quinta-feira, 3 de março de 2022

Quando a fotografia serve a propaganda

A resistência ucraniana está a surpreender o mundo e as notícias que vamos recebendo indicam que têm sido distribuídas armas à população, que foram organizadas forças de voluntários civis, que estão a ser preparados obstáculos para impedir a progressão de viaturas blindadas e que, em várias cidades, os civis estão a ser ensinados a fazer e a lançar cocktails molotov.
Por isso, tem um significado muito simbólico a fotografia hoje publicada pelo jornal croata Večernji list e pelo jornal italiano La Repubblica, na qual um combatente civil lança um cocktail molotov num cenário de fogo e fumo em que se vê uma bandeira ucraniana, um outro homem que observa aquele lançamento e a mão de um terceiro homem que estende um outro cocktail molotov. Aquela imagem, captada na cidade de Zhytomyr, a menos de cem quilómetrios de Kiev, associada à expressão do jornal italiano - La resistenza di un popolo – deixa ao leitor a ideia de que se trata de um ataque da corajosa resistência ucraniana, até porque tem sido anunciado que as forças invasoras russas se encontram às portas de Kiev.
Porém, numa breve pesquisa efectuada na internet, verificamos que se trata de uma imagem retirada de um conjunto de imagens captadas numa vulgar sessão de treino de lançamento de cocktails molotov ou numa sessão especialmente preparada para a recolha de fotografias, que foi realizada em Zhytomyr. Assim, aquela que parecia ser uma fotografia para ficar na História da Resistência Ucraniana, não passa de uma imagem enganosa destinada a servir a propaganda e a manipular alguém ou alguma coisa, incluindo aqueles dois jornais.

Solidariedade para com o povo ucraniano

A guerra na Ucrânia pode ser analisada sob diferentes aspectos políticos e militares, mas a resistência ucraniana às forças invasoras russas parece ser o aspecto mais surpreendente desse conflito que está a atravessar o centro da Europa e que parece agravar-se em cada dia que passa. A Ucrânia está a reagir como um pequeno Davi que enfrenta o gigante Golias. 
A mobilização popular para combater o invasor por todos os meios e a ideia de defender as cidades, rua a rua, estão a impressionar a Europa, pois já não se imaginava que houvesse um povo com tanta coragem e tanta heroicidade, num tempo em que as sociedades contemporâneas estão dominadas pelos valores do consumo e do conforto, que tendem a sobrepor-se a todos os outros ideais, como a independência e a liberdade. 
Na chamada Europa das Pátrias, o exemplo da Ucrânia é, certamente, um caso singular. Poucos defenderiam a sua terra como o estão a fazer os ucranianos. Por isso, a solidariedade europeia para com o povo ucraniano está a acentuar-se à medida que se vai conhecendo a firmeza e a determinação ucraniana para resistir ao invasor, apesar dos intensos bombardeamentos russos que são feitos sobre as cidades. 
Essa solidariedade está a manifestar-se de formas muito diversas, mas destacamos a iniciativa do jornal italiano Corriere della Sera que, na sua edição de hoje, mostra a sua solidariedade e homenageia a nação ucraniana, ao publicar a sua bandeira em todo o espaço da sua primeira página.