quinta-feira, 20 de março de 2014

Uma edição exemplar: ‘Visão Entrevistas’

A revista Visão celebrou o seu 21º aniversário com uma iniciativa editorial que tem tanto de inédito como de inovador –  uma edição especial  intitulada Visão Entrevistas – que inclui uma centena de páginas de entrevistas a personalidades nacionais e internacionais que se destacaram no último ano. São quase quatro dezenas de entrevistas, quase sempre muito bem ilustradas fotograficamente, que nos dão a conhecer algumas facetas menos conhecidas de personalidades do mundo da política, economia, cultura, ciência, justiça, moda, jornalismo, entre outras. A edição adoptou quatro capas diferentes, numa inovadora estratégia de marketing destinada a despertar a curiosidade de diferentes públicos, embora o seu conteúdo seja exactamente o mesmo. Assim, a mesma edição pode exibir na capa a fotografia do Papa Francisco, do humorista Ricardo Araújo Pereira, da modelo Sara Sampaio ou dos Presidentes das Câmaras Municipais de Lisboa e do Porto, isto é, cada capa à vontade do freguês!
Para além desta “oferta especial" que tem o número 1098, a edição inclui todas as suas secções habituais e, muito justificadamente, homenageia duas personalidades recentemente falecidas e que, cada qual no seu campo específico de intervenção social, nos deixaram um importante legado: o Cardeal Dom José Policarpo (1936-2014) e o Professor José Medeiros Ferreira (1942-2014).   
A excelente ideia que foi materializada com a Visão Entrevistas merece ser elogiada e o seu Editorial tem razão quando refere que “é uma revista inesquecível, para ler, reler... e voltar a ler”. O meu aplauso.

 

A (in)sustentabilidade da nossa dívida

O jornal Público divulgou hoje a notícia de que um grupo de 74 economistas de duas dezenas de nacionalidades, muitos deles com cargos de relevo em instituições internacionais, professores universitários, editores de revistas científicas de economia e autores de livros e ensaios de referência na área económica, decidiram juntar-se às 74 personalidades portuguesas que, na semana passada, publicaram um manifesto a defender a reestruturação da nossa dívida pública. Esses economistas dizem apoiar “os esforços dos que em Portugal propõem a reestruturação da dívida pública global, no sentido de se obterem menores taxas de juro e prazos mais amplos, de modo a que o esforço de pagamento seja compatível com uma estratégia de crescimento, de investimento e de criação de emprego”. O documento subscrito por estes economistas tem um conteúdo muito semelhante ao manifesto intitulado “Reestruturar a dívida insustentável e promover o crescimento, recusando a austeridade”, que uniu um alargado leque de personalidades portuguesas a que, lamentavelmente, o primeiro-ministro se referiu como “essa gente”, para além de criticar duramente o documento, que classificou de irrealista e de pôr em causa o financiamento do país. Para este grupo de economistas internacionais, os resultados do programa de austeridade imposto a Portugal são claros: “a austeridade orçamental reduziu a procura agregada, agravou a recessão, aumentou o nível da dívida pública e impôs sofrimento social à medida que as pensões e salários foram reduzidos, os impostos foram aumentados e a protecção social foi degradada". Este documento é um apoio inesperado ao manifesto dos notáveis portugueses que, entre outras, teve a virtude provocar o debate nacional sobre a dívida e a sua (in)sustentabilidade, para além de ter revelado o fanatismo ideológico e a insensibilidade económico-social do primeiro-ministro e do núcleo duro que o apoia.