terça-feira, 12 de junho de 2018

Afinal o Donald e o Kim são bons amigos

A diferença horária entre Singapura e os Estados Unidos é de 12 horas e, por isso, os matutinos americanos já aparecem com a notícia do encontro entre Donald Trump e Kim Jong-un, que se está a realizar no Hotel Capella, na ilha de Sentosa. Tudo parece estar a correr bem e o encontro teve direito a aperto de mão muito afectuoso, largos sorrisos, elogios mútuos e à assinatura de um primeiro documento comum, no qual ambos os países se comprometem a estabelecer relações de acordo com a vontade dos seus povos no caminho da paz e da prosperidade e a trabalhar na direcção da completa desnuclearização da península coreana.
Para além deste documento, são por agora muito escassas as declarações produzidas, até porque é a primeira vez que os líderes dos Estados Unidos e da Coreia do Norte se encontram, além de que o tema é complexo e há que digerir as inúmeras e mútuas provocações e insultos que cada um fez ao outro nos últimos meses.
Porém, o primeiro passo está dado e o mundo até parece que passou a respirar melhor.
As conversações prosseguem, mas os primeiros relatos descrevem um ambiente descontraído e sugerem que o Donald não deixará de convidar o Kim para visitar a Casa Branca. Quem se lembrará do que há tempos disse o Donald ao afirmar que "o homem-foguete tem uma missão suicida para si próprio e para o regime", ou tenha presente a resposta do Kim que lhe chamou "trapaceiro e criminoso" e "senil americano mentalmente perturbado"? Ou quem recordará a história dos botões nucleares que cada um tem em cima da sua secretária pronto a ser accionado?
Essas coisas esquecem-se depressa e, aparentemente, vamos assistir a mais encontros amistosos entre o Donald e o Kim, dois fanfarrões encartados. Que seja para uma nova era de paz na península da Coreia e no mundo, embora o passado político recente destes indivíduos seja pouco confiável.

Os refugiados abalam a coesão europeia

No passado sábado foram resgatadas 629 migrantes que faziam a travessia do Mediterrâneo, em seis operações nas quais participaram unidades da ilha de Lampedusa, três navios mercantes e a ONG SOS Mediterrâneo. Essas pessoas foram recolhidas no Aquarius, um pequeno navio registado em França e que pertence àquela organização não governamental. Porém, as autoridades italianas proibiram o navio de atracar num porto italiano e pediram a Malta que recebesse esses migrantes porque o navio estava mais próximo de Malta do que da costa italiana, mas o governo de Malta recusou e atribuiu essa responsabilidade aos italianos. Estava criado um impasse, com dois estados-membros da União Europeia a recusarem o auxílio humanitário a que os obriga a lei internacional e a terem um comportamente absolutamente desumano e contrário à política da União Europeia, por deixarem à deriva um navio numa situação muito precária.
Porém, ontem o impasse foi desbloqueado quando Pedro Sánchez, o primeiro-ministro espanhol, se ofereceu ontem para que o navio fosse acolhido no porto de Valência. Os chefes de governo de Itália, Giuseppe Conte, e de Malta, Joseph Muscat, agradeceram o gesto espanhol, enquanto Matteo Salvini, que é o ministro do Interior de Itália e que também é o líder do partido nacionalista e xenófogo Liga Norte, gritou “vitória” e “objectivo alcançado”, declarando que “salvar vidas é um dever, mas transformar a Itália num enorme campo de refugiados, não”.
Os jornais espanhóis, como por exemplo o ABC, tratam hoje este assunto com fortes elogios ao seu novo primeiro-ministro. O facto é que, a somar a muitos outros problemas que atravessam a Europa e a sua coesão, o caso do Aquarius e as declarações xenófobas de Salvini vieram lembrar que o problema dos refugiados continua por resolver.