Na última década a Grécia gastou mais do que podia, tendo pedido muitos empréstimos num tempo de dinheiro barato e deixado que a sua economia tivesse ficado refém de uma avultada dívida. Os gastos públicos aumentaram descontroladamente e os salários do funcionalismo quase duplicaram. A evasão fiscal atingiu limites insuportáveis e os chamados direitos sociais da população criaram obrigações insustentáveis. A ganância dos financiadores internacionais foi cega. Os gregos deslumbraram-se. Quando chegou a crise global de crédito de 2009 e os credores despertaram, o défice orçamental grego era de 13,6% do PIB e a sua dívida era de cerca de 300 mil milhões de euros, isto é, mais do dobro do seu PIB.
Perante este quadro, surgiu um plano de ajuda externa que incluiu a participação de países da zona do euro e do FMI, que disponibilizaram um empréstimo de cerca de 110 mil milhões de euros para ultrapassar a situação. Foram impostas severas medidas de austeridade no país, mas a reacção a essas medidas traduziu-se em greves, manifestações violentas e numa enorme tensão política e social. A situação agravou-se e não foram cumpridas as metas de redução do défice previstas para 2010, tornando-se claro que com três anos de recessão e um desemprego da ordem dos 16%, a Grécia não conseguiria inverter a sua situação quase dramática. Os credores estão cépticos e os juros já passam os 30%. Como abutres esfomeados, os credores apertam o cerco. O caos financeiro e social já é uma realidade.
A hipótese da bancarrota está à vista e teme-se que a eventual queda da Grécia possa ter um efeito dominó, sobretudo na Europa do Sul. Por isso, os 17 países da Eurozona estão a debater a possibilidade de conceder um segundo pacote de ajuda à Grécia, que poderá ascender a 90 mil milhões de euros, para cobrir as necessidades de financiamento do país até 2014.
E qual é o perigo de contágio? E se a Grécia entrar em incumprimento? E qual é o futuro do euro? E nós vamos ter juízo? Não faltam especialistas e entendidos a dar palpites.
Em 1872, já lá vão 139 anos, sem que tivesse acesso às estatísticas do Eurostat, Eça de Queirós escreveu em “As Farpas”:
“…Nós estamos num estado comparável sómente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento de carácteres, mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal..”