Nas guerras
modernas como aquela que está a devastar a Ucrânia, são decisivos os papéis
desempenhados pela propaganda e pela contrainformação, não só para mobilizar
as populações e os combatentes, mas também para agitar as opiniões públicas
internacionais e para assegurar apoios políticos ou militares de governos
estrangeiros.
Por isso, quando
se está a cerca de 3.500 quilómetros de Kiev e sem a pressão emocional e directa
da tragédia, é normal que haja muita desconfiança quanto às notícias que nos
chegam, pois incluem distorções e mentiras que se repetem nas televisões e nas
redes sociais, adquirindo por vezes o estatuto de notícias verdadeiras. Dessa
forma, pouco sabemos sobre o que realmente se passa na Ucrânia, embora saibamos
do drama dos refugiados, da enorme destruição nas cidades e da corajosa
resistência popular ucraniana. Desconhecemos, também, se há envolvimento de
forças estrangeiras nos combates, quais são e de quem são os avanços e os recuos e, ainda, qual é o real andamento das negociações para
um cessar-fogo cada vez mais urgente.
Porém, a retirada
russa dos arredores de Kiev veio permitir a divulgação de imagens captadas em Bucha,
nos arredores da capital, em que se vêm centenas de cadáveres de civis,
aparentemente executados pelas tropas russas. Essas imagens aparentam ser
verdadeiras e estão a gerar grande indignação internacional, com o regime de
Putin a ser acusado de genocídio. Há suspeitas de torturas e de massacres. Há fortes
indícios de crimes de guerra a lembrar My Lai (1968), Wiriyamu (1972) e
Srebenica (1995), mas também pode haver alguma encenação para incriminar os
russos. A exigência de uma investigação independente que foi reivindicada pelas
Nações Unidas é absolutamente necessária para conhecer a verdade.
Nas suas edições
de hoje a imprensa internacional faz eco da horrível situação que foi
encontrada em Bucha e o jornal francês Libération usa a palavra barbárie para a descrever. Quanto tempo
irá decorrer até que saibamos a verdade sobre a trágica realidade encontrada em
Bucha?