O futebol está de
volta por todo o lado. É um momento muito entusiasmante para quem gosta
daqueles noventa minutos de emoção, de fantasia e de arte, de golos e de
penaltis, de passes e de fintas, de bolas na trave e de foras de jogo, mas
também das trivelas do Quaresma e das cabeçadas do Ronaldo. Porém, com esse
desejado regresso, também está a chegar a matilha que vive dos aspectos
marginais do futebol e que acha que tudo aquilo é a coisa mais importante do
mundo.
Assustados com o covid-19, ainda há um mês endeusavam a
linha da frente da saúde pública, mas essa atitude passou-lhes depressa. Nas
televisões e nas rádios estão a reaparecer os espaços noticiosos e de
comentário com as notícias sem interesse nenhum sobre a face mais ridícula do
futebol, bem como as discussões estéreis dos comentadores encartados. É
chocante verificar o assalto que, por dentro e por fora, essa gente está a fazer
à comunicação social, onde todos os dias recupera o espaço e o tempo perdidos. É uma
tristeza cultural a forma como, mais uma vez, os canais televisivos e as
estações radiofónicas estão a infectar o espaço público com a marginalidade do
futebol e dos seus negócios. Se não fosse tão triste até dava vontade de rir
tudo o que é dito sobre os treinos dos jogadores, o "trabalho" de ginásio ou de campo, as descrições das entorses
ou das lesões musculares, a incompetência dos árbitros, os off-sides mal assinalados, os defeitos do vídeo-árbitro, os reforços do Famalicão, o novo treinador do
Tondela ou a rivalidade que é necessário alimentar entre Benfica e Porto.
Ainda não saímos
da pandemia do covid-19 e já estamos
a ser invadidos pela pandemia da futebolite.
É assim em Portugal,
o país em que há mais jornais diários ditos desportivos do que jornais de
informação geral. É um caso único no mundo. Isso explica muita coisa, inclusive
as razões porque há tanta gente que vive à custa da indústria do futebol e das
suas negociatas, bem como da promiscuidade entre a política, os negócios e o futebol.