sábado, 25 de junho de 2022

Uma obra ímpar: os painéis de S. Vicente

Na História de Portugal há alguns assuntos menos esclarecidos que têm suscitado dúvidas e incertezas, dando origem a algumas teorias explicativas, mas que permanecem como enigmas. Os painéis de S. Vicente, atribuídos a Nuno Gonçalves, são um desses casos sobre o qual já se escreveram centenas de monografias e muitos milhares de páginas com hipóteses e interpretações múltiplas e discordantes.
O facto é que o famoso políptico que consta de seis painéis e que terá sido concluído por volta de 1470, é a mais importante pintura da arte portuguesa, representando a Corte e os vários estratos da sociedade portuguesa quinhentista, impressionando quem a vê em Lisboa, no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA). Os painéis foram acidentalmente descobertos em 1882 no Paço Patriarcal de São Vicente de Fora e, depois de restaurados, foram expostos pela primeira vez em 1910 na Academia de Belas Artes de Lisboa. Desde então surgiram inúmeras teses sobre os painéis e a sua origem, sobretudo em relação à iconografia e à identidade das 58 personagens cujos retratos constituem o essencial da obra, havendo centenas de propostas quanto à sua identificação. Os painéis tiveram duas operações de restauro global e várias intervenções pontuais ou selectivas, mas urgia estudá-los, conservá-los e restaurá-los.
A oportunidade do estudo e do restauro do políptico surgiu com a assinatura de um protocolo mecenático entre o MNAA, o Grupo de Amigos do MNAA, a Direcção-Geral do Património Cultural e a Fundação Millennium bcp, que vem sendo desenvolvido desde há dois anos com a coordenação de Joaquim Caetano, o director do MNAA. De acordo com o que já se sabe, os painéis que vão sair desta intervenção serão mais próximos dos originais e quanto à identificação das personagens, terão ficado dissipadas as dúvidas sobre a identidade do homem de chapéu à moda da Borgonha, que será mesmo o infante D. Henrique.
Em boa hora, a E - Revista do Expresso deu a conhecer esta iniciativa de grande interesse cultural e que, certamente, será inspiradora de muitos mais projectos desta natureza.

A Ucrânia e a sua adesão à União Europeia

A actual União Europeia nasceu no dia 25 de Março de 1957 com o Tratado de Roma, que instituiu a Comunidade Económica Europeia e tinha apenas seis membros. Depois, com os sucessivos alargamentos chegou aos 28 membros mas, com a saída do Reino Unido, são agora 27. Desde 1986 que Portugal faz parte desse espaço de prosperidade, de tolerância e de ambiguidade, onde têm cabido diferentes culturas, línguas, histórias, religiões e níveis de desenvolvimento muito diversos. 
Porém, o projecto inicial de Jean Monnet e de Robert Schuman, que foi consolidado por homens como Konrad Adenauer, François Mitterrand, Helmut Kohl e Jacques Delors, sobredimensionou-se, atravessa evidentes dificuldades de coesão e vem-se desenvolvendo a várias velocidades. 
Para além dos 27, há actualmente cinco candidatos reconhecidos para a adesão, respectivamente a Turquia desde 1987, a Macedónia do Norte desde 2004, o Montenegro desde 2008 e a Albânia e a Sérvia desde 2009, havendo ainda dois países com o estatuto de potenciais candidatos: a Bósnia-Herzegovina e o Kosovo. Na sequência da invasão russa da Ucrânia e da teimosia com que as partes em conflito persistem naquela guerra, os 27 aprovaram o estatuto de candidatos à adesão da Ucrânia e da República da Moldávia o que, segundo o jornal catalão La Vanguardia, deu origem à frustração entre os líderes dos Balcãs ocidentais por verem os seus processos de adesão ultrapassados. 
Esta medida do Conselho Europeu tem natureza exclusivamente política, é demagógica e apenas pretende enganar os ucranianos, pois todos os 27 líderes europeus, incluindo o português António Costa, sabem que a entrada da Ucrânia na União Europeia iria alterar todo o actual contexto de equilíbrio, pois seria grande demais e o seu maior país, acrescentaria 40 milhões de habitantes com um produto per capita de 28,9% em relação à média europeia, o que tornaria a Ucrânia a principal beneficiária das ajudas comunitárias de pré e de pós-adesão. Mesmo que sejam solidários, muitos europeus dificilmente aceitariam que possam deixar de ser beneficiários das ajudas comunitárias de que agora beneficiam. Talvez daqui a trinta anos...

Aproximam-se as eleições gerais no Brasil

Faltam cerca de cem dias para a realização da primeira volta das eleições gerais no Brasil que estão agendadas para o dia 2 de Outubro e estima-se que 148 milhões de brasileiros irão às urnas, o que significa que este país é uma das maiores democracias do mundo.
Nessas eleições serão escolhidos o presidente, o vice-presidente e os deputados do Congresso Nacional, mas também os governadores, os vice-governadores e os deputados das assembleias legislativas estaduais, mas o interesse das eleições centra-se sobretudo na escolha do presidente da República. Nesta altura estão anunciadas doze pré-candidaturas, embora todas as sondagens indiquem que a luta eleitoral será entre o actual presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
De entre as inúmeras sondagens divulgadas destaca-se a que é regularmente apresentada pela Datafolha, o instituto de pesquisas do Grupo Folha a que também pertence o jornal Folha de S. Paulo, que na sua última edição revelou que actualmente Lula recolhe 47% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro se fica por 28%, o que mostra que Lula poderá ser eleito logo à primeira volta. No entanto, uma outra sondagem realizada pela PoderData, um instituto do grupo de comunicação Poder360, indica que na hipótese de uma segunda volta, o candidato Lula da Silva tem 52% de intenções de voto, contra 35% do actual presidente.
Porém, há outras sondagens como a do Instituto de Pesquisas Gerp de Niterói-RJ, que indica que os dois candidatos estão tecnicamente empatados com 39 e 37% das intenções de voto. Significa, portanto, que há sondagens para todos os gostos, embora pareça que Luiz Inácio Lula da Silva se encaminha para regressar ao Palácio do Planalto e volte a presidir aos destinos do Brasil.