sexta-feira, 26 de abril de 2024

25 de Abril sempre!

O semanário Expresso adquiriu um estatuto de jornal de investigação, de objectividade noticiosa e de não alinhamento partidário, que lhe conferem uma singular posição de prestígio no panorama da imprensa portuguesa. Nascido há mais de 51 anos, o seu grafismo foi sempre muito discreto e nunca apostou em grandes manchetes, nem sequer no sensacionalismo com que muitas vezes se enganam os leitores. Porém, na edição de ontem que dedicou aos 50 anos do 25 de Abril, o semanário parece ter sido seduzido pelo entusiasmo popular e pelos cravos vermelhos que regressaram às ruas portuguesas, utilizando uma ilustração que representa a alegria do povo e um advérbio de tempo que aparece muitas vezes associado ao 25 de Abril: sempre.
Até parece que o Expresso só agora aderiu aos ideiais do 25 de Abril, o que obviamente não é verdade. Numa altura em que há sérias preocupações quanto ao futuro, tanto lá fora como por cá, os portugueses regressaram às grandes manifestações populares e mostraram como estão alinhados com os ideais da Liberdade e da Democracia, podendo afirmar-se com segurança, que ressuscitaram a força mobilizadora, as esperanças e o entusiasmo do 25 de Abril, voltando a cantar as canções de José Afonso. A simbólica manifestação que em Lisboa costuma descer a avenida da Liberdade, juntou muitos milhares de pessoas, um verdadeiro mar de gente como já não se via desde há muitos anos. Como diria Chico Buarque, “foi bonita a festa pá, fiquei contente”.
A imprensa portuguesa, bem como alguma imprensa estrangeira, associaram-se a esta efeméride e destacaram os progressos sociais proporcionados aos portugueses pelas “portas que Abril abriu”, lembrando que a revolução portuguesa também inspirou a democratização em Espanha, na Grécia e em vários países da América Latina, para além de ter permitido o fim da guerra colonial e a independência dos novos países de língua oficial portuguesa.
Tal como o Expresso escreveu na sua edição de ontem, também aqui deixamos a nossa mensagem: 25 de Abril sempre!

terça-feira, 23 de abril de 2024

A cidade de Macau: não há outra mais leal

No século XVI, segundo escreveu Luís de Camões, os portugueses andaram “por mares nunca de antes navegados e passaram ainda além da Taprobana”. Passados cinco séculos de convivência luso-asiática, as marcas dessa passagem ainda são observáveis em vários países e regiões da Ásia do Sul, do Sudoeste Asiático e da Ásia Oriental, tanto nos seus patrimónios materiais, como imateriais.
Macau é, porventura, o maior símbolo dessa realidade. Depois de 442 anos de administração portuguesa, o território regressou à soberania chinesa em 1999 e tornou-se a Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China que, de acordo com a famosa Declaração Conjunta Sino-Portuguesa de 1987, conservará durante 50 anos o seu modo de vida e as suas especificidades culturais, resultantes do longo período em que o território foi administrado por Portugal.
Hoje, a marca portuguesa em Macau não é tão forte como muitos desejariam, mas também não é tão fraca como muitos acusam. Um facto revelador da força da memória portuguesa em Macau aconteceu em 2005, quando a Unesco inscreveu o Centro Histórico de Macau na sua World Heritage List, como “testemunho único do encontro de influências estéticas, culturais, arquitectónicas e tecnológicas do Oriente e do Ocidente”. Nesse território, a que estão emocionalmente ligados muitos milhares de portugueses e onde existem três jornais diários em português, também os 50 anos do 25 de Abril vão ser comemorados, como anuncia na sua edição de hoje o diário hojemacau
Naturalmente, ocorre-nos o título concedido à cidade em 1654 pelo rei D. João IV, como recompensa à lealdade da população portuguesa da cidade durante a ocupação filipina: Cidade do Santo Nome de Deus de Macau, Não Há Outra Mais Leal.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

A imprensa e a evocação do 25 de Abril

Estão a comemorar-se cinquenta anos sobre o 25 de Abril de 1974 – o dia inicial, inteiro e limpo, como se lhe referiu Sofia de Melo Breyner – e, sem polémicas nem contestações, os portugueses estão a celebrar essa data histórica com entusiasmo.
Numa sondagem publicada na última edição do semanário Expresso era revelado que 65% dos portugueses considerava o 25 de Abril o mais importante acontecimento da História de Portugal, enquanto 68% entendia que o modelo de comemoração oficial ainda faz sentido. De facto, um pouco por todo o país, em especial nas escolas, nas autarquias e nas associações cívicas, tanto o Estado como a sociedade civil têm vindo a celebrar a reconquista da Liberdade e da Democracia por diferentes formas, sobretudo exposições, conferências, colóquios, torneios desportivos e festas populares.
A comunicação social tem-se associado a esta histórica celebração com edições especiais, nas quais se fazem balanços, se evocam episódios mais ou menos conhecidos, se republicam fotografias históricas e se destaca o papel de alguns protagonistas como Salgueiro Maia, Otelo Saraiva de Carvalho ou Vasco Lourenço. Porém, a edição especial do Jornal de Letras, Artes e Ideias ou, simplesmente JL, dirigida pelo histórico José Carlos de Vasconcelos, difere da generalidade das outras edições especiais, ao focar-se na análise dos 50 anos de Liberdade e Democracia através de textos subscritos por diversos intelectuais de referência. É frequente que, por motivos comerciais, algumas edições especiais usem a frase “esta é uma edição para guardar”, mas não é o caso do JL, embora tivesse todo o sentido que essa recomendação fosse feita. É mesmo uma edição para ler e guardar!

sábado, 20 de abril de 2024

A Índia e o extremismo de Narendra Modi

O complexo processo eleitoral indiano arrancou ontem e vai desenvolver-se até ao dia 1 de junho, tendo como favorito à vitória final o Bharatiya Janata Party ou BJP, o partido de Narendra Modi, o actual chefe do Governo. Serão quase 970 milhões de eleitores que irão escolher os 543 membros do Lok Shaba, a câmara baixa do parlamento indiano, que depois escolherá o primeiro-ministro para os próximos cinco anos. Há dez anos no poder, o primeiro-ministro Modi lidera com mão de ferro o BJP, com o apoio de um poderoso braço político-militar que é o Rashtriya Swayamsevak Sangh ou RSS, um grupo paramilitar nacionalista hindu, com características extremistas de direita. 
O autoritarismo é, provavelmente, a marca mais relevante da política de Modi e tem sido utilizada na repressão dos movimentos dos pequenos agricultores, nos ataques à liberdade de expressão e ao jornalismo independente, mas também na afirmação do sectarismo religioso hindu. 
Segundo relata hoje o jornal The New Indian Express, que insere um anúncio de primeira página em que Narendra Modi apela ao voto, na sua campanha eleitoral ele atacou os seus adversários por não terem liderança nem visão de futuro, denunciando a influência “de várias pessoas grandes e poderosas, tanto a nível nacional como internacional, que deram as mãos para o destituir do seu cargo”. Porém, o RSS e os seus grupos paramilitares radicais e que actuam com evidente protecção do poder do BJP e de Narendra Modi, têm conduzido acções de grande violência contra mesquitas e igrejas, que as grandes potências tendem a ignorar pois o que lhes interessa é o liberalismo económico indiano e os grandes negócios de armamento. 
Os católicos de Goa, um dos 28 estados da Índia, têm vivido com muita preocupação a permanente ameaça que constitui o RSS, sobretudo nesta fase em que são mobilizados pelo processo eleitoral.

Paris 2024: só faltam 100 dias para a festa

Os Jogos Olímpicos de 2024 ou Jogos da XXXIII Olimpíada vão disputar-se em França entre os dias 26 de julho e 11 de agosto de 2024, com a cidade de Paris a ser o centro desse grande evento mundial, embora se realizem provas desportivas em 16 cidades da França Metropolitana, ou no Hexágono, como os franceses por vezes se referem ao seu território europeu.
Há dias, quando faltavam 100 dias para a cerimónia de abertura desta Olimpíada, a generalidade da imprensa francesa dedicou grandes reportagens ao acontecimento e tratou de forma especial, ou até com o costumado chauvinismo francês, os atletas que vão defender “l’honneur de la France”. O jornal Le Parisien foi apenas um dos jornais que dedicou uma edição especial ao acontecimento, tendo escolhido “les 100 Français qui vont faire briller les Jeux”, sobre os quais colocou o peso de ganharem medalhas e de levarem a bandeira tricolor a subir ao ponto mais alto dos mastros olímpicos.
Os Jogos Olímpicos são um enorme investimento financeiro que, sobretudo, visa proporcionar ao país-organizador ganhos de prestígio e de afirmação internacional, com repercussão em todas as áreas da vida francesa, como por exemplo no turismo, no comércio, no desporto, na diplomacia e em muitas outras áreas. Durante duas semanas, os olhos e os ouvidos do mundo estarão concentrados em França, mas também na bandeira francesa, enquanto os franceses esperam ouvir muitas vezes La Marseillaise, o hino nacional da França. O pequeno Emmanuel Macron vai jogar a sua popularidade e o seu prestígio no plano internacional, mas sobretudo no plano interno, como se fosse um atleta em prova.

A guerra iminente ou o fim de um capítulo

A enorme rivalidade e a consequente conflitualidade existentes entre Israel e o Irão tiveram nos últimos meses uma grande e muito preocupante aceleração, cujos pontos mais altos terão sido o ataque ao consulado iraniano em Damasco efectuado no dia 1 de abril por aviões israelitas F-35, a que se seguiu um ataque de retaliação em larga escala, realizado no dia 14 de abril, em que foram lançados cerca de três centenas de drones, mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos iranianos sobre território israelita. O massacre que tem sido feito aos palestinianos em Gaza parece ter sido esquecido, bem como a exigência do fim da venda de armas a Israel, que alguém já classificou como “a ruína moral do Ocidente”.
O mundo pediu contenção aos dois adversários. Hoje, a edição da revista alemã Der Spiegel  publica as imagens do ayatolá Ali Khamenei e de Benjamin Netanyahu, afirmando que o conflito entre o Irão e Israel é perigoso para o mundo e perguntando se estamos perante o início da próxima guerra mundial. Porém, em sentido inverso, o jornal Público destaca na sua edição de hoje que o “ataque limitado de Israel pode ser o fim de um capítulo perigoso”.
As nossas televisões estão inundadas de eruditos comentadores e comentadoras que nos dão todas as análises opinativas e especulativas sobre aquele conflito, por vezes com lições de história aprendidas apressadamente no Google, mas parece que sabem pouco sobre o que se está a passar, como mostram as manchetes de hoje da revista alemã e do jornal português.
O nosso voto é que o jornal português tenha razão e que já estejamos no “fim de um capítulo perigoso”.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Açoriano Oriental: 189 anos de vida cívica

Completa hoje 189 anos de idade o jornal Açoriano Oriental, um diário que se publica na ilha de São Miguel desde o dia 18 de abril de 1835, sempre com o mesmo nome e de forma contínua e regular. É uma relíquia ou um monumento nacional, pois não só é o mais antigo jornal em circulação em Portugal, como também é um dos dez jornais mais antigos do mundo.
Hoje, o jornal mantém o seu dinamismo editorial e, a provar que está vivo e de boa saúde, assinalou o seu 189º aniversário com uma edição especial dedicada ao debate do tema “Que futuro para os Açores, 50 anos após o 25 de Abril”, na qual diversos especialistas tratam a problemática das ilhas dos Açores em diferentes áreas temáticas, incluindo o desenvolvimento económico, a cultura, a política, os parques tecnológicos, o turismo, a agricultura e as pescas, engtre outros, sempre orientados para o futuro.
A propósito da efeméride que hoje se celebra, também foi organizada uma exposição na cidade de Ponta Delgada em que, através da apresentação de algumas das suas primeiras páginas, é possível apreciar a evolução gráfica do jornal e recordar o relato então feito de alguns momentos históricos da vida açoriana, como a erupção vulcânica dos Capelinhos ou a visita do Papa João Paulo II.
Enquanto leitor do Açoriano Oriental desde há muitos anos, é com muita satisfação que acompanho esta histórica efeméride e aplaudo aqueles que diariamente constroem cada edição do jornal.

Uma evocação francesa do 25 de Abril

O 25 de Abril de 1974 foi um acontecimento histórico que devolveu a Liberdade e a Democracia aos portugueses, depois de 48 anos de Ditadura, mas sua importância foi universal, como mostra a edição nº 517, de Março de 2024, da revista francesa L’Histoire, que agora surgiu à venda em Portugal e que no seu Dossier Portugal 1974, inclui uma alargada reportagem intitulada “Portugal: la Révolution des Œillets”.
Cinquenta anos depois do “jour initial, entier et pur”, segundo as palavras de Sophia de Mello Breyner, o 25 de Abril é evocado em França como uma data histórica e libertadora. São 27 páginas muito ilustradas, com fotos e infografias, que são assinadas por diferentes especialistas franceses, entre os quais Yves Léonard que, no seu extenso texto escreveu que “com o 25 de Abril se abriu uma porta para a democracia, que depois foi fonte de inspiração para a Grécia, para a Espanha e para a América Latina”. Sobre a guerra colonial que foi determinante na iniciativa libertadora e num tempo a que chamou “le printemps des capitaines”, o mesmo autor mostra possuir boa informação e escreveu que se fala mesmo de um “Vietnam português na Guiné-Bissau” em que “os três G” – os três quartéis de Guidage, Guileje e Gadamael, cercados pelas forças da guerillha independentista do PAIGC – eram, em Maio de 1973, “sinónimo de corredor da morte para as tropas portuguesas”. O texto de Yves Léonard recorda o efeito dos ideais libertadores portugueses na Europa e lembra o que cantava Georges Moustaki em 1974: “Dis-leur qu’un oeillet rouge a fleuri au Portugal”.
O Dossier Portugal 1974 inclui outros textos de muito interesse, nomeadamente “La révolution vue de France”, onde se afirma que o 25 de Abril foi também “une affaire française”, porque havia quase um milhão de emigrantes portugueses em França, muitos dos quais tinham deixado o país clandestinamente para fugir à pobreza, à guerra e à ditadura de Salazar.
Em síntese, é uma belíssima edição de homenagem ao 25 de Abril e a Portugal.

terça-feira, 16 de abril de 2024

Feira de Sevilha é a casa dos sevilhanos

A Feira de Sevilha é um festival de interesse turístico internacional e decorre desde 14 de abril, prolongando-se até ao dia 20. Durante uma semana, a cidade de Sevilha está em festa, com os sevilhanos e os forasteiros a divertirem-se na feira onde se encontram mais de um milhar de stands de todo o tipo, para além da música, da dança, da gastronomia e, sobretudo, das touradas, que animam toda a gente, todos os dias e até altas horas da madrugada. Durante uma semana, diz-se que “a feira é a casa dos sevilhanos”.
Com a feira intensifica-se a temporada tauromáquica sevilhana, estando anunciadas catorze corridas de touros e a apresentação de alguns dos mais famosos toureiros do momento. De forma diversa do que acontece em Portugal onde a festa brava é cada vez mais hostilizada, em Espanha e em especial na Andaluzia e na Extremadura, o entusiasmo pelas touradas quase provoca o delírio e é uma afirmação cultural bem forte, sobretudo quando se realizam na Plaza de Toros da Real Maestranza de Sevilla. Na feira de este ano estarão presentes os espadas Morante de La Puebla em cinco corridas e os espadas Roca Rey e Daniel Luque em quatro, mas há sempre alguns matadores que não são contratados e deixam os seus apoiantes desiludidos.
Nas suas edições de hoje, tanto o Diario de Sevilla como o jornal ABC dedicaram as suas primeiras páginas à corrida de touros de ontem, destacando o matador sevilhano Juan Ortega que brilhou e que “hace la faena de la Feria”.
Naturalmente que a Feria de Sevilla não é só tourada, mas o facto é que a imprensa de referência da cidade é na tourada qure encontra o destaque da notícia.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Prudência e contenção no Médio Oriente

Na interpretação dos conflitos internacionais, sobretudo daqueles em que as partes se provocam, se ameaçam e recorrem a soluções pela via militar, os estudiosos procuram sempre saber as causas dessas situações, mas encontram-se muitas vezes confrontados com um dilema, ou um enigma, que é o de saber quem veio primeiro ao mundo, se foi o ovo ou a galinha. Um pequeno incidente ou um pequeno conflito localizado, servem muitas vezes de pretexto para que uma das partes suba o patamar da conflitualidade e acuse e agrida, ou responda e retalie, como se tem visto na Ucrânia e no Médio Oriente. As causas profundas existem, mas os pretextos são muitas vezes fabricados e ampliados, enquanto as vítimas são, por agora, os ucranianos e os palestinianos. Se em relação ao conflito da Ucrânia com a Rússia costumamos dizer que é a altura de pararem, no que respeita ao conflito do Irão com Israel o que há a dizer é que não comecem.
A comunidade internacional e as maiores potências mundiais, têm repetido a necessidade de haver muita contenção, pois a continuação da escalada é uma séria ameaça à paz mundial, para além de ambas as partes já poderem reclamar que atingiram os seus objectivos, um porque atacou o adversário no seu próprio território e o outro porque deteve centenas de mísseis e drones iranianos. Os Estados Unidos já anunciaram que não querem ser arrastados para o conflito até porque têm eleições presidenciais, enquanto o Reino Unido e a França sabem que se arriscam a que a guerra chegue a Londres e a Paris. Por tudo isto, é preciso baixar as tensões e fazer com que a Diplomacia encontre soluções.
Essa é a orientação que a imprensa mundial parece adoptar, sugerindo prudência a ambas as partes, mas muita prudência, porque está ameaçada a paz mundial. Assim faz, também, a edição de hoje do jornal Dennik N, que se publica na cidade eslovaca de Bratislava.

domingo, 14 de abril de 2024

O confronto não desejado de Irão e Israel

Os espaços televisivos anunciaram ontem à noite que o Irão lançara um ataque aéreo maciço de retaliação contra Israel, que era esperado desde o ataque israelita de 1 de abril contra o complexo diplomático iraniano em Damasco, no qual morreram vários oficiais iranianos. Apesar de viverem há muitos anos em clima de ameaça e de inimizade, foi a primeira vez que o Irão atacou directamente o território israelita, enquanto Israel já antes atacara o solo iraniano. O medo da guerra no Médio Oriente acordou. Toda a região entrou em estado de alerta e o mundo aumentou muito o seu grau de ansiedade e preocupação.
A imprensa matutina ainda não dispunha de informações suficientes e independentes sobre o impacto do ataque iraniano, mas as manchetes já apareceram com o sensacionalismo de “quem quer vender jornais”, assim sucedendo com vários jornais como o nova-iorquino Daily News.
Era sabido que cerca de três centenas de mísseis e de drones tinham sobrevoado o Iraque, a Síria e a Jordânia, mas na sua grande maioria, ou cerca de 99%, terão sido neutralizados pelas forças israelitas, com a ajuda americana e inglesa. Entretanto, as autoridades iranianas declararam que a operação militar contra Israel “foi concluída”, mas que se houver resposta israelita a este ataque “a próxima operação será muito maior” e, ao mesmo tempo, avisaram os Estados Unidos que as suas bases militares na região serão um alvo iraniano, no caso de virem a cooperar em eventuais acções ofensivas israelitas.
Em Israel desvalorizam-se os efeitos do ataque e afirma-se que quase tudo foi abatido, enquanto o Irão se mostra satisfeito com a retaliação que realizou. Não sabemos a verdade, mas desejamos que haja contenção das partes e que a Diplomacia lhes possa mostrar que é melhor pararem…
O facto é que a iniciativa iraniana pode gerar uma escalada perigosíssima. Por isso, foi condenada, sobretudo pelos Estados Unidos e pelos seus amigos e aliados que, mais uma vez, têm dois pesos e duas medidas, pois condenam o Irão por esta acção, mas ainda não condenaram Israel pelos seus excessos e as suas repetidas agressões, além de lhe continuar a fornecer equipamento militar.

sábado, 13 de abril de 2024

Narendra Modi e as eleições indianas

O processo eleitoral indiano arranca no próximo dia 19 de abril e decorrerá em sete fases até ao dia 1 de Junho, com o apuramento dos resultados finais a iniciar-se três dias depois. Com cerca de 1,4 mil milhões de habitantes, a Índia já é o país mais populoso do mundo e os seus cadernos eleitorais têm cerca de 970 milhões de eleitores, que votarão em mais de um milhão de assembleias de voto.
O Bharatiya Janata Party (BJP), que é o partido do actual primeiro-ministro Narendra Modi, é o favorito à vitória e, depois de Jawaharlal Nehru, pode tornar-se no segundo primeiro-ministro indiano a conseguir três mandatos consecutivos. O seu principal adversário é Rahul Gandhi, bisneto de Nehru, que é o candidato do Indian National Congress (INC), mas as sondagens são-lhe muito desfavoráveis.
A este propósito, a revista Newsweek publicou uma entrevista exclusiva com Narendra Modi, classifica-o como unstoppable, isto é, imparável, anunciando que ele “está mudando a Índia e o mundo”. A longa entrevista de Modi é, sobretudo, uma peça de propaganda e uma reportagem muito laudatória em relação à sua liderança, tendo todas as características de uma publireportagem ou reportagem paga.
Modi quer ter um estatuto mais elevado na comunidade internacional e paga para isso, mas porque é muito popular internamente, tudo aponta para que a sua vitória seja muito expressiva. Ele tem liderado a modernização do país, desde as infraestruturas às redes digitais, bem como a luta contra a pobreza. Porém, a sua ambição está cheia de contradições e revela um radical do nacionalismo e do hinduísmo, que coloca as suas hostes do RSS, a milícia paramilitar nacionalista hindu do BJP, a destruir mesquitas e igrejas e a perseguir, por vezes de forma muito violenta, as alargadas comunidades muçulmanas e cristãs da Índia.
Diz-se que a Índia é a maior democracia do mundo, mas há quem disso tenha dúvidas. A última edição portuguesa da revista Le Monde Diplomatique pergunta mesmo se a Índia é uma democracia.

terça-feira, 9 de abril de 2024

O eclipse que impressionou a América

Um eclipse solar total ocorreu ontem, quando a Lua se interpôs entre a Terra e o Sol, dando origem a um espectáculo seguido por milhões de pessoas em grande parte da América do Norte (México, Estados Unidos e Canadá), mas que também foi observado em algumas regiões ocidentais da Europa, incluindo os arquipélagos dos Açores e da Madeira.
Se antigamente os eclipses eram fenómenos venerados e temidos pelas populações, nos tempos modernos tornaram-se um acontecimento de massas, sobretudo pela divulgação prévia que deles é feita pela comunicação social, que acelera o interesse das populações por este tipo de acontecimentos que são esteticamente belos e que impressionam. Por isso, nas suas edições de hoje, a imprensa americana deu eco noticioso a este grande eclipse, publicando fotografias do fenómeno, assim acontecendo com o The Washington Post
Porém, as principais notícias que foram publicadas não foram para explicar o fenómeno, nem para salientar o enorme número de amadores de Astronomia que o acompanharam com óculos e filtros apropriados. A imprensa tratou de descrever os monumentais engarrafamentos que aconteceram nas estradas americanas quando, após a observação do eclipse, todos regressavam a casa. Escreveu-se que “a Améica parou” e, durante os quatro minutos ou menos que durou o eclipse em vários estados americanos, cessou todo o movimento nas estradas, mas depois seguiu-se uma monumental confusão.

domingo, 7 de abril de 2024

Cada vez mais se reclama o fim da guerra

Perfazem-se hoje seis meses sobre a data em que o Hamas provocou Israel, invadindo um festival de música e várias localidades israelitas próximas da fronteira com a Faixa de Gaza, massacrando 1.200 pessoas por vezes de forma cruel e sádica e fazendo 253 reféns. Israel respondeu ao ataque com uma acção militar, tendo invadido a Faixa de Gaza e prometendo acabar com o Hamas. Ninguém esperava outra coisa e Israel usou o seu direito de se defender. As operações militares visaram todos os tipos de estruturas, incluindo escolas e hospitais, com a justificação que serviam de arsenais, de esconderijos ou de escudos humanos para a gente do Hamas. Tem sido umaacção desproporcionada e contrária a todas as leis da guerra. Grande parte do território foi destruído até aos escombros, levando milhares de pessoas a fugir para o sul da Faixa de Gaza. Na cidade de Rafah, junto à fronteira egípcia, encontram-se agora mais de um milhão de refugiados, o que representa seis vezes mais do que a sua anterior população.
Segundo as autoridades palestinianas, a guerra causou até agora 33.175 mortos, incluindo 12.300 crianças e 75.000 feridos. As condições de vida em Rafah e no resto de Gaza são extremamente difíceis, pairando a ameaça de fome e de epidemias, pois faltam alimentos e os hospitais foram destruidos. Fala-se muito em genocídio do povo palestiniano e é cada vez maior a pressão internacional sobre Israel. Depois de muitos meses de indiferença pelo massacre que estava a acontecer, Joe Biden instou Benjamin Netanyahu para implementar um cessar-fogo imediato, sob pena de perder o apoio americano em Gaza, enquanto Rishi Sunak veio, finalmente, reclamar pelo fim da guerra, conforme hoje anuncia o jornal Sunday Express, que é a edição dominical do jornal The Daily Express. Que civilização é a destes homens que apelam ao fim da guerra, mas que ao mesmo tempo, são os principais responsáveis pela venda de armamento a Israel.

sábado, 6 de abril de 2024

A grande festa da Copa del Rey 2024

Hoje às 21.00 horas, no Estádio Olímpico de La Cartuja em Sevilha, disputa-se a final do Campeonato de España – Copa de Su Majestad el Rey ou, simplesmente, Copa del Rey 2024. Trata-se da mais antiga competição do futebol espanhol que foi criada em 1903 e que é disputada anualmente por eliminatórias, tendo como seus maiores vencedores o Barcelona FC (31 vezes), o Athletic Bilbao (23 vezes), o Real Madrid (20 vezes), o Atletico de Madrid (10 vezes) e o Valencia CF (8 vezes).
Este ano os finalistas são o Real Club Deportivo Mallorca que venceu a prova apenas uma vez na época de 2002-2003 e o Athletic Club Bilbao, que embora já tenha ganho a prova 23 vezes, está há quarenta anos sem a vencer. Nos seus percursos, entre outros adversários, o Mallorca ultrapassou o Girona e a Real Sociedad, enquanto o Athletic bateu o Barcelona e o Atletico de Madrid.
Hoje, na final de Sevilha, vão estar em confronto não apenas duas equipas de futebol, mas duas regiões espanholas com tradições, culturas e até línguas diferentes. Tanto a imprensa do País Basco, especialmente da Biscaia, como a imprensa das Baleares, destacam nas suas edições de hoje este jogo de futebol, incentivando as equipas da sua região para que tragam a Copa del Rey para Bilbao ou para Palma de Mallorca.
Dessa imprensa destacamos a original primeira página do jornal El Correo, na qual uma ilustração representa um navio, provavelmente com rumo a Sevilha, no qual viajam os jogadores, os técnicos e os apoiantes do Athletic com as suas bandeiras e com o seu entusiasmo.