sábado, 9 de maio de 2015

O porta-voz Monteiro

Durante muitos anos habituei-me a ver na televisão um tal António Monteiro como porta-voz da TAP. Era ele que "dava a cara" e que falava das greves, dos atrasos e dos problemas que por vezes apareciam na companhia e que afectavam o público. Nos últimos tempos, com a teimosia governamental em privatizar a TAP e com a prolongada greve dos pilotos, o porta-voz Monteiro que é um funcionário da TAP, parece ter sido substituido pelo porta-voz Monteiro que é, nada mais nada menos que o licenciado Sérgio Monteiro, o Secretário de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações.
Este porta-voz Monteiro, que também é Secretário de Estado, é um homem de quem se conhece pouco, embora se saiba que é militante partidário e que, por isso, rapidamente se encaixou e chegou ao conselho de administração do CaixaBI, isto é, o Banco de Investimento do Grupo Caixa Geral de Depósitos. Segundo se lê, foi no exercício dessas funções que, no tempo do governo socialista, “desenhou, geriu ou cofinanciou todas as PPP ruinosas contratualizadas em Portugal nos últimos anos”. Um dia, o famoso Miguel Relvas veio dizer que "as PPP do sector rodoviário são uma verdadeira ruína para o país” e são exactamente essas PPP, que valem 5,5 mil milhões de euros, que hoje são tuteladas pelo mesmo Sérgio Monteiro. O homem serve para tudo e para o seu contrário! Nas suas actuais funções, coube-lhe renegociar essas PPP que antes tinha negociado e, além disso, gerir as privatizações da ANA, CTT, CP Carga e TAP. Será possível fazer tudo isto sem afectar o interesse nacional? Há quem lhe chame o Senhor Privatizações pela forma empenhada e obcecada como se comporta, sobretudo quando se deslumbra com os microfones à sua frente. No caso da TAP, tem sido ele a substituir a administração da companhia e a informar sobre o”insucesso da greve”, sobre o número de voos realizados, sobre os prejuízos acumulados, sobre tudo. Afinal, ele é que é o porta-voz da TAP, calando o outro Monteiro, o presidente Pinto e até o ministro Lima.

O Reino Unido é o exemplo da Democracia

Ontem celebrou-se o 70º aniversário da captura de Berlim pelas tropas soviéticas e polacas e a rendição incondicional da Alemanha, quando os exércitos aliados também já tinham penetrado no território alemão. A efeméride foi comemorada em diversas capitais e, em Londres, teve a presença dos seus líderes políticos, respectivamente David Cameron (Primeiro-ministro e líder dos Conservadores), Nick Clegg (líder dos Liberais Democratas que ainda está coligado com os Conservadores) e Ed Miliband (líder dos Trabalhistas).
Na véspera tinham-se realizado as eleições legislativas no Reino Unido e os resultados surpreenderam a opinião pública, os analistas e até as próprias sondagens. Os Conservadores obtiveram 36,9% dos votos mas elegeram 331 deputados, o que lhes dá a maioria absoluta e torna dispensável a aliança que têm mantido com os Liberais Democratas que apenas elegeram 8 deputados, enquanto os Trabalhistas obtiveram 30,4% dos votos, o que só lhes garantiu 232 deputados.
Entre as diversas consequências destas eleições está o facto do Partido Nacional Escocês ter eleito 56 deputados nas 59 circunscrições eleitorais escocesas, o que de certa forma reabre a questão da independência da Escócia, mas também o facto de David Cameron ter prometido para 2017 um referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia, isto, os britânicos ficaram com duas enormes “bombas” que ameaçam explodir.
Uma outra consequência destas eleições foi a demissão dos grandes derrotados do dia 7, respectivamente Ed Miliband e de Nick Clegg. Porém, no dia seguinte, numa postura democrática que no nosso país seria improvável, eles estiveram lado a lado com David Cameron, nas cerimónias da celebração do fim da guerra na Europa. A fotografia que ilustra a edição de hoje do The Times regista esse acontecimento e simboliza o elevado valor da Democracia no Reino Unido.
Era bem bom que aqui também se vivesse uma Democracia como estas.