quinta-feira, 5 de abril de 2018

Os tempos difíceis por que passa o Brasil

O plenário do Supremo Tribunal Federal do Brasil (STF) decidiu ontem rejeitar por 6 votos contra 5, o pedido de habeas corpus preventivo que havia sido apresentado pela defesa do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, que tinha sido condenado a 12 anos e um mês de prisão na segunda instância, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
Segundo se depreende da leitura da imprensa brasileira, o processo de Lula tem tanto de jurídico como de político, estando a suscitar muitas emoções e a dividir o Brasil. Para uma parte da sociedade brasileira a Justiça deve ser igual para todos e Lula terá de cumprir na prisão a pena a que foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro mas, para a outra parte da sociedade, o ex-presidente Lula é um ídolo que tirou milhões de brasileiros da pobreza, que prestigiou internacionalmente o Brasil e que está à frente das sondagens para as eleições presidenciais de Outubro.
O mais provável é que num país onde a corrupção dos políticos é muito elevada e a ordem pública está ameaçada, aconteça o paradoxo político de um ex-Presidente da República ir para a prisão por um delito menor no contexto da Operação Lava Jato, enquanto a grande criminalidade e os mais notados casos de corrupção parecem ficar impunes. O Brasil está a viver um processo de judicialização da política que é demasiado perigoso para os valores democráticos.
O jornal argentino Página/12 anteviu essa decisão do STF e, na primeira página da sua edição de anteontem, escreveu “golpe dentro do golpe”, significando que depois da destituição de Dilma Rousseff, o establishment brasileiro pressiona na Justiça e nos media para completar a operação de afastamento de Lula da Silva e dos seus aliados, com o chefe do Exército a pronunciar-se contra a impunidade e um outro general reformado a ameaçar com um golpe se Lula não for preso.
Os tempos vão difíceis para o Brasil e é necessária muita prudência para que as paixões pro-Lula e anti-Lula não se confrontem e o país possa viver em ordem e progresso, como está escrito na sua bandeira nacional.

Uma nova solução para a guerra da Síria

Os líderes das potências mais envolvidas na guerra da Síria - Vladimir Putin, Recep  Erdogan e Hassan Rouhani - reuniram-se ontem em Ancara para tentar encontrar pontos de convergência em relação aos seus diferentes interesses regionais e para decidir quanto a uma solução para a guerra, num encontro que assinala a derrota dos americanos e dos seus aliados que tanto apoiaram a revolta contra Bashar al-Assad e, também, a afirmação dos poderes russo, turco e iraniano naquela região do Médio Oriente.
O combate ao Daesh era a prioridade de todos e foi bem sucedido, mas em relação a Bashar al-Assad continua a haver muitas divergências, pelo que os interesses de cada um dos países que se reuniram podem confrontar-se. A Rússia e o Irão continuam a suportar o regime sírio que quer derrotar os rebeldes apoiados pela Turquia, enquanto a mesma Turquia quer derrotar os curdos que são apoiados pelos americanos. Todos estes interesses correm o risco de entrar em choque e, por isso, os amigos (Rússia e Irão) e os inimigos (Turquia) de Bashar al-Assad sentaram-se à mesma mesa, quase ressuscitando o encontro de Fevereiro de 1945 em Yalta, no qual Roosevelt, Stalin e Churchill acordaram estratégias e zonas de influência. Naturalmente, a Rússia domina e procura articular todos estes interesses entre países que não se entendem, não só da Síria e do Irão, mas também da Turquia que, apesar de ser membro da NATO, tem estreita cooperação com os russos que acabam de construir e inaugurar uma poderosa central nuclear na costa turca.
O jornal The Independent publicou a fotografia de Putin, Erdogan e Rouhani que tem o simbolismo de mostrar quem manda naquela região e de atestar que os americanos perderam a batalha da Síria.