quinta-feira, 18 de março de 2021

Agrava-se a crise sanitária no Brasil

A edição de hoje do jornal O Estado de S. Paulo escreve que o “Brasil enfrenta sua maior crise sanitária” e esse título, juntamente com a palavra colapso, perturbam e entristecem os leitores, sobretudo aqueles que estão do lado de cá do Atlântico e que consideram, pela história, pela língua e por laços familiares, que o Brasil ainda é uma espécie de Portugal dos trópicos.
Ao fim de um ano de pandemia, torna-se evidente que a gestão da crise sanitária brasileira tem sido uma sucessão de erros, como atesta o facto de ter sido empossado o 4º Ministro da Saúde do Brasil, o que parece demonstrar que os três ministros anteriores não suportaram a ignorância e a irresponsabilidade de quem os dirigia, isto é, fartaram-se do presidente Jair Bolsonaro, o tal que falou em gripezinha.
Acontece que, depois dos Estados Unidos, o Brasil é o país onde ocorreram mais óbitos causados pelo covid-19. Estão contabilizados 284.775 óbitos e, nos últimos tempos, a sua média diária supera largamente os dois milhares. É uma tragédia e a imprensa brasileira utiliza as palavras agravamento, catástrofe, colapso da saúde, fora de controlo e recorde de casos, entre outras, para descrever a triste realidade de um país que não aprendeu que com as máscaras, o distanciamento social e o confinamento se podia evitar o pior. O prestígio internacional do Brasil está em jogo e, segundo o jornal paulista, há 108 países que barram a entrada a cidadãos brasileiros. 
É evidente que Jair Bolsonaro não merece respeito nenhum e que os brasileiros saberão despachar o fanfarrão-fantoche que tão mal os representa.

Síria: dez anos de guerra e de tragédia

A viagem do Papa Francisco ao Iraque produziu, entre outras consequências, o regresso da Síria e dos seus dramas à agenda de alguma imprensa internacional e o jornal L’Orient-Le Jour, que se publica na cidade libanesa de Beirute, foi um dos jornais que trouxe para a sua primeira página o drama sírio.
O presidente Bashar el-Assad sobreviveu a dez anos de guerra, mas governa um país em ruínas e partilha o seu território com quatro exércitos estrangeiros e inúmeras milícias armadas. Bashar el-Assad tem 55 anos de idade e está infectado por covid-19, tal como a sua mulher Asma, mas governa a Síria desde 2000 e, em breve, deverá ser reeleito para um quarto mandato presidencial de sete anos. Porém, o país que vencera o analfabetismo, que era auto-suficiente no plano alimentar e energético, que exportava gás, petróleo e fosfatos, já não existe. 
A guerra síria é a maior catástrofe humanitária que o mundo conheceu depois da 2ª Guerra Mundial. Metade dos seus 24 milhões de habitantes está deslocada, houve 390 mil mortos e 200 mil desaparecidos, mais de um milhão de feridos e quase seis milhões de refugiados nos países vizinhos. No terreno encontram-se quatro exércitos estrangeiros: os turcos com cerca de 15 mil soldados, que controlam uma faixa com 120 quilómetros de extensão e 30 quilómetros de profundidade na fronteira norte da Síria, bem como uma província curda no nordeste do país; os russos que ocupam a base aérea de Hmeimim e outros aerodromos, têm uma base naval em Tartous e algumas posições militares na fronteira leste do país; os americanos mantêm 800 soldados no nordeste a proteger os poços de petróleo; os Guardas da revolução iraniana, o Hezbollah libanês, as milícias xiitas e afegãs encontram-se nas proximidades das cidades mais próximas da fronteira com o Iraque; as milícias curdas, apoiadas pelos Estados Unidos e pela França, controlam um terço do território sírio à volta das cidades de Hassaké no nordeste e Raqqa no norte e a província oriental de Deir Ezzor. No sul há outras milícias e algumas células do Daesh em actividade. São demasiados actores e demasiadas tensões acumuladas. Ninguém sabe como se pode sair desta tragédia.