Desde há
alguns dias que estou quase em estado de choque, depois daquela intervenção do
nosso primeiro na inauguração de uma queijaria em Aguiar da Beira, ao branquear
" de forma muito amiga e muito especial" um indivíduo que está ligado às mais negras páginas do nosso passado recente,
com perigosíssimas ligações a interesses libaneses, marroquinos e
portoriquenhos, para além de ser um dos mais destacados rostos do BPN. Trata-se
de alguém que, segundo revelam os jornais, acumulou em poucos anos um património
de muitos milhões, mas que o nosso primeiro apresentou como “um empresário bem
sucedido e que viu muitas coisas por este mundo fora”. Em vez de fazer o elogio do mérito, do esforço
e da seriedade, o nosso primeiro fez o contrário e fez a apologia de quem andou
pela política, a partir da qual criou uma rede de influências poderosas e que “venceu na
vida” à custa de favores, esquemas, heranças e negociatas pouco transparentes,
muitas delas associadas a buracos de muitos milhões que os contribuintes
portugueses estão a pagar, como sucede com a gestão ruinosa e criminalmente
suspeita do BPN. É caso para perguntar ao Passos, se se passou.
O que se passou
naquela queijaria em Aguiar da Beira quando o nosso primeiro fez o elogio de um
tipo de carreira sem princípios de ética nem de responsabilidade social, foi um
insulto para os portugueses de bem, que se esforçam e trabalham e que não
recorrem à política para se servirem. O discurso da queijaria classifica um homem e vai ficar no mais triste historial da política portuguesa.
Realmente, é verdade: estou quase em estado de
choque, porque ainda não quero acreditar que o nosso primeiro quis dizer o que
disse.