Num exercício de
cegueira política e de chocante insensibilidade social, o governo decidiu
atacar uma vez mais aqueles que constituem a camada mais débil da nossa
sociedade e, com um ar triunfante, anuncia as medidas tomadas. Não foi isso que
prometeram em campanha eleitoral. Mentiram. Não merecem o nosso respeito!
Com mais esta
violência vão arranjar duas ou três centenas de milhões de euros para reduzir o
défice público em 0,2%, quando o mesmo resultado poderia ser conseguido por
diversas outras vias, desde uma negociação com a troika, até ao corte de uma pequena fatia dos lucros da EDP. Os
antigos ministros Bagão Félix e Ferreira Leite já explicaram como poderia ter
sido evitado este ataque ao bolso e aos direitos dos pensionistas, porque as
pensões não são um subsídio nem um favor. São um direito e resultam da regular entrega
ao Estado de valores que as pessoas retiraram dos seus rendimentos salariais para receberem quando se reformam. O direito à pensão tem uma
legitimidade igual ao direito à propriedade privada e, com estas decisões
governamentais, o Estado está a perder a confiança dos cidadãos. Ao proceder ao confisco das pensões, o Estado deixa de ser uma
pessoa de bem e mostra-se cada vez mais tomado por interesses e por promiscuidades, sem
vontade de corrigir as desigualdades gritantes que atravessam a nossa
sociedade, nem procurar servir o interesse público, nem o bem comum. O Jornal
de Notícias informa hoje que 401.858 pensionistas, dos quais
262.577 pertencentes ao regime da CGA e 139.281 pertencentes ao regime da
Segurança Social, vão ser afectados pela CES (Contribuição Extraordinária de
Solidariedade), que vai passar a ser aplicada às pensões superiores a mil euros.
Não são os mais pobres da sociedade, mas é para a pobreza que esta gente os
quer atirar.