quinta-feira, 16 de março de 2023

Bolsonaro e o seu comportamento indigno

O jornal brasileiro O Globo, que se publica no Rio de Janeiro, noticia hoje que o Tribunal de Contas da União (TCU) “manda Bolsonaro devolver as joias em cinco dias”, referindo-se às joias que lhe foram oferecidas pelo governo saudita em 2021. O TCU já obrigara o ex-presidente a devolver uma espingarda e uma pistola que em 2019 recebera das autoridades das Emirados Árabes Unidos, tendo agora decidido realizar uma auditoria a todos os presentes recebidos pelo Jair durante os quatro anos em que foi presidente do Brasil, porque ele se apropriara indevidamente deles. O chamado “escândalo da joalharia saudita” já corria na imprensa brasileira há vários dias, mas como as notícias podem ser verdadeiras ou falsas, não lhe demos credibilidade porque podiam enquadrar-se nos habituais esquemas de propaganda contra figuras políticas, que tão bem conhecemos em Portugal.
Agora a notícia confirma-se. Jair Bolsonaro tentou introduzir ilegalmente no Brasil um pacote de joias da marca Chopard no valor de três milhões de euros que as autoridades sauditas lhe tinham oferecido e que foram encontradas na mochila de um assessor, tendo sido apreendidas no aeroporto de São Paulo. A imprensa brasileira também relatou que um segundo pacote de joias, composto por um relógio, uma caneta e botões de punho, também da marca Chopard, conseguiu passar os controlos alfandegários e chegar a Bolsonaro, sendo esse o pacote que o tribunal exige agora que seja devolvido.
A troca de presentes é uma tradição na diplomacia e nas relações internacionais, acontecendo com objectos respeitantes à cultura de cada país, mas os países árabes costumam oferecer presentes de ouro, diamantes, rubis e outras pedras preciosas, quando são fortes as relações com os países. Não é o caso do Brasil e, por isso, há fortes suspeitas de corrupção e que haja interesses obscuros nas ofertas feitas aos Bolsonaros.
Em Portugal, o presidente Eanes foi exemplar nessas e em outras questões. Tratou de juntar os presentes que recebeu durante os seus mandatos (1976-1986) e expô-los publicamente porque eram pertença do Estado Português, daí vindo a nascer o Museu da Presidência da República, que foi inaugurado em 2004. No Brasil o comportamento de Jair Bolsonaro foi impróprio, indigno e desonesto, em contraste com o exemplo de seriedade de António Ramalho Eanes em Portugal.