sábado, 6 de setembro de 2014

Viva o Tribunal de Aveiro!

O processo Face Oculta que agora chegou ao fim com a leitura do respectivo acordão, começou a ser julgado há quase três anos e está relacionado com uma rede de corrupção que teria como objetivo o favorecimento de um grupo empresarial da região de Aveiro, nos negócios com empresas do sector empresarial do Estado e com empresas privadas.
O acordão foi considerado histórico porque a sentença do Tribunal de Aveiro condenou os 36 arguidos por centenas de crimes de associação criminosa, corrupção, tráfico de influência, furto qualificado, branqueamento de capitais, falsificação e perturbação de arrematação pública, com penas de muitos anos de prisão efectiva para muitos deles. Era uma autêntica rede de associação criminosa e entre os condenados encontram-se figuras bem conhecidas da opinião pública e até alguns antigos governantes, pelo que esta decisão é singular e inesperada. Cumpriu-se a lei e talvez até se tivesse ido para além do razoável.
Desde há muitos anos que a corrupção é um grave problema em Portugal e é sabido como há demasiadas relações de promiscuidade entre a política e os negócios. São tantas as evidências de casos de enriquecimento ilícito e de tráfico de influências que até tendem a parecer normais, pois florescem perante a crescente indiferença dos cidadãos que deixaram de confiar na justiça e da passividade de uma imprensa que se acomodou. Por isso, a sentença do Tribunal de Aveiro pode marcar um novo ciclo do primado da lei e do fim da impunidade daqueles que, desonestamente e sem pudor, minam os alicerces da nossa sociedade. Porém, o nosso aplauso pela corajosa decisão do colectivo do Tribunal de Aveiro, ainda não é definitivo. Os famosos recursos irão aparecer e esta decisão parece ser apenas um bom começo de uma caminhada em que ninguém tem a certeza de haver igual coragem por parte das outras instância judiciais que virão a analisar o processo. Porém, até lá, que viva o Tribunal de Aveiro!

Há gente para tudo!

Numa interessantíssima e esclarecedora entrevista ao jornal i, um antigo administrador do antigo BES veio mostrar a verdadeira face dos serventuários do poder, isto é, daqueles que não têm espinal medula e tudo aceitam a troco de um punhado de lentilhas e que, até no plano ético, se limitam a esconder-se atrás do mais forte e não atrás das suas ideias e dos seus ideais. Para este tipo de gente, a palavra carácter não existe, nem tão pouco a palavra coragem, nem a palavra pudor e nem sequer dignidade. Não têm vergonha nenhuma.
Referindo-se ao BES, o entrevistado veio dizer-nos que “os administradores não executivos são verdadeiros verbos de encher” e que, em seis anos, entrou “mudo e saiu calado”, o mesmo acontecendo com todos os administradores. Eu fiquei estupefacto, não porque o homem entrasse mudo e saísse calado, mas tão só porque aceitou esse papel durante seis anos sem pestanejar, sem indignar e sem se demitir, apenas porque isso lhe dava algum rendimento e influência. É preciso não ter coluna vertebral!
Ao ler isto e outras declarações bombásticas, como aquela referência ao transporte de uma mala com dinheiro para um partido político, ficamos com a verdadeira estatura do figurão e a conhecer o tipo de serviços a que já se prestara e que, certamente, também poderia prestar no BES. De resto, é lamentável a forma como se encosta a toda a classe política dominante e como engraxa e se humilha perante aqueles que têm poder em Portugal, desde Cavaco a Costa, passando por Marcelo e Gaspar, que são tão diferentes. É mesmo de quem não tem coluna vertebral. O figurão de apelido Matos é, por isso, um travesti político pronto para fazer todos os papéis desde que lhe paguem. Infelizmente para nós, parece que o país está cheio de Matos destes… Há, realmente, gente para tudo!