quinta-feira, 3 de março de 2016

A triste opção da deputada Albuquerque

Foi hoje anunciado pela própria, que a partir da próxima 2ª feira a ex-ministra das Finanças vai ser administradora não-executiva da Arrow Global, uma empresa inglesa especializada na angariação e recuperação de dívida pública e privada. Depois de Gaspar e de Moedas, temos Madame Albuquerque a safar-se em grande, enquanto o amigo Passos fica por cá a ver navios e a dizer baboseiras.
A Arrow Global actua em Portugal desde há alguns anos e, entre outros, fez vários e muito lucrativos negócios com o Banif, exactamente quando Madame Albuquerque exerceu funções governativas relacionadas com a gestão de dívida pública nacional e com a salvaguarda do sector financeiro
Quer dizer que a ex-ministra das Finanças vai ser administradora de uma empresa que adquire activos detidos pelas empresas financeiras portuguesas, que especula e que depois os vende com mais-valias exorbitantes. Há quem diga que Madame Albuquerque vai trabalhar com um fundo "abutre", que lucra com a fragilidade do sistema financeiro português e com os activos tóxicos que estão na posse do Estado e que os contribuintes vão ter que pagar. Há também quem diga que esta fraqueza de Madame Albuquerque é uma ilegalidade e uma incompatibilidade, um caso de falta de ética e de promiscuidade, ou uma situação de escandalosa ganância pessoal. Há quem exija a clarificação dos “negócios” da Arrow Global.
As coisas, de facto, não soam bem. Apesar de ter dito que não é incompatível ser deputada e ser administradora de uma empresa sedeada em Londres, há quem diga que é uma irresponsabilidade política e uma desonestidade pessoal que uma deputada portuguesa sentada na última fila do Parlamento, passe o tempo a tratar dos assuntos da britânica Arrow Global. Dizem que é falta de senso, mas Madame Albuquerque tem bom senso. Olá se tem! Então qual é o problema de passar a ter dois empregos que lhe dão bom dinheirinho, de ter passaporte diplomático e de ter imunidade parlamentar? 

Há um mau jornalismo que envergonha

Hoje, a capa do jornal i é um exemplo de muito mau jornalismo, ao anunciar com grande destaque que a TAP é a quinta pior companhia do mundo e que a SATA é a pior, o que não é apenas um disparate mas é, também, uma falta de respeito para com os leitores do jornal e para com os trabalhadores e os passageiros daquelas companhias. Os quatro cidadãos que, no cabeçalho do jornal, colocam os seus nomes com o pomposo título de directores estavam distraídos ou são incompetentes.
Todos sabemos que são frequentes as comparações internacionais entre companhias aéreas e que, anualmente, são publicados rankings das melhores e das piores, das mais seguras, das mais pontuais ou das mais confortáveis, mas os jornais respeitáveis só divulgam esses rankings como curiosidades, porque essas classificações são subjectivas e muitas vezes manipuladas, pelo que não têm qualquer credibilidade. São, isso mesmo, curiosidades. Recentemente, houve três dessas curiosidades em que aparece a TAP.
[1] A Skytrax World Airline Awards anunciou que as melhores companhias aéreas estavam na Ásia e no Pacífico e que os World Airline Awards, considerados os “óscares da aviação comercial” tinham distinguido a Qatar Airways, a Singapore Airlines e a Cathay Pacific. Na lista das Top 100 airlines a TAP aparecia em 70º lugar, à frente de algumas companhias europeias e note-americanas.
[2] Na passada semana a Jet Airline Crash Data Evaluation Centre (JACDEC), uma organização alemã que analisa a segurança da aviação comercial, divulgou o seu relatório sobre segurança aérea e, entre sessenta companhias aéreas mundiais, colocou a TAP no 10º lugar do seu JACDEC Safety Index 2016.
[3] Há poucos dias, a revista norte-americana Fortune publicou um estudo que o Diário de Notícias divulgou que, entre setenta companhias aéreas, considera a TAP a quarta companhia “mais amada” do mundo nas redes sociais.
Nenhum jornal português deu relevo a essas curiosidades, o que é normal. O que não é normal é a capa da edição de hoje do jornal i que é sensacionalista, disparatada e envergonha o jornalismo.