sábado, 5 de fevereiro de 2022

Uma aliança russo-chinesa que é um aviso

Vladimir Putin foi a Pequim para assistir à inauguração dos Jogos Olímpicos de Inverno e encontrou-se com o seu homónimo chinês Xi Jinping, daí resultando um abundante noticiário e uma forte mensagem de unidade russo-chinesa, veiculadas pela imprensa internacional.
Na sua edição de hoje o jornal espanhol La Vanguardia destaca que “China y Rusia se alían para hacer frente al poder de EE.UU.”, instando os americanos a travar a expansão da NATO e a dissolver a aliança militar do Indo-Pacífico”, enquanto o jornal El País salienta que os dois países “frente al enimigo común, [mostraram] una elocuente exhibición de unidad”. Do outro lado do Atlântico, também o jornal brasileiro Estado de S.Paulo destacou em título de primeira página que “Putin e Xi decidem selar aliança contra Otan e EUA”. Os mais influentes jornais americanos noticiaram a abertura dos Jogos Olímpicos e, quase em tom de aviso, escreveram em títulos de primeira página: “a show of strength and unity” (The Washington Post), “Putin, Xi unite in challenge to U.S.” (The Wall Street Journal) e “China shows it has arrived” (Houston Chronicle).
Este encontro entre Xi e Putin reforçou a aliança russo-chinesa e traduziu-se no apoio chinês às posições russas sobre a Ucrânia e sobre o alargamento da Nato, mas também no apoio russo às teses chinesas sobre Taiwan e de contestação à aliança estratégica designada por AUKUS.
Bom seria que os falcões da Nato ouvissem os líderes moderados europeus e que se contivessem no discurso e no envio de material militar para a Ucrânia, por vezes a parecer criar um pretexto para uma intervenção russa. Que os nossos comentadores geopolíticos se desencostem. 
Quem semeia ventos pode colher tempestades. O assunto é sério e cabe aqui perguntar uma vez mais: quem provoca quem?

Os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim

A cerimónia inaugural dos XXIV Jogos Olímpicos de Inverno realizou-se ontem no Estádio Nacional de Pequim, conhecido desde 2008 como o Ninho de Pássaro, tendo o presidente chinês Xi Jinping feito a tradicional declaração solene de abertura. Nesta edição vão participar 2900 atletas representando 91 países, entre os quais Portugal, que embora não tenha qualquer tradição nos desportos de inverno, se fará representar por três atletas, certamente imbuídos do verdadeiro espírito olímpico.
Os Jogos Olímpicos deveriam ser a festa maior do desporto mundial, mas são cada vez mais sujeitos a incidências que os afastam do espírito com que foram recriados em 1896 pelo barão Pierre du Coubertin e que se traduz na frase “o importante é competir”.
As disputas políticas entram frequentemente nos Jogos e, assim acontece agora em Pequim, com boicotes diplomáticos e com algumas acusações ao governo chinês por suposta violação de direitos humanos nos seus territórios. Foram os Estados Unidos que no dia 6 de Dezembro anunciaram um boicote diplomático aos Jogos, declarando que não enviariam qualquer representante oficial à China como forma de protesto. Dois dias depois, a Austrália, o Canadá e o Reino Unido solidarizaram-se com a posição americana, a que se seguiram a Bélgica, a Dinamarca, a Lituânia e o Kosovo, enquanto o Japão se aproximou desta posição. Três outros países – a Nova Zelândia, a Suécia e os Países Baixos – invocaram a pandemia do covid-19 para não enviar qualquer representante diplomático à China.
Estes boicotes de natureza política são lamentáveis e não acontecem pela primeira vez. Entretanto, Pequim torna-se a primeira cidade que recebe tanto os Jogos Olímpicos de Verão como os de Inverno, embora tenha sido necessário produzir neve artificial para satisfazer todos os requisitos das diferentes modalidades.