Marcelo Rebelo de Sousa falou ontem ao país a partir da Câmara Municipal de
Oliveira do Hospital e, visivelmente emocionado, prestou homenagem às vítimas
dos incêndios do passado domingo e avisou que é preciso “abrir um novo ciclo” e que isso
“inevitavelmente obrigará o governo a ponderar o quê, quem, como e quando
melhor serve esse ciclo”.
Se num discurso
conta a forma e o conteúdo da mensagem, o Presidente da República acertou nessas duas
dimensões, pois levou uma palavra de conforto aos que dela precisavam, deu
alento aos que suportaram o terror das chamas e deu um enorme safanão nos
políticos em geral e, em especial, naqueles que estão no governo. Com as suas palavras
e as suas atitudes e perante a tragédia que nos enlutou, Marcelo Rebelo de
Sousa revelou uma grandeza que nos conforta e nos faz ter esperança em tempos
melhores.
Antes, quando o país ainda ardia e as televisões nos mostravam a dimensão
catastrófica daquele dia terrível, o primeiro-ministro António Costa falara ao
país para anunciar que “no dia de ontem deflagraram 523 incêndios e no dia de
hoje deflagraram mais 199” ,
acrescentando que “o país tem de estar consciente que a situação que estamos a
viver vai seguramente prolongar-se para os próximos anos”. Embora o seu
discurso tenha sido formalmente correcto e tenha dito que era um momento de
luto e de ter manifestado condolências às famílias das vítimas, ter agradecido a
todos, ter prometido solidariedade e ter assegurado que sentia a angústia e a aflição
vivida nas últimas horas por muitos portugueses, o seu discurso foi frio e sem
qualquer sinal de emoção, não conseguindo dar ânimo nem confiança aos portugueses e
quase os repreendendo pelo que acontecera.
Todos os jornais destacaram a eloquente fotografía e as expressivas palavras de Marcelo, num
inequívoco apoio ao comportamento presidencial, enquanto as críticas a
Costa vieram de todos os sectores da sociedade.
Nesta calamidade que têm sido os incêndios florestais, com tantas mortes e
tanta destruição de património, Marcelo e Costa estiveram em patamares bem
diferentes, revelaram emoções diferentes e isso vai ter consequências. Os
tempos que aí vêm não vão ser fáceis.