O jornal
brasileiro O Globo, que se publica no Rio de Janeiro, noticia hoje que o
Tribunal de Contas da União (TCU) “manda Bolsonaro devolver as joias em cinco
dias”, referindo-se às joias que lhe foram oferecidas pelo governo saudita em
2021. O TCU já obrigara o ex-presidente a devolver uma espingarda e uma pistola
que em 2019 recebera das autoridades das Emirados Árabes Unidos, tendo agora decidido
realizar uma auditoria a todos os presentes recebidos pelo Jair durante os quatro
anos em que foi presidente do Brasil, porque ele se apropriara indevidamente deles. O chamado
“escândalo da joalharia saudita” já corria na imprensa brasileira há vários
dias, mas como as notícias podem ser verdadeiras ou falsas, não lhe demos
credibilidade porque podiam enquadrar-se nos habituais esquemas de propaganda
contra figuras políticas, que tão bem conhecemos em Portugal.
Agora a notícia
confirma-se. Jair Bolsonaro tentou introduzir ilegalmente no Brasil um pacote
de joias da marca Chopard no valor de três milhões de euros que as autoridades
sauditas lhe tinham oferecido e que foram encontradas na mochila de um assessor,
tendo sido apreendidas no aeroporto de São Paulo. A imprensa brasileira também relatou
que um segundo pacote de joias, composto por um relógio, uma caneta e botões de
punho, também da marca Chopard, conseguiu passar os controlos alfandegários e
chegar a Bolsonaro, sendo esse o pacote que o tribunal exige agora que seja
devolvido.
A troca de
presentes é uma tradição na diplomacia e nas relações internacionais, acontecendo com objectos
respeitantes à cultura de cada país, mas os países árabes costumam oferecer
presentes de ouro, diamantes, rubis e outras pedras preciosas, quando são fortes
as relações com os países. Não é o caso do Brasil e, por isso, há fortes
suspeitas de corrupção e que haja interesses obscuros nas ofertas feitas aos
Bolsonaros.
Em Portugal, o
presidente Eanes foi exemplar nessas e em outras questões. Tratou de juntar os presentes que recebeu durante
os seus mandatos (1976-1986) e expô-los publicamente porque eram pertença do
Estado Português, daí vindo a nascer o Museu da Presidência da República, que
foi inaugurado em 2004. No Brasil o
comportamento de Jair Bolsonaro foi impróprio, indigno e desonesto, em
contraste com o exemplo de seriedade de António Ramalho Eanes em Portugal.