Quando ocorreu a
crise política no Verão de 2013 a hipótese de eleições antecipadas foi muito
discutida, inclusive no Conselho de Estado, órgão de consulta do Presidente da
República. Viveu-se um período de grande tensão política e, nessa altura, o homem
do leme defendeu um compromisso entre as principais forças políticas, que
deveria estabelecer “o calendário mais adequado para a realização de eleições
antecipadas” e que deveria coincidir com o fim do Programa de
Assistência Financeira, em Junho de 2014. Porém, o irrevogável deu o dito por
não dito e, aparentemente, a crise política foi ultrapassada.
Entretanto, a troika deixou o nosso país. Disseram-nos
que foi uma saída limpa. Houve quem pensasse no resgate da nossa soberania e
houve quem pensasse num novo ciclo da nossa vida colectiva, mas a situação
económica e social não registou qualquer melhoria significativa e até registou alguns
agravamentos. Quando se começou a pensar no futuro, surgiram vozes a sugerir que
as eleições legislativas, constitucionalmente previstas para Setembro ou Outubro de 2015,
fossem antecipadas para Abril ou Maio, de forma a que o novo governo pudesse
preparar o Orçamento do Estado para 2016. Para além dos partidos da oposição,
também os parceiros sociais subscreveram este ponto de vista. Porém, o líder do
PSD veio de imediato recusar a antecipação das eleições e, dois ou três dias
depois, também o líder do CDS expressou a mesma opinião e defendeu o respeito
dos prazos constitucionais. Todos têm direito ter a sua opinião, embora a
decisão seja uma competência exclusiva do Presidente da República. Numa
situação destas ele deveria estar equidistante dos que querem e dos que não
querem a antecipação das eleições, mas decidiu estar ao lado de uma das partes.
O que é lamentável. O que é uma tristeza. Ele esqueceu-se, uma vez mais, que é o Presidente de
todos os portugueses e decidiu juntar-se a Passos e a Portas, ignorando a
oposição e os parceiros sociais. Assim, veio afastar o
cenário de eleições antecipadas, salvo se se verificar uma crise política
grave, afirmando ao Expresso que as eleições legislativas serão “na data fixada na
lei eleitoral” e “ponto final”. As eleições serão naturalmente quando ele quiser, mas ao
menos que esteja calado e não se coloque a reboque do governo!