A imprensa
portuguesa dá hoje grande destaque à banca e aos seus resultados do 1º semestre
de 2023, com o Diário de Notícias a anunciar que os cinco maiores bancos a operar em Portugal - CGD, Millennium
BCP, Novo Banco, Santander e BPI – tiveram um resultado líquido consolidado de
1,9 mil milhões de euros nos primeiros seis meses do ano, o que significa que
desde Janeiro e até Junho, lucraram cerca de 11 milhões de euros por dia, o
que, comparando com o igual período de 2022, reflecte uma melhoria de quase
60%. A banca costuma exibir-se com indicadores incompreensíveis para as
pessoas comuns. Sempre foi assim, como nos
lembramos dos tempos negros de Ricardo Salgado, Oliveira e Costa, Jardim
Gonçalves ou João Rendeiro, parecendo agora que os tempos da euforia
regressaram, como se vê por esta obscena apresentação de um lucro de cerca de
11 milhões de euros por dia.
Estes números nem sequer demonstram capacidade de gestão ou um papel
relevante no apoio à economia produtiva, mas apenas uma enorme falta de escrúpulos
da banca, pois resultam do agravamento das prestações pagas aos bancos pelos
seus clientes, sobretudo através da armadilha do crédito à habitação, conjugada
com a ridícula remuneração que a banca paga às poupanças dos depositantes. Daí
que os seus lucros obscenos resultem, essencialmente, da diferença obtida entre
os juros cobrados nos empréstimos e os juros pagos nos depósitos, mas também
da habilidade recente de cobrar mensalmente uma verba pela manutenção das
contas dos depositantes, que tem todas as características de um serviço não
prestado e não ser mais do que um assalto ao bolso dos depositantes. Recordo
aqui o Poemarma de Manuel Alegre,
escrito em 1964:
Que o poema
assalte esta desordem ordenada
que chegue ao banco e grite: abaixo a pança!
Há dias, o Presidente da República pediu à banca “um esforçozinho” para pagar melhor os depósitos, mas a correcção desta imoral situação não se faz dessa maneira.