A edição de ontem
do semanário caboverdiano Expresso das Ilhas dedica a sua
manchete a Amílcar Cabral, seguramente a personalidade maior de Cabo Verde, que
hoje completaria 100 anos de idade.
Nascido em Bafatá
(Guiné-Bissau) no dia 12 de setembro de 1924, veio a ser assassinado no dia 20
de janeiro de 1973 em Conacri (República da Guiné), quando tinha apenas 48 anos
de idade e era a principal figura da luta pela independência das colónias
portuguesas, mas também um respeitado líder anticolonialista mundial.
Em 1945 rumou a
Lisboa onde frequentou o Instituto Superior de Agronomia, cujo curso concluiu
com sucesso em 1950, mas nesse período envolveu-se em actividades políticas contra
o regime de Salazar, sobretudo no âmbito da Casa dos Estudantes do Império, daí
nascendo a sua adesão aos movimentos de libertação colonial, aparecidos depois
da 2ª Guerra Mundial e acelerados com a conferência de Bandung. Em 1956, na
cidade de Bissau, fundou o Partido Africano para a Independência da Guiné e
Cabo Verde (PAIGC), que dirigiu até à sua morte, acontecida em circunstâncias
trágicas, quando “a independência estava ao virar da esquina”.
Durante a luta
armada contra a presença portuguesa na Guiné iniciada em 1963, o PAIGC de
Amílcar Cabral ameaçou seriamente as tropas coloniais com uma derrota militar, mas
muitas vezes afirmou que a sua luta era contra o colonialismo e não contra o
povo português e, várias vezes também, propôs negociações com as autoridades
portuguesas para acabar com a guerra, mas a intransigência marcelista e o seu
regime recusaram essa hipótese.
O insuspeito
professor Adriano Moreira escreveu que “talvez Cabral tenha sido o mais
lusotropicalista dos chefes do movimento revolucionário, com um notável uso da
língua portuguesa, e uma invocação constante dos valores que são os da Carta da
ONU”. Apesar de ter estado na Guiné do outro lado da luta armada, aqui presto a
minha homenagem a Amílcar Cabral.