o cidadão comum, é mesmo difícil perceber o que se passa no terreno, pois são tantos os comentadores e tantas as opiniões, muitas vezes disfarçadas de notícias, que todos só podemos ficar baralhados. Porém, o que é mais evidente nesta tragédia que caiu sobre o povo ucraniano, é o conteúdo bélico de quase tudo o que se diz, incluindo o desenvolvimento da contraofensiva ucraniana, a robustez das linhas defensivas russas, a chegada dos F-16, o efeito da guerra de drones ou a garantia das partes que sairão vitoriosas deste conflito.
Segundo revela hoje o Evening Standard, até agora os Estados Unidos já contribuíram com cerca de 62 mil milhões de libras em ajuda militar, enquanto o Reino Unido se ficou pelos 4,6 mil milhões, mas “em ambos os casos, uma grande parte desse dinheiro reverte para as indústrias de defesa dos Estados Unidos e do Reino Unido”. O resultado é terrível e, segundo o Pentágono, a Rússia já perdeu 270 mil soldados mortos e feridos e a Ucrânia tem um saldo de 200 mil mortos e feridos desde o início da guerra.
O governo ucraniano está preocupado com o arrefecimento do apoio americano, devido ao suposto fracasso da contraofensiva ucraniana, à aproximação da campanha eleitoral e à falta de apoio da opinião pública americana. Por isso, segundo o jornal, Zelensky, os ministros e os comandantes ucranianos estiveram recentemente na fronteira polaca para se encontrarem com altos comandos militares americanos, para lhes pedir que não abandonem o apoio à Ucrânia, nem forcem o país a negociar com a Rússia. O temor ucraniano em relação à vontade de muitos políticos democratas e republicanos americanos de parar o apoio à Ucrânia, é crescente. É por tudo isto que o Evening Standard diz, que é preciso parar os combates e conversar, conversar, conversar, como diria o Papa Francisco.

terça-feira, 29 de agosto de 2023

Turismo: será a galinha dos ovos de ouro?

A economia portuguesa tem registado boas taxas de crescimento do produto interno bruto e para esses bons resultados tem estado o turismo, que está a contribuir com cerca de 16%. 
Os números do turismo são impressionantes, a começar pelos mais de 31 milhões de passageiros que passaram nos aeroportos portugueses no 1º semestre do ano. O turismo está a ser uma verdadeira galinha dos ovos de ouro, como hoje se lhe refere o jornal i, mas pouco se tem falado das vantagens e das desvantagens de ter tantos turistas que deixam dinheiro na nossa economia, mas descaracterizam as cidades e “expulsam” os moradores dos centros das cidades.
Algumas cidades europeias já vivem o problema do excesso e dos excessos do turismo de massas e aponta-se o caso de Veneza, cujo centro perdeu quase toda a sua população em poucos anos, mas o mesmo se poderá dizer daquilo que está a acontecer em Barcelona, Berlim ou em Roma, mas também em muitas outras cidades europeias. Os moradores protestam porque o seu modo de vida e os seus quotidianos são perturbados porque as cidades estão a descaracterizar-se, com os preços dos arrendamentos e dos serviços a disparar e com a multiplicação dos hotéis. O comércio tradicional morreu. As esplanadas e as lojas de recordações inundam o espaço público, o trânsito tornou-se caótico com autocarros de turismo e os tuk-tuk, havendo multidões de pessoas a correr atrás de guias turísticos. Nos locais, turística ou culturalmente mais atractivos, formam-se filas extensas onde se passam horas de espera. O emprego criado pelo turismo é precário, exige baixas qualificações e é mal remunerado.
Parece ser a altura de se pensar nas vantagens e nas desvantagens de tanto turismo e na descaracterização cultural que provoca num país com 900 anos de história.

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

O reencontro entre o Brasil e Angola

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou Angola onde foi recebido pelo presidente João Lourenço, mas ao contrário do que se faz por cá em que as comitivas presidenciais vão sempre com demasiados jornalistas, ele fez-se acompanhar por empresários para potenciar negócios entre as duas margens do Atlântico Sul.
O Brasil e Angola são dois importantes países atlânticos, cujas afinidades não passam apenas pela língua portuguesa e por fortes relações históricas, mas também passam por ligações culturais e afectivas.
Segundo informou o Jornal de Angola foram assinados sete acordos de cooperação que relançam as relações comerciais entre os dois países. De entre os acordos assinados destacam-se os que irão dinamizar a produção agrícola angolana, numa altura em que uma crise alimentar está a ameaçar o nosso planeta, embora ambos os países mostrem a vontade de reforçar a cooperação em todos os domínios.
São poucos os casos, se é que existem, em que dois países situados em dois continentes diferentes tenham tantas afinidades culturais, como acontece com o Brasil e com Angola. Por isso, o relançamento das relações entre os dois países é um facto que beneficia as suas populações, que reforça o eixo Brasil-Angola no quadro estratégico do Atlântico Sul e, por razões históricas e culturais, é um motivo de grande orgulho para Portugal. 
É um reencontro que, aparentemente, acontece devido à personalidade dos dois presidentes.

sábado, 26 de agosto de 2023

As acusações contra Trump e o seu futuro

Se acontecesse no Burkina Faso ou na Costa Rica, a acusação de um ex-presidente por ter promovido uma tentativa de fraude eleitoral, não teria o enorme impacto que está a ter nos Estados Unidos e no mundo.
Tudo começou nas eleições presidenciais realizadas no dia 3 de Novembro de 2020, quando o republicano Donald Trump não conseguiu ser reeleito e foi derrotado pelo democrata Joe Biden. Nesse mesmo dia, o derrotado Trump iniciou um processo de contestação dos resultados eleitorais, em que nunca reconheceu a sua derrota e procurou revertê-la, num processo em que o seu ponto mais simbólico foi a ocupação do Capitólio no dia 6 de Janeiro de 2021. Na estratégia de Trump e da sua equipa esteve a tentativa de “encontrar” ou “inventar” quase doze mil votos no estado da Geórgia, mas também no Arizona, que o colocariam à frente de Joe Biden e alterariam a seu favor a repartição dos 538 delegados no Colégio Eleitoral.
A estratégia de Donald Trump falhou e ele foi acusado, juntamente com aqueles que, consciente e voluntariamente, se lhe juntaram numa conspiração para alterar ilegalmente o resultado das eleições. Por isso, foi preso na Geórgia onde ficou registado como o preso nº P01135809, mas ao fim de vinte minutos saiu em liberdade depois de pagar uma caução de 200 mil dólares.
Nesse mesmo dia realizou-se o primeiro debate das eleições primárias do Partido Republicano e, entre outros, lá estiveram Ron DeSantis, o governador da Florida, Mike Pence, o ex-vice-presidente de Donald Trump, e Nikki Haley, a ex-governadora da Carolina do Sul e ex-embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas.
Donald Trump não esteve nesse debate apesar de ser o favorito nas sondagens sobre a intenção de voto dos americanos e de uma eventual condenação nos processos em curso não o tornar inelegível nos Estados Unidos. A América parece estar dividida entre os que apoiam e os que rejeitam Donald Trump, um "enemy of Democracy" como hoje se lhe refere o Daily News. Falta muito tempo e, como diz o povo, “o futuro a Deus pertence”.

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

MRS: de Monte Gordo a Varsóvia e Kiev

Tem sido uma canseira! Já não nos bastava o calor tórrido que suportamos e ainda temos que aguentar este descontrolo comunicacional de ver e ouvir o Supremo Magistrado da Nação a toda a hora, quase sempre a dizer banalidades. A praia de Monte Gordo e o veto ao chamado programa da habitação foram uma espécie de estágio, tantas foram as suas aparições televisivas, mas o melhor estava para vir com a visita feita a Varsóvia e Kiev, para onde se deslocou com uma muito numerosa e injustificada comitiva de jornalistas, para que registassem o seu habitual exercício de narcisismo presidencial.
A visita a Kiev de qualquer líder político é importante, desde que leve consigo qualquer contributo para uma boa solução do actual conflito e o presidente Marcelo Rebelo de Sousa podia ter tido esse papel histórico de mostrar solidariedade para com o povo ucraniano, mas também de mostrar que a paz é necessária e tem que ser procurada. Podia ter estado em linha com o Papa Francisco e com António Guterres, mas esteve alinhado com Jens Stoltenberg e os seus falcões. Numa altura em que há muitos silêncios - quem sabe se a denunciar que já se procuram soluções diplomáticas para o conflito na Ucrânia – o presidente MRS optou pelo mais fácil e fez um discurso de conveniência, apoiando a continuação da guerra como Zelensky e a indústria do armamento desejam, quando se esperaria que cumprisse a Constituição Portuguesa que, no seu artigo 7º, afirma que nas relações internacionais Portugal se rege pelo princípio “da solução pacífica dos conflitos internacionais”. 
Não foi isso que fez e como hoje escrevia um jornal de Lisboa, “Marcelo foi ver a guerra”. Esperava-se mais.

O orgulho nacional indiano está em alta

A India está a viver um dos momentos mais eufóricos da sua existência como país independente, pois tornou-se o primeiro país a pousar com sucesso no polo sul lunar e o quarto país a aterrar com sucesso na Lua, o que só acontecera antes com os Estados Unidos, a antiga União Soviética e a China. 
A missão espacial Chjandrayaan-3 da ISRO (Organização Indiana de Investigação Espacial) pousou ontem nas proximidades do polo sul lunar, poucos dias depois da nave não tripulada russa Luna-25, ter colidido com a superfície lunar, o que destaca ainda mais o sucesso do programa espacial indiano e mostra ao mundo o enorme desenvolvimento científico e tecnológico deste país com mais de 1.400 milhões de habitantes.
O jornal The Pioneer que se publica em várias cidades indianas, escolheu como título de primeira página “tiranga on the moon”, o que significa que a bandeira indiana, habitualmente referida como tiranga ou tricolor, foi hasteada na Lua. É o delírio para milhões de indianos que podem gritar Jay Hindi, o seu mais mais vibrante grito patriótico e de unidade nacional.
A Índia é um estado federal constituído por 28 estados e sete Union Territories, sendo um país de contrastes culturais, religiosos e linguísticos, em que convivem 22 línguas oficiais e mais de quatro centenas de idiomas e dialetos, para além de inúmeras cadeias de televisão, companhias aéreas e empresas de serviços telefónicos. As desigualdades são brutais e resultam tanto das condições económicas da população, como do regime de estratificação social que domina a sociedade indiana. É um país demograficamente assimétrico em que convivem o mundo da pobreza e o mundo da prosperidade, do desenvolvimento tecnológico e da ambição internacional, de que a chegada à Lua é apenas um exemplo.

terça-feira, 22 de agosto de 2023

A Cimeira dos BRICS e a ordem mundial

Iniciou-se hoje em Joanesburgo a 15ª Cimeira dos BRICS – Brasil, Rússia, India, China e África do Sul – mas o anfitrião, que é o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, convidou os líderes de sete dezenas de países para participar na referida cimeira, tendo sido anunciado que 22 desses países já pediram para integrar este grupo.
Embora não tenha sido anunciado qualquer objectivo antiocidental, este grupo e esta cimeira são claramente um desafio para a ordem internacional vigente. Hoje o jornal católico francês La Croix, anuncia mesmo que os BRICS são uma aliança contra o dólar e que vão discutir a criação de uma nova moeda compartilhada por todos para reduzir a dependência do dólar como moeda de de troca, mas também o fim da guerra na Ucrânia.
A ausência do presidente russo Vladimir Putin, que é alvo de um mandado de captura do Tribunal Penal Internacional, é o aspecto mais destacado desta cimeira, onde se podem ou não dar passos no sentido de uma nova ordem mundial multipolar e mais igualitária, em que seja atenuado o actual domínio dos Estados Unidos e da Europa. Muita gente se recorda da Conferência de Bandung, realizada na Indonésia em 1955, em que os países não-alinhados se fizeram ouvir e o movimento anticolonial não mais parou, procurando encontrar alguma semelhança entre a Conferência de Bandung de 1955 e a corrente Cimeira de Joanesburgo de 2023.
Actualmente, os cinco membros dos BRICS representam 42% da população mundial, 30% da superfície do planeta, 23 % do produto mundial e 18% do comércio global e, alguns deles, não escondem as suas ambições.

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

O delírio espanhol com um título mundial

Todos os jornais espanhóis enchem hoje a sua primeira página com uma fotografia de homenagem à equipa feminina de futebol da Espanha, que ontem bateu a equipa inglesa na final da FIFA Women’s World Cup 2023 disputada em Sydney. Um desses jornais é o El País, que na sua capa abdicou de todo o seu noticiário internacional e da problemática da formação do novo governo espanhol, para destacar as novas “campeonas del mundo”.
Foi o delírio completo e a imprensa limita-se a reflectir a onda de entusiasmo nacional que atravessa toda a Espanha. Os povos vivem destas alegrias e o delírio espanhol é justificado. Num país onde são enormes as rivalidades regionais, as tensões separatistas e a diversidade linguística e cultural, esta vitória futebolística trouxe consigo um sentimento de unidade nacional que há muitos anos não se verificava. As “campeonas del mundo” deram um bom contributo para a unidade da Espanha e "nuestros hermanos" estão em festa. 
Hoje, o rei Filipe VI recebe os dois principais líderes políticos espanhóis que são candidatos a primeiro-ministro, respectivamente Pedro Sánchez e Alberto Núñez Feijóo. Os dois principais blocos políticos espanhóis estão empatados e a governabilidade depende dos compromissos e das alianças com os pequenos partidos, mas sobretudo das suas exigências. O rei tem apenas um poder moderador e a situação é complexa mas, provavelmente, o ambiente no palácio de La Zarzuela será de serenidade e boa disposição, porque todos ainda estarão a viver a euforia da vitória espanhola na FIFA Women’s World Cup 2023.

domingo, 20 de agosto de 2023

O inferno dos incêndios florestais

Continua muito activa, agressiva e persistente a onda calor que está a afectar várias regiões do hemisfério norte e as televisões vão mostrando as calamidades ecológicas, a ansiedade das populações e, em alguns casos, também as tragédias humanas que vão acontecendo em diferentes regiões do mundo.
A ilha hawaiana de Maui e a cidade de Lahaina foram vítimas do pior desastre natural que o arquipélago alguma vez suportou, enquanto a atlântica ilha de Tenerife também enfrenta um incêndio florestal de grandes dimensões, que já obrigou à evacuação de milhares de pessoas. Porém, os incêndios que têm afectado o Canadá, antes na província do Quebec e agora na província da Colúmbia Britânica, têm mostrado uma preocupante dimensão e perigosidade, tendo obrigado alguns milhares de pessoas a deixar as suas casas para evitar a ameaça do fogo. Na pequena cidade de Yellowknife, a capital e principal comunidade dos Territórios do Noroeste, que fica situada a cerca de 400 quilómetros do círculo polar ártico, as autoridades estão a tentar retirar todos os seus vinte mil moradores para os proteger da ameaça do fogo.
O jornal The Globe and Mail que se publica em Toronto e noutras seis cidades canadianas, destacou na sua edição de ontem os incêndios florestais que assolam o país e escolheu a palavra inferno, para definir a gravíssima situação que afecta muitas regiões do planeta e nos remete - a todos - para o problema das alterações climáticas.

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

A nova geopolítica do futebol global

O mundo está a mudar demasiado depressa em todos os domínios e em todas as geografias e, muitas vezes, os humanos nem se apercebem como a mudança é rápida e incontrolável. Até o futebol, que é um belo espectáculo artístico que entusiasma e diverte meio mundo, está em acelerada mudança e, cada vez mais, parece jogar-se fora dos relvados e estar transformado num negócio com contornos quase obscenos.
Durante muitos anos, o sonho dos futebolistas de todo o planeta era jogar na Europa, sobretudo na 1ª Liga Inglesa e em grandes equipas como o Manchester United, o Real Madrid ou a Juventus. Porém, nos últimos tempos, também o mundo do futebol foi surpreendido por mudanças rápidas e inimagináveis, quando o futebolista Cristiano Ronaldo decidiu ir jogar para a Arábia Saudita e, logo a seguir, também o futebolista Lionel Messi optou por jogar nos Estados Unidos, isto é, apesar de estarem na fase descendente das suas carreiras, os dois mais famosos futebolistas do século XXI não resistiram ao apelo do dinheiro. O mundo do futebol anda deslumbrado com tanto dinheiro e muitos futebolistas deixaram-se contagiar, arrastando consigo legiões de elementos que os acompanham, onde se incluem treinadores, preparadores físicos, directores desportivos e muitos outros agentes ligados a este mundo, mais dominado pelo dinheiro do que pela arte do futebol.
Na sua mais recente edição a revista brasileira Placar trata da “antiga geopolítica da bola” e da nova ordem mundial, destacando na sua primeira página as fotografias dos dois futebolistas que renunciaram às elites europeias que dominaram o futebol e simbolizam a nova geopolítica da bola.

terça-feira, 15 de agosto de 2023

As “mulheres invisíveis” do Afeganistão

O jornal austríaco Kleine Zeitung, que se publica na cidade de Graz, evocou na sua edição de hoje o segundo aniversário da retirada americana de Cabul e da tomada do poder pelos talibã, com uma reportagem sobre as “mulheres invisíveis” do Afeganistão e as condições de opressão a que são sujeitas pelo regime que governa o país. 
A fotografia da capa desta edição mostra várias mulheres afegãs, naturalmente vestindo a burka, uma vestimenta azul que cobre todo o corpo, incluindo o rosto, com uma pequena rede a cobrir os olhos para que a portadora possa usar a visão.
Essa situação conduz-nos a Outubro de 2001, quando à revelia das Nações Unidas, os Estados Unidos sob a liderança de George W. Bush e com o apoio do Reino Unido invadiram o Afeganistão com o objectivo de derrubar o governo dos talibã, capturar Osama bin Laden como responsável pelos atentados de 11 de Setembro de 1999 e desmantelar a Al-Qaeda. As forças americanas rapidamente tomaram Cabul, a capital do país, mas a resistência talibã continuou a sua guerra contra os ocupantes. Por isso, a partir de Agosto de 2003, também a NATO se envolveu militarmente no conflito, sem que se soubesse porquê.
O custo da guerra levou os americanos a equacionar a sua retirada desde 2011, mas só em 2020, após quase vinte anos do conflito, os Estados Unidos negociaram com os talibã um acordo de paz que previa a retirada americana do Afeganistão a partir de 2021. Os talibã iniciaram então uma ofensiva militar em larga escala, ocuparam grande parte do território e cercaram Cabul, tendo Hamid Karzai, o presidente da República Islâmica do Afeganistão, abandonado o país. No dia 15 de Agosto de 2021, os combatentes talibã tomaram a capital, enquanto as tropas americanas quase ficaram bloqueadas no aeroporto de Cabul, a lembrar a retirada de Saigão em 1975. Os talibã regressaram ao poder, declararam o Emirado Islâmico do Afeganistão e impuseram a lei islâmica – a sharia – que é interpretada pelos líderes religiosos e é implacável, sobretudo para as mulheres.
Porém, entre tanta gente que esteve envolvida na guerra do Afeganistão, alguém se lembra disto?

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

FIFA Women’s World Cup está a terminar

A 9ª edição do Campeonato do Mundo de Futebol Feminino (FIFA Women’s World Cup) está a realizar-se na Austrália e na Nova Zelândia, tendo a sua final no próximo domingo. Pela primeira vez na sua história, a equipa portuguesa foi apurada e esteve na Nova Zelândia, integrando o Grupo E, no qual defrontou as equipas dos Países Baixos, dos Estados Unidos e do Vietnam. Ganhou ao Vietnam por 2-0, empatou por 0-0 com os Estados Unidos e perdeu por 1-0 com os Países Baixos. O seu comportamento foi positivo e surpreendeu-me, mas foi eliminada e ficou em 19º lugar entre 32 países. Foi bem bom! Das 32 selecções participantes, houve dezasseis que passaram aos oitavos-de-final e que depois jogaram os quartos-de-final. Nesta altura estão apuradas as equipas que vão disputar as meias-finais e lutar por um lugar na final: Austrália, Inglaterra, Suécia e Espanha.
A televisão portuguesa encheu-nos os olhos e os ouvidos com informações num estilo de euforia desproporcionada, mas logo que a equipa regressou nada mais noticiaram.
Sobre o FIFA Women’s World Cup, apenas aqui deixo algumas curiosidades. A equipa portuguesa, apesar de ser estreante nesta prova, esteve ao nível do Brasil, da Itália e da Alemanha. A equipa americana que triunfou em quatro dos oito campeonatos já disputados e que ainda é a campeã do mundo, foi eliminada. Finalmente, o jogo dos quartos-de-final entre a Austrália e França, terminou com um empate e houve necessidade de recorrer à marcação de pontapés de grande penalidade. Foram marcados vinte e as australianas foram mais felizes pois concretizaram sete, enquanto as francesas só marcaram seis. O jornal The Sunday Times de Perth, classificou esse jogo como épico, mas toda a imprensa australiana dedicou as suas primeiras páginas a este formidável jogo.

sábado, 12 de agosto de 2023

As eleições americanas e o apoio à Ucrânia

A guerra na Ucrânia dura há cerca de 18 meses e muita gente continua sem perceber como ainda não foi possível calar as armas e parar tanta morte, tanta destruição e tanta desgraça. Embora saibamos pouco sobre o que realmente se passa no terreno, vamos vendo como algumas personalidades que estiveram tão activas se calaram nos últimos tempos, como é o caso de Jens Stoltenberg, Ursula von der Leyen ou Josep Borrell. Da mesma forma, também os Macron, os Sunak e os Schulz têm estado calados, certamente porque a factura a pagar está a ser demasiado cara e os seus eleitores já não estão a gostar nada disso.
Nesse quadro, a última edição da revista Newsweek lançou o tema do envolvimento americano na guerra na Ucrânia e veio revelar que já se tornou o assunto central da campanha para as eleições presidenciais americanas de 2024. O actual presidente Joe Biden afirmou repetidamente que apoiará a Ucrânia “pelo tempo que for necessário”, enquanto o ex-presidente Donald Trump, seu provável adversário na corrida presidencial, tem afirmado que, logo que regresse à Casa Branca, acabará com a guerra “em 24 horas”. A divisão quanto ao envolvimento americano na Ucrânia e quanto ao papel dos Estados Unidos na liderança do mundo mostram diferentes posições de Biden e Trump, mas também dos campos republicano e democrata. Para uns “Biden não se pode dar ao luxo de deixar que os ucranianos percam esta guerra ou que a autocracia vença a democracia”, mas para outros o custo desta guerra está a ser insuportável e lembram os custos das guerras no Iraque e no Afeganistão.
A reportagem da Newsweek mostra a encruzilhada que divide os Estados Unidos, explora as diferentes posições americanas sobre a guerra e antevê o papel dos Estados Unidos no mundo nos próximos anos e, em última análise, também mostra como as eleições americanas podem determinar quem vencerá a guerra na Ucrânia.

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Calor extremo na Comunidade Valenciana

O jornal Las Provincias que se publica na cidade de Valencia destaca na sua edição de hoje que, no aeroporto da cidade, foi registada ontem a temperatura de 46,8 graus. Foi a temperatura mais elevada que foi observada em todo o território espanhol e foi, também, o maior registo verificado desde 1869, o ano em que se anotaram os primeiros registos regulares. 
A cidade também pulverizou o recorde histórico de temperaturas com 44.7 graus e a população suportou temperaturas para que não estava preparada, mas o fenómeno também afectou outras cidades da Comunidade Valenciana, que registaram temperaturas superiores a 40 graus. A Generalitat de Valencia e muitas autarquias valencianas decidiram suspender muitos serviços públicos e actividades desportivas, excluindo as piscinas.
Os técnicos da Agência Estatal de Meteorologia (AEMet) explicaram que esta situação em que a temperatura esteve vários graus acima das temperaturas médias para esta época do ano, está a acontecer em todo o planeta e está relacionado com o aquecimento global. Significa que, como se tem visto, os efeitos das alterações climáticas estão a antecipar todas as previsões que têm sido feitas nos últimos anos.

terça-feira, 8 de agosto de 2023

Climate: who will stop Earth burning?

É muito raro que um meio de comunicação social seja tão objectivo e tão acusador, quanto ao que se faz ou não faz, no combate às alterações climáticas, como hoje fez a edição do Evening Standard, o famoso jornal tablóide que se publica em Londres e que é distribuído gratuitamente.
O jornal entrevistou o professor Jim Skea do Imperial College London, que preside ao Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), o programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Nessa entrevista, o entrevistado disse que os líderes políticos têm uma "responsabilidade particular" na liderança da batalha contra o aquecimento global, alertando que os seus efeitos podem estar a acontecer mais depressa do que se esperava. Sem quaisquer hesitações, o professor Jim Skea “acusou” o presidente dos Estados Unidos Joe Biden, o presidente chinês Xi Jinping, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi e o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak, por não estarem a fazer tudo o que deviam para salvar o planeta, pois governam com demasiadas hesitações entre as pressões ecológicas e os respectivos ciclos eleitorais. Como salientou o professor Skea, o combate às alterações climáticas requer uma acção extensiva a "toda a sociedade", incluindo os governos, as empresas, os grupos comunitários e os cidadãos, "mas os líderes políticos têm uma responsabilidade particular, porque dão o tom de tudo", acrescentando que "eles são o tipo de mestres de ringue ou donas de anel que tentam coordenar as diferentes acções".
O jornal Evening Standard inspirou-se na entrevista de Jim Skea e chamou as alterações climáticas para a sua primeira página e pergunta “who will stop Earth burning”, respondendo com as fotografias de quatro líderes mundiais.
Aqui está como a capa de um jornal pode ensinar-nos muita coisa…

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Uma forte vaga de calor chegou a Portugal

Uma intensa vaga de calor está a afectar o território continental português, havendo notícias de grandes incêndios nas regiões de Castelo Branco, Ourém, Odemira, Mangualde e Proença-a-Nova, entre outras. Depois dos incêndios que devastaram extensas áreas do Canadá, da Califórnia e dos países da orla mediterrânica europeia, sobretudo a Grécia e o sul da Itália, parece ter chegado a vez de Portugal enfrentar esta situação que, entre outras coisas, mostra como se agravam os efeitos das alterações climáticas. Há muitas centenas de bombeiros e muitos meios aéreos envolvidos no combate aos incêndios, que resultam sempre em em enormes perdas para as comunidades e para o património natural.
O jornal el Periódico de Extremadura que se publica em Cáceres, destaca na sua edição de hoje o “fuego en la frontera portuguesa”, com uma fotografia que mostra a violência dos incêndios florestais, mas que também evidencia as preocupações do outro lado da fronteira.
Entretanto, anunciam-se temperaturas acima dos 40 graus e há seis distritos sob aviso vermelho, o mais grave de todos, pelo que são muito grandes as preocupações das autoridades portuguesas, havendo a hipótese de recorrerem à cooperação internacional. Assim, o Mecanismo Europeu de Protecção Civil já terá sido accionado e alguns meios aéreos já estarão posicionados em Portugal para cooperarem com os serviços nacionais de protecção civil.
Um verdadeiro sufoco!

domingo, 6 de agosto de 2023

O Papa Francisco voltou a apelar à paz

O Papa Francisco termina hoje a sua visita a Portugal, que está a constituir um extraordinário acontecimento não só para os católicos que estiveram em Lisboa, mas também para todos os portugueses que acompanharam a visita através dos meios da comunicação social. A popularidade do Papa, a alegria, o gesto e a sua palavra marcaram a visita papal, com a qual todos os portugueses se podem justamente orgulhar. A capacidade de organização foi notável e só foi possível num país que, apesar de muitas limitações, dificuldades e contradições, quando se decide a pensar e a planear, também mostra uma evidente maturidade, uma grande ambição e um insuperável poder de concretização. A visita do Papa Francisco ficará como uma marca importante da capacidade portuguesa para realizar grandes projectos de escala planetária, quando se juntam energias e vontades. Era difícil imaginar um acontecimento desta dimensão tão participado e com a presença ordenada e festiva de um milhão e meio de pessoas na missa celebrada hoje no Parque Tejo, muitos dos quais provenientes do estrangeiro.
Porém, a visita do Papa Francisco também trouxe um renovado apelo à paz na Ucrânia, uma palavra para que todos voltem à Igreja e um estímulo para que surja uma nova atitude da comunidade perante a Igreja Católica, ou um quase renascimento religioso, em que as velhas convicções e posturas dogmáticas, por vezes de inspiração medieval, estão a dar lugar a uma Nova Igreja de Roma, feita de alegria e de juventude, de festa e de diversão, de partilha e de sentido de comunidade, de procura do bem comum e de amor à paz.
Expresso a minha gratidão por esta missão do Papa Francisco e o meu aplauso às Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) e a todos os que, quase sempre anonimamente, contribuíram para construir esta página importante da história contemporânea portuguesa.

sábado, 5 de agosto de 2023

O Papa Francisco põe Lisboa em Festa!

O Papa Francisco está em Portugal a propósito das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) e, como mostram as televisões portuguesas, o país está em festa e mobilizou-se para receber o Sumo Pontífice nesta sua viagem apostólica. Aparentemente, tudo está a correr de forma exemplar e a merecer elogios, mostrando como a organização foi eficiente e competente no planeamento e na preparação de todos os actos da visita papal, que decorre entre os dias 2 e 6 de Agosto.
A presença do Papa Francisco em Portugal já é um grande acontecimento social, político e cultural. É uma lição para muita gente e que cada um veja "as carapuças que pode enfiar". O Patriarcado de Lisboa, o Governo da República e a Câmara Municipal de Lisboa estão de parabéns pois a visita papal está a ser um êxito e um momento de quase unanimidade nacional, como noutras ocasiões foram o entusiasmo popular com o 25 de Abril ou o apoio a Timor Leste.
Jovens de quase todos os países do mundo “invadiram” Lisboa que, nestes dias é, de facto, a capital do mundo e a capital da esperança num mundo melhor, com mais concórdia, mais diálogo e mais paz, enquanto o Papa insistiu que a Igreja é inclusiva e que é de todos. Segundo o jornal Diário de Notícias, o Papa criticou os políticos, a Europa e até a própria Igreja.
Neste grande acontecimento que nos inspira e nos estimula a pensar num mundo melhor, tem-se destacado o Presidente da República - que não é parte relevante neste acontecimento - mas que aparece e fala demasiadas vezes, a maior parte delas a despropósito, como se fosse mais que um peregrino na JMJ e fosse o comentador oficial daquilo que o Papa diz. Pois que haja quem avise o Supremo Magistrado da Nação de que não é este o seu papel na JMJ. Que se poupe e que nos poupe.

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Trump foi acusado, a Democracia vencerá

Os acontecimentos de 6 de Janeiro de 2021 em Washington, foram tão importantes para os Estados Unidos e para o mundo, como o 11 de Setembro de 2001 em Nova Iorque, o 30 de Abril de 1975 em Saigão ou o 6 de Agosto de 1945 em Hiroshima. Embora por razões diversas e nem todas da mesma importância, o que aconteceu nestas datas ficou gravado na história contemporânea dos Estados Unidos.
Relativamente ao dia 6 de Janeiro de 2021, o que aconteceu foi uma tentativa de alterar as normas da vida democrática americana após a derrota do presidente Donald Trump nas eleições presidenciais de 2020. Ao não ser reeleito, o presidente estimulou ou dirigiu uma multidão de apoiantes que assaltou o edifício do Capitólio em Washington, para impedir que o presidente eleito Joe Biden fosse declarado vencedor. Semelhante situação aconteceu no Brasil quando no dia 8 de Janeiro de 2023, o presidente Jair Bolsonaro apoiou actos de insurreição e vandalismo de grupos de manifestantes que invadiram os Palácios do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, para promover um golpe de estado contra o governo eleito de Lula da Silva.
Hoje o jornal USA Today informa que Donald Trump foi formalmente acusado de tentativa de corromper os resultados eleitorais das presidenciais de 2020 e, segundo a Justiça federal, é suspeito de “conspirar para defraudar os Estados Unidos”, “pressionar testemunhas”, “conspirar contra os direitos dos americanos” e “obstruir um acto oficial”. O procurador especial foi claro: o que aconteceu no Capitólio no dia 6 de Janeiro de 2021 não foi um acto espontâneo ou um evento isolado, mas antes “uma batalha de uma guerra mais ampla sobre a verdade e sobre o futuro da democracia americana”. 
A Justiça americana funciona e isso é bom para os Estados Unidos e para o mundo. Porém, Donald Trump é o favorito para a nomeação dos Republicanos para as eleições presidenciais de 2024 pois tem cerca de 54% das intenções de voto...

Escândalo e vergonha nos juros da banca

No passado sábado escrevemos aqui que os lucros da banca são uma obscenidade e, de facto, três dias depois, o jornal Público escreve na primeira página com grande destaque que “com subida das Euribor, 75% da prestação da casa são juros pagos ao banco”.
No artigo que serve de base a este título, a jornalista Rosa Soares escreveu que o “capital amortizado ‘encolhe’ de forma significativa com a subida das Euribor” e que, para muitas famílias se trata de “mais um aumento considerável na prestação da casa”. Tem toda a razão. O aumento das prestações é duplamente penalizador para as famílias, pois o valor pago em juros representa mais de três quartos da prestação, com apenas um quarto a corresponder ao pagamento do capital emprestado. Para explicar esta vergonha da exploração bancária, a jornalista apresenta uma simulação de empréstimo de 150 mil euros a 30 anos, associado à Euribor, a que corresponde actualmente uma prestação mensal de 818,95 euros.
Pergunta-se: quem tem salários em Portugal que possam pagar esta prestação? Se atentarmos que deste valor apenas 175,32 euros (21,3%) são para amortização do capital emprestado, concluímos que 643,64 euros (78,7%) correspondem a juros extorquidos pela gananciosa banca, que se serve da irresponsabilidade e da cegueira do Banco Central Europeu para apresentar os lucros obscenos a que antes nos referimos. Há um ano, a prestação mensal do empréstimo era de 553 euros, dos quais 304 euros (55%) representavam a amortização de capital e os restantes 249 euros (45%) ao pagamento de juros. Comparem-se os números: num ano, a prestação subiu 265,95 euros, mas o lucro extorquido pela banca subiu 294,64 euros. 
Se isto não é um escândalo, então a Terra não é redonda!