sexta-feira, 11 de março de 2022

A detecção do 'Endurance' 107 anos depois

Quando a generalidade da imprensa internacional trata da guerra na Ucrânia e de todos os problemas humanitários e militares que ela suscita, há um jornal internacional que escolhe um tema de capa bem diferente. Trata-se do jornal suíço Le Temps, que desde 1998 se publica na cidade de Genève e que é um diário francófono, generalista e de cobertura nacional. Na sua edição de hoje optou por contar a história de um veleiro de três mastros chamado Endurance e de Ernest Shackleton, em vez de repetir as notícias, verdadeiras ou não, que nos chegam da Ucrânia a um ritmo tão repetitivo quanto a publicidade comercial, parecendo querer afastar-se de toda a manipulação noticiosa que está a contaminar a verdade. Para a capa do jornal foi escolhida uma das famosas fotografias do Endurance, captadas em 1916 por Frank Hurley, o fotógrafo da expedição.
Ernest Shackleton foi um explorador britânico que, depois de ter participado em três expedições à Antártida, organizou a Expedição Transantártica Imperial que pretendia atravessar a Antártida, passando pelo Polo Sul. A sua equipa embarcou no Endurance e largou das águas britânicas em Agosto de 1914, mas no dia 19 de Janeiro de 1915 ficou preso num banco de gelo no mar de Weddell. Depois de muitos meses e de muitas peripécias, o navio cedeu à pressão do gelo e o seu casco de madeira foi esmagado, afundando-se nas águas austrais geladas no dia 21 de Novembro de 1915. Dispondo apenas de uma pequena embarcação salva-vidas, Ernest Shackleton decidiu procurar auxílio na estação baleeira da Geórgia do Sul, situada a quase dois mil quilómetros de distância. Foi uma aventura bem-sucedida porque, apesar de todas as dificuldades, Shackleton conseguiu que todos os seus 28 companheiros fossem salvos.
Cento e sete anos depois, o Endurance foi localizado e fotografado a dez mil pés de profundidade no mar de Weddell por uma equipa científica patrocinada pelo Falklands Maritime Heritage Trust, que saiu da Cidade do Cabo a bordo de um navio quebra-gelos. As fotografias obtidas mostram que o navio está muito bem preservado e que até o seu nome podia ser visto estampado na popa, o que deu origem à afirmação de que “a preservação está para além da imaginação”
Uma bela história em tempo de guerra.

Macau evoca Camões e ‘Os Lusíadas’

A propósito da celebração dos 450 anos da publicação d’Os Lusíadas, decorre amanhã um congresso internacional em que participam especialistas de várias partes do mundo, incluindo o território de Macau, como se pode observar na notícia da primeira página da edição de hoje do jornal Tribuna de Macau, que publica a fotografia do busto de Camões que se encontra na chamada gruta de Camões, existente no Jardim Luís de Camões em Macau.
Este jardim é um dos mais aprazíveis locais da cidade, com um luxuriante verde orlado de frondoso arvoredo e carreiros sinuosos, havendo formações rochosas e algumas peças escultóricas disseminadas pelo seu espaço. Numa das formações rochosas a que uma escadaria dá acesso, encontra-se a gruta de Camões, um importante elemento da memória e da cultura macaense de raiz portuguesa. Porém, a relação do poeta com Macau é um assunto com mais dúvidas do que certezas, porque não se conhecem documentos que esclareçam a verdade histórica, daí resultando muita imaginação e muita especulação, embora ao longo dos anos tenha prevalecido a ideia de que Camões terá vivido em Macau e terá escrito uma parte da sua obra exactamente nesta gruta.
Neste congresso haverá um discurso do sultão Hidayatullah Sjah, o rei de Ternate (que no século XVI foi a “capital portuguesa” das Molucas), estando asseguradas comunicações por académicos indonésios, macaenses, iranianos, turcos, goeses e especialistas de outras origens, que reconhecem na expansão marítima portuguesa um movimento pioneiro na globalização e no encontro de culturas. 
O que é realmente curioso é o facto de um jornal macaense escolher a fotografia do busto de Camões para ilustrar a primeira página da sua edição.