Na sua edição de ontem o Correio da Manhã titulou que há “motoristas milionários no Governo”, acrescentando que há “salários de 4 mil euros por mês”.
Os motoristas são muito importantes na vida política. Conduzem bons carros, que por acaso foram pagos com os meus impostos. Transportam os nossos dirigentes. Conhecem-lhes os segredos. Adivinham-lhes as fraquezas. Ouvem-lhes os desabafos. Fazem-lhes pequenos favores. São reverentes e influentes e, ao contrário do cidadão comum, não têm limites de velocidade e podem estacionar em toda a parte. Estão sempre "em serviço" e é tudo "a bem da Nação".
São eles que dão polimento e vida às numerosas frotas de automóveis do Estado. Nos gabinetes ministeriais ou nos cafés que lhes ficam em frente, mas também em muitos outros organismos públicos, os motoristas esperam ordens, com elevado grau de prontidão. São verdadeiros operacionais engravatados.
Nenhuma entidade prescinde dos seus serviços para conduzir a viatura, abrir a porta, pegar na pasta, esperar, esperar… Isso alimenta as vaidades e o exibicionismo dessas entidades. Por vezes, os motoristas fazem alguns serviços adicionais e levam as crianças à escola e à natação ou as senhoras às compras. Quando a coisa acaba, a entidade dá-lhes um louvor por bons serviços.
Tudo isso custa dinheiro, porque para além do seu salário-base, os motoristas do Estado ainda recebem ou podem receber horas extraordinárias, ajudas de custo, facturas da alimentação, subsídio de risco, subsídio de lavagem da viatura, subsídio de vestuário e, talvez, outros subsídios que eu não conheço. E há as folgas para ir à terra! Tudo lhes é autorizado e daí resultam os exageros remuneratórios a que a notícia alude. É realmente um rico emprego, mas a culpa não é deles!