sábado, 15 de julho de 2023

Tragédias marítimas e sinais dos tempos

Quase todos os dias, a imprensa publica notícias relatando grandes tragédias marítimas com perda de muitas vidas, que ocorrem sobretudo nas travessias do Mediterrâneo e na rota canária, em que milhares de pessoas originárias da África, do Médio Oriente e da Ásia fogem da pobreza, da fome e da guerra, procurando trabalho e uma vida melhor na União Europeia. Embarcam em frágeis e inseguras  embarcações, superlotadas e dirigidas por poderosos traficantes. 
No passado mês de Junho, uma embarcação que saíra da Líbia com cerca de 750 migrantes naufragou nas costas gregas, tendo sido apenas encontrados 104 sobreviventes e recuperados 81 corpos, o que foi classificado por uma comissária europeia como “a pior tragédia de sempre no Mediterrâneo”. As instituições comunitárias têm procurado fazer alguma coisa, mas não tem havido consensos e o Pacto de Migração e Asilo da União Europeia tem sido muito criticado, parecendo que os milhares de pessoas que já morreram no Mediterrâneo e nas Canárias são “um preço aceitável” no quadro da política europeia de importação da mão de obra de que necessita o velho Continente. “Esta é uma mancha que irá ficar durante muito tempo na história e na memória da Europa”, disse um deputado português.
Ontem o jornal Diario de Avisos, que se publica em Tenerife, deu notícia de uma canoa que, tendo partido do Sernegal com rumo às ilhas Canárias, esteve à deriva durante 18 dias e na nela ocorreram “al menos 20 muertos”, mas o jornal também refere que se desconhece o paradeiro de três canoas com cerca de 300 pessoas a bordo que “llevan más de 15 dias a la deriva intentando llegar a Canarias”.
São sinais dos tempos, a mostrar o declínio da Europa e a mediocridade dos seus líderes, pois a União Europeia não tem sido capaz de encontrar uma solução humanitariamente digna para as migrações do sul e, demasiadas vezes, parece muito desnorteada com o seu posicionamento geopolítico, não atendendo a este problema, nem às mudanças que se estão a verificar no seu tecido social, como mostraram os recentes distúrbios em França.
“Deixas criar às portas o inimigo, por ires buscar outro de tão longe”, foi o aviso que, pela palavra do velho do Restelo, Luís Camões deixou ao rei de Portugal. Se fosse hoje, o que diria o poeta aos líderes europeus, sobretudo à Ursula, ao Olaf, ao Emmanuel e até ao António?