Quase todos os
dias, a imprensa publica notícias relatando grandes tragédias marítimas com
perda de muitas vidas, que ocorrem sobretudo nas travessias do Mediterrâneo e na
rota canária, em que milhares de pessoas originárias da África, do Médio
Oriente e da Ásia fogem da pobreza, da fome e da guerra, procurando trabalho e
uma vida melhor na União Europeia. Embarcam em frágeis e inseguras embarcações, superlotadas e dirigidas por poderosos traficantes.
No passado mês de Junho, uma embarcação
que saíra da Líbia com cerca de 750 migrantes naufragou nas costas gregas,
tendo sido apenas encontrados 104 sobreviventes e recuperados 81 corpos, o que
foi classificado por uma comissária europeia como “a pior tragédia de sempre no
Mediterrâneo”. As instituições comunitárias têm procurado fazer alguma coisa,
mas não tem havido consensos e o Pacto de Migração e Asilo da União Europeia
tem sido muito criticado, parecendo que os milhares de pessoas que já morreram
no Mediterrâneo e nas Canárias são “um preço aceitável” no quadro da política
europeia de importação da mão de obra de que necessita o velho Continente.
“Esta é uma mancha que irá ficar durante muito tempo na história e na memória
da Europa”, disse um deputado português.
Ontem o jornal Diario
de Avisos, que se publica em Tenerife, deu notícia de uma canoa que,
tendo partido do Sernegal com rumo às ilhas Canárias, esteve à deriva durante
18 dias e na nela ocorreram “al menos 20 muertos”, mas o jornal também refere
que se desconhece o paradeiro de três canoas com cerca de 300 pessoas a bordo
que “llevan más de 15 dias a la deriva intentando llegar a Canarias”.
São sinais dos
tempos, a mostrar o declínio da Europa e a mediocridade dos seus líderes, pois
a União Europeia não tem sido capaz de encontrar uma solução humanitariamente
digna para as migrações do sul e, demasiadas vezes, parece muito desnorteada
com o seu posicionamento geopolítico, não atendendo a este problema, nem às
mudanças que se estão a verificar no seu tecido social, como mostraram os
recentes distúrbios em França.
“Deixas criar às
portas o inimigo, por ires buscar outro de tão longe”, foi o aviso que, pela
palavra do velho do Restelo, Luís Camões deixou ao rei de Portugal. Se fosse
hoje, o que diria o poeta aos líderes europeus, sobretudo à Ursula, ao Olaf, ao
Emmanuel e até ao António?