sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

A agonia de Alepo é a derrota americana

Há um imenso drama que está a ser vivido na cidade síria de Alepo, a que o diário ABC dedica hoje a sua primeira página. A cidade agoniza e as forças rebeldes que a dominaram durante quatro anos, estão agora cercadas pelas forças governamentais, depois de algumas semanas de duros combates. Alguns jornais internacionais dizem mesmo que “a batalha por Alepo parece estar a aproximar-se do fim” e que na próxima semana “as forças do regime de Bashar Al-Assad poderão declarar vitória”. Porém, é preciso muito cuidado na apreciação das notícias que nos chegam da Síria, pois elas parece estarem ao serviço das várias propagandas ao tratarem uns beligerantes como bons e outros como maus, quando na realidade todos eles são maus. A guerra é a guerra. Sempre foi assim.
Se acontecer a queda de Alepo, será a pior derrota das forças rebeldes que ficarão reduzidas a alguns redutos disseminados pelo território sírio e, portanto, demasiado vulneráveis e mais à mercê do regime sírio, até porque Bashar al-Assad já declarou que a tomada de Alepo não significará o fim da guerra. Contudo, será uma humilhação e uma grande derrota para a estratégia americana e dos seus aliados franceses e ingleses que, na sua obstinação pelo derrube de Bashar al-Assad, financiaram, armaram e conduziram a oposição síria para a derrota que se aproxima. Quem poderá afirmar que o envolvimento desta "coligação de interesses" não resultou da pressão das respectivas indústrias de armamento?
Entretanto, haverá cerca de 150 mil civis encurralados com as forças rebeldes que precisam de ajuda humanitária com urgência. Essa situação é um bom pretexto para que cessem os combates. Depois de tanto terem conversado nos últimos anos, John Kerry, o secretário de Estado americano, e Sergei Lavrov, o chefe da diplomacia russa, estarão agora em contacto permanente para encontrar uma solução para os problemas da ajuda humanitária, da evacuação de doentes e, de uma forma mais geral, para acabar com a guerra. Porém, agora Kerry é um homem derrotado, enquanto Lavrov se pode sentar à mesa como um vencedor. Os erros pagam-se.