sábado, 29 de julho de 2023

Os lucros da banca são uma obscenidade

A imprensa portuguesa dá hoje grande destaque à banca e aos seus resultados do 1º semestre de 2023, com o Diário de Notícias a anunciar que os cinco maiores bancos a operar em Portugal - CGD, Millennium BCP, Novo Banco, Santander e BPI – tiveram um resultado líquido consolidado de 1,9 mil milhões de euros nos primeiros seis meses do ano, o que significa que desde Janeiro e até Junho, lucraram cerca de 11 milhões de euros por dia, o que, comparando com o igual período de 2022, reflecte uma melhoria de quase 60%. A banca costuma exibir-se com indicadores incompreensíveis para as pessoas comuns. Sempre foi assim, como nos lembramos dos tempos negros de Ricardo Salgado, Oliveira e Costa, Jardim Gonçalves ou João Rendeiro, parecendo agora que os tempos da euforia regressaram, como se vê por esta obscena apresentação de um lucro de cerca de 11 milhões de euros por dia.
Estes números nem sequer demonstram capacidade de gestão ou um papel relevante no apoio à economia produtiva, mas apenas uma enorme falta de escrúpulos da banca, pois resultam do agravamento das prestações pagas aos bancos pelos seus clientes, sobretudo através da armadilha do crédito à habitação, conjugada com a ridícula remuneração que a banca paga às poupanças dos depositantes. Daí que os seus lucros obscenos resultem, essencialmente, da diferença obtida entre os juros cobrados nos empréstimos e os juros pagos nos depósitos, mas também da habilidade recente de cobrar mensalmente uma verba pela manutenção das contas dos depositantes, que tem todas as características de um serviço não prestado e não ser mais do que um assalto ao bolso dos depositantes. Recordo aqui o Poemarma de Manuel Alegre, escrito em 1964:

    Que o poema assalte esta desordem ordenada
    que chegue ao banco e grite: abaixo a pança!

Há dias, o Presidente da República pediu à banca “um esforçozinho” para pagar melhor os depósitos, mas a correcção desta imoral situação não se faz dessa maneira.