quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Marcelo e Costa com emoções diferentes

Marcelo Rebelo de Sousa falou ontem ao país a partir da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital e, visivelmente emocionado, prestou homenagem às vítimas dos incêndios do passado domingo e avisou que é preciso “abrir um novo ciclo” e que isso “inevitavelmente obrigará o governo a ponderar o quê, quem, como e quando melhor serve esse ciclo”.
Se num discurso conta a forma e o conteúdo da mensagem, o Presidente da República acertou nessas duas dimensões, pois levou uma palavra de conforto aos que dela precisavam, deu alento aos que suportaram o terror das chamas e deu um enorme safanão nos políticos em geral e, em especial, naqueles que estão no governo. Com as suas palavras e as suas atitudes e perante a tragédia que nos enlutou, Marcelo Rebelo de Sousa revelou uma grandeza que nos conforta e nos faz ter esperança em tempos melhores.
Antes, quando o país ainda ardia e as televisões nos mostravam a dimensão catastrófica daquele dia terrível, o primeiro-ministro António Costa falara ao país para anunciar que “no dia de ontem deflagraram 523 incêndios e no dia de hoje deflagraram mais 199”, acrescentando que “o país tem de estar consciente que a situação que estamos a viver vai seguramente prolongar-se para os próximos anos”. Embora o seu discurso tenha sido formalmente correcto e tenha dito que era um momento de luto e de ter manifestado condolências às famílias das vítimas, ter agradecido a todos, ter prometido solidariedade e ter assegurado que sentia a angústia e a aflição vivida nas últimas horas por muitos portugueses, o seu discurso foi frio e sem qualquer sinal de emoção, não conseguindo dar ânimo nem confiança aos portugueses e quase os repreendendo pelo que acontecera.
Todos os jornais destacaram a eloquente fotografía e as expressivas palavras de Marcelo, num inequívoco apoio ao comportamento presidencial, enquanto as críticas a Costa vieram de todos os sectores da sociedade.
Nesta calamidade que têm sido os incêndios florestais, com tantas mortes e tanta destruição de património, Marcelo e Costa estiveram em patamares bem diferentes, revelaram emoções diferentes e isso vai ter consequências. Os tempos que aí vêm não vão ser fáceis.