domingo, 28 de janeiro de 2024

Bens culturais e as releituras da História

As eleições parlamentares espanholas de 23 de julho deram a vitória ao PP de Alberto Núñez Feijóo, mas foi o PSOE de Pedro Sánchez que veio a ser investido como primeiro-ministro por ter conseguido formar uma coligação maioritária com a plataforma de esquerda Somar, a que se associaram os independentistas e os nacionalistas. Esta solução é muito controversa por incluir ou ter o apoio dos separatistas catalães, mas dela resultou um governo que tomou posse no dia 21 de novembro e tem sido muito criticado por juntar gente de bem diferentes ideologias.
Esse governo de 22 ministros inclui Ernest Urtasun, que é o ministro da Cultura e que foi indicado pela plataforma Somar, o qual se apresenta com um programa audacioso. Assim, já tratou de ordenar que os 17 museus nacionais que são tutelados pelo governo espanhol, revejam as suas colecções e adaptem a sua programação a uma narrativa que permita “superar um enquadramento colonial ou enraizado em hábitos etnocêntricos que tantas vezes prejudicaram a forma como se vê o património, a história e as heranças artísticas”. Porém, associado a esta “nova leitura” do património museológico espanhol, também está a questão da restituição de bens culturais às antigas colónias, que é um assunto sensível e que vem preocupando vários países europeus.
Na sua edição de Sevilha, o jornal ABC trata hoje deste assunto, designa-o como o “Plan de descolonización del Gobierno” e inclui vários depoimentos em defesa de uma das 17 instituições-alvo: o famoso e emblemático Archivo General de Indias. Este arquivo está instalado em Sevilha e foi criado em 1785 para centralizar e organizar a vasta quantidade de documentação relativa ao império colonial espanhol. Em 1987 o Archivo de Indias, a Catedral e o Alcazar de Sevilha foram inscritos na World Heritage List da Unesco e, segundo alguns especialistas, esta classificação não autoriza o ministro Ernest Urtasun a tomar quaisquer medidas em relação ao mais importante arquivo histórico espanhol.
Porém, este assunto vai ter desenvolvimentos e não deixará de chegar a Portugal.