O caso de Chipre já fez correr muita tinta e deu origem a todo o tipo de comentários, embora os contornos da realidade sejam muito confusos. Houve ultimatos e muitas incertezas mas, ontem, o Chipre chegou a um acordo com os representantes dos credores internacionais, a nossa conhecida troika - UE, BCE e FMI. O acordo evita, para já, o colapso cipriota com um resgate de dez mil milhões de euros e passa pela reestruturação da banca cipriota, mas também pela criação de uma taxa especial de 30% sobre os depósitos de valor superior a cem mil euros. Com esta medida, a troika encontrou um novo modelo para resgatar os bancos em dificuldades, ao impor as suas perdas não só aos seus accionistas, mas também aos seus depositantes. O senhor Jeroen Dijsselbloem, o líder do Eurogrupo, avançou de imediato com a ideia de que a “receita cipriota” poderia ser aplicada a outros países, como destacou o diário catalão La Vanguardia. Era uma opinião ou uma ameaça, que logo levantou dúvidas sobre se as poupanças dos pequenos aforradores estão seguras nos bancos ou se é melhor colocá-las debaixo do colchão, porque as garantias legais dos depósitos e as garantias políticas repetidamente afirmadas parecem não valer nada. A confiança – base da actividade bancária – desapareceu para sempre ou ficou seriamente abalada. Estamos perante o confisco das poupanças e, com menos poupança, temos menos investimento, menos emprego, mais impostos e menos crescimento económico. Tal como sucedeu nos Estados Unidos em 1929, não só no Chipre mas também noutros países, podem acontecer corridas aos bancos, fuga de depósitos, subidas de juros, falências e perturbações sociais. O grande capital vai agora mover-se para outras paragens, os bancos vão perder liquidez para financiar a economia e tudo isto pode agravar a recessão por que passa a Europa. Há quem diga que é o princípio do fim do euro e da credibilidade da zona euro, mas também que é a confirmação da decadência da velha Europa e de todos os seus sonhos.