sábado, 21 de agosto de 2021

Afeganistão: o mundo já não é o que era

Uma semana depois da rendição generalizada das autoridades e das forças governamentais afegãs, bem como da entrada dos taliban em Cabul, a situação é grave e não é possível prever-se o que se vai seguir. Ninguém, com sabedoria e bom senso arrisca prognósticos porque são tantos e tão diferentes os cenários possíveis, que só os analistas encartados e pagos se arriscam a fazer análises e previsões para justificar as suas avenças. Ainda nenhum desses sábios encartados apareceu na televisão a dizer simplesmente “não sei o que se vai seguir”. Alguns deles vão mesmo ao ridículo de discutir se a culpa disto tudo é do Obama, do Trump ou do Biden, mas raramente ousam criticar os líderes europeus que se envolveram num problema que não era deles. No entanto, todos os analistas parecem estar de acordo quando consideram que o que se está a passar é uma humilhante derrota dos Estados Unidos e da NATO, um facto que apenas a chanceler Angela Merkel parece reconhecer.
A mais recente edição da revista brasileira Veja dedica a sua capa ao que se está a passar no Afeganistão, tendo escolhido como título “uma derrota da civilização” e, como ilustração, mostra a Estátua da Liberdade envolvida numa túnica negra e num turbante afegão, enquanto alerta para a explosiva combinação entre política e religião, salientando que o fundamentalismo continua a ser uma ameaça à Humanidade.
Os efeitos da humilhação ocidental no Afeganistão vão repercutir-se durante muitos anos e vão afectar o actual quadro de relações internacionais, demonstrando, talvez pela primeira vez desde há três séculos, que a América e a Europa já não dominam o mundo, apesar dos seus aviões, dos seus mísseis e da sua tecnologia.
O Afeganistão mostrou que o mundo já não é o que era.