quinta-feira, 12 de setembro de 2024

O centenário de Amílcar Cabral

A edição de ontem do semanário caboverdiano Expresso das Ilhas dedica a sua manchete a Amílcar Cabral, seguramente a personalidade maior de Cabo Verde, que hoje completaria 100 anos de idade.
Nascido em Bafatá (Guiné-Bissau) no dia 12 de setembro de 1924, veio a ser assassinado no dia 20 de janeiro de 1973 em Conacri (República da Guiné), quando tinha apenas 48 anos de idade e era a principal figura da luta pela independência das colónias portuguesas, mas também um respeitado líder anticolonialista mundial.
Em 1945 rumou a Lisboa onde frequentou o Instituto Superior de Agronomia, cujo curso concluiu com sucesso em 1950, mas nesse período envolveu-se em actividades políticas contra o regime de Salazar, sobretudo no âmbito da Casa dos Estudantes do Império, daí nascendo a sua adesão aos movimentos de libertação colonial, aparecidos depois da 2ª Guerra Mundial e acelerados com a conferência de Bandung. Em 1956, na cidade de Bissau, fundou o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que dirigiu até à sua morte, acontecida em circunstâncias trágicas, quando “a independência estava ao virar da esquina”.
Durante a luta armada contra a presença portuguesa na Guiné iniciada em 1963, o PAIGC de Amílcar Cabral ameaçou seriamente as tropas coloniais com uma derrota militar, mas muitas vezes afirmou que a sua luta era contra o colonialismo e não contra o povo português e, várias vezes também, propôs negociações com as autoridades portuguesas para acabar com a guerra, mas a intransigência marcelista e o seu regime recusaram essa hipótese.
O insuspeito professor Adriano Moreira escreveu que “talvez Cabral tenha sido o mais lusotropicalista dos chefes do movimento revolucionário, com um notável uso da língua portuguesa, e uma invocação constante dos valores que são os da Carta da ONU”. Apesar de ter estado na Guiné do outro lado da luta armada, aqui presto a minha homenagem a Amílcar Cabral.